Os médicos especializados em anestesiologia e medicina intensiva do Instituto Médico Legal (IML) se declararam suspeitos para periciar os prontuários das sete mortes que, supostamente, foram cometidos por Virgínia Soares de Souza e outros seis ex-funcionários do Hospital Evangélico de Curitiba. Um oitavo réu é acusado somente de formação de quadrilha. As antecipações de morte na Unidade de Terapia Intensiva daquele hospital teriam ocorrido entre 2006 e janeiro do ano passado.
A reportagem teve acesso a informações dos autos que indicam que médicos do IML alegaram ter amizade com Virgínia. Outros argumentaram ter trabalhado no Hospital Evangélico. O IML teria aproximadamente dez especialistas em anestesiologia e medicina intensiva. Esses médicos seriam indicados para realizar a perícia nos prontuários. É a segunda vez que o trabalho de perícia do caso passa por um obstáculo. A primeira ocorreu no mês passado, quando a Procuradoria Geral do Estado (PGE) se negou a pagar R$ 220 mil por uma perícia solicitada pela 2.ª Vara do Júri de Curitiba, responsável pelo caso. Quando essas análises técnicas são solicitadas pelo juiz do caso, cabe ao estado arcar com as custas.
As declarações de suspeição dos médicos do IML foram feitas após uma consulta do Ministério Público do Paraná (MPPR) sobre as condições técnicas da instituição. A promotoria encarregada do caso quis saber se, em caso de necessidade, os médicos teriam condições técnicas de realizar a perícia. Em resposta, o IML afirmou que havia condições, mas os médicos especialistas não fariam por se declararem suspeitos.
Apesar da negativa, a reportagem apurou que o caso não deve ficar sem a perícia. Há algumas saídas ainda, como solicitar a IMLs de outros estados ou procurar outros peritos particulares. O próximo passo dependerá de uma nova avaliação do juíz da 2ª Vara do Júri de Curitiba, Daniel Ribeiro Surdi de Avelar.
Defesa
Para o advogado da médica Virgínia, Elias Mattar Assad, a declaração de suspeição dos médicos não altera a defesa de sua cliente. Segundo ele, a instituição IML não pode se declarar suspeita e há muitos médicos que podem fazer a perícia. "Vou insistir que o IML faça a perícia", disse o advogado. Ele sustenta que a única pergunta que a defesa quer fazer é se há prova de cometimento de crime nas leituras dos prontuários. "Faço um apelo à direção do IML para que realizem os exames. Que cumpram a sua missão institucional", pediu Assad. Ele ressaltou que não se trata de uma perícia complexa, mas sim de uma releitura de prontuários e confrontos com protocolos nacionais de medicina intensiva e anestesiologia.
Expectativa
Os réus devem ser ouvidos apenas após a perícia, o que deve ocorrer somente em 2015. As audiências com as testemunhas de defesa e acusação terminaram no fim do ano passado. À época, a expectativa era de que até maio de 2014 a perícia já estivesse concluída e os depoimentos dos réus, iniciados.
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