Até a noite desta quarta-feira (25), ao menos 1,3 mil médicos, entre pediatras, infectologistas e de demais especialidades médicas, haviam assinado um manifesto em favor da volta às aulas para crianças. Um grupo independente de profissionais de saúde que se reúnem para discutir casos clínicos está à frente da petição "A ciência pela reabertura das escolas" , também aberta à toda a sociedade civil, e que reúne, ao todo, 2,5 mil assinaturas virtuais. O documento será enviado ao Ministério Público (MP) de São Paulo na forma de petição.
"Nós, pediatras, reconhecendo atentamente o momento complexo em que estamos e a discussão urgente sobre o lugar das crianças e da escola na pandemia, consideramos crucial que algumas informações já consagradas cientificamente sejam bem divulgadas", escrevem os médicos.
O texto cita uma série de artigos científicos que tratam do tema e embasam o argumento de que há segurança em crianças voltarem às atividades escolares. Os médicos, contudo, não falam em faixa etária. Nas redes sociais, pais e educadores criticam a medida.
"O tempo da pandemia já é e seguirá longo. Agora temos que refletir sobre seus impactos a curto, médio e longo prazo. Sejamos justos com a infância e comprometidos com o futuro de todos", afirmam, na petição.
Entre outras recomendações, os médicos indicam que, se seguidas as medidas de prevenção ao coronavírus, "a escola é segura para os professores e funcionários" e não representa local de maior infecção. "A experiência europeia provou enfaticamente isso", dizem.
Abaixo, as principais recomendações contidas no manifesto:
- As crianças se infectam menos do que os adultos, 2 a 5 vezes menos. O risco de se infectar é menor quanto mais jovem a criança.
- São muito raras as complicações nessa faixa etária, representando apenas 0,6% dos óbitos (sendo as crianças 25% da população nacional).
- Para as crianças, a exposição à Covid-19 as coloca em risco muito menor do que a exposição ao vírus influenza. E as escolas não fecham nos surtos de gripe.
- Apesar do que se supôs no início da pandemia, as crianças não são super-spreaders (disseminadores) do vírus.
- A grande maioria das crianças é assintomática ou apresenta sintomas leves, principalmente os mais novos. E, desta forma, transmitem menos.
- As escolas, seguindo os cuidados indicados, não são locais de maior infecção. A experiência europeia provou enfaticamente isso.
- Com as medidas de prevenção, a escola é segura para os professores e funcionários.
- No Brasil e no mundo, as crianças se infectaram mais em casa através dos próprios familiares expostos do que na escola.
- Os impactos do isolamento social prolongado no desenvolvimento infantil e saúde mental são imensos e duradouros. Obesidade, transtornos de ansiedade, transtornos do sono, danos pela exposição excessiva a telas são alguns dos muitos prejuízos.
Base científica
À Gazeta do Povo, a infectologista Luciana Becker Mau, que faz parte do grupo, lembra que os achados científicos da comunidade internacional já indicam o melhor caminho a ser seguido na pandemia.
"Apesar de serem médicos falando, não é nossa opinião pessoal. É um compilado do que a ciência já sabe sobre o assunto, isso é, crianças transmitem menos e se infectam menos. Estamos apenas dando subsídio científico para a tomada de decisões", afirma a especialista. "Não apenas gestores de escolas estavam precisando dessas orientações, mas os pais e a população como um todo estão com receio".
"Nosso objetivo é criar um ambiente escolar seguro para todos. Somos pediatras, mas não queremos saber só da saúde das crianças. O ambiente pode ser seguro tanto para as famílias das crianças, professores e funcionários", diz a médica. "Mas precisamos começar a discutir esse assunto, porque pandemia não vai acabar agora, vai perdurar mais tempo. Isso precisa ser colocado em pauta para que sejam feitas as adaptações necessárias".
Protocolo do MEC lançado outubro vai na mesma linha da petição dos médicos. As diretrizes da pasta foram elaboradas com base em práticas utilizadas pela comunidade internacional, levando em conta medidas de países como Coreia do Sul, Japão, China, Itália, Estados Unidos e Canadá, por exemplo. Também são consideradas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O MEC se ancorou, além disso, em estudos como o Research on Covid-19 in children and in schools, da Unicef, para lembrar que a capacidade de transmissão do vírus por parte das crianças ainda não é assunto pacificado na ciência. Em linhas gerais, porém, as evidências disponíveis apontam para a necessidade de retorno às aulas - em especial por causa dos impactos negativos provocados pelo fechamento de escolas.
"Não há associação direta da reabertura de escolas com o aumento significativo de transmissão comunitária; as evidências atuais indicam que o fechamento de creches e instituições educacionais provavelmente não é uma medida eficaz de controle da transmissão comunitária e não oferece proteção adicional significativa à saúde das crianças, dado que a maioria desenvolve forma muito leve da doença, quando acontece", cita o protocolo.
Procurada, a Sociedade de Pediatria de São Paulo afirmou que "recomenda a volta às aulas presenciais, seguindo-se, claro, todos os protocolos de segurança e higiene para evitar a disseminação do coronavírus". Documento elaborado em agosto pelo grupo indica como positivo o retorno às atividades escolares "tão cedo quanto possível, desde que tomadas as devidas precauções por todos os envolvidos – famílias e instituições de ensino", e traz uma série de orientações sanitárias.
"Cabe entendermos que o desenvolvimento social, neurológico, físico e o aprendizado estão sendo prejudicados com o não retorno às aulas. Ao se sobrepor tal prejuízo aos riscos da doença, será que há justificativas para as escolas continuarem fechadas?", afirmam os especialistas, no protocolo.
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