Capitais
Outras cidades do país também tiveram dificuldade para contratar médicos. Em São Paulo, que conta com 948 equipamentos de saúde, sendo 440 unidades básicas, a solução foi oferecer remunerações diferenciadas para atrair profissionais para as periferias. Em sete anos, a prefeitura aumentou em 68% o número de médicos em sua rede básica, saltando de 8,6 mil em 2004 para 14.491 no ano passado. No Rio de Janeiro, 5.374 médicos atuam nos cerca de 200 postos de saúde mantidos pela prefeitura. Eles são responsáveis pelo atendimento de 2,179 milhões de pessoas que estão incluídas no programa Saúde da Família. O salário médio é de R$ 3,6 mil para 24 horas semanais.
Atendimento
Socorristas "quebram o galho" em unidades de saúde da capital
A falta de médicos em unidades de saúde não causa apenas a demora no atendimento dos pacientes, mas também prejudica o funcionamento de outros aparelhos do sistema público. Relatos de quem está na linha de frente da saúde pública revelam que muitas vezes os profissionais do Samu ou do Siate precisam ser improvisados nas unidades básicas para tratar de pacientes que não têm assistência. Médicos socorristas resistem à prática, porque entendem que isso atrapalha o funcionamento das unidades móveis e o atendimento de outras pessoas que precisam desse serviço.
No último sábado, a reportagem presenciou uma situação desse tipo no CMUM do Boqueirão. Por volta das 16h30, uma ambulância do Samu levou para a ala de emergências um homem com paralisia facial e dificuldades para mexer os membros do lado esquerdo.
Em dez minutos, sem diagnóstico, ele foi novamente posto na ambulância e levado para outra unidade por falta de vagas. Os funcionários dizem que a situação é comum e relatam mal-estar por não poder atender a todos. "Não temos como resolver, isso compete ao poder público. Nós só conseguimos apagar incêndios", disse uma das funcionárias, que não quis se identificar.
Segundo o superintendente especial de gestão da prefeitura, Matheus Chomatas, houve situações isoladas em que um médico do Samu precisou atender pacientes em unidades básicas. Mas a expectativa é de que com a contratação de novos profissionais, a situação seja normalizada. (FT e AS)
Fim da greve
Médicos do Hospital de Clínicas voltam ao trabalho hoje
Em assembleia na manhã de ontem, os médicos servidores federais do Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba decidiram voltar ao trabalho hoje. Nos quatro dias de greve, cerca de 4 mil consultas foram canceladas e dezenas de cirurgias eletivas foram desmarcadas. Cerca de 300 dos 329 profissionais do HC suspenderam o atendimento nesse período.
Eduardo Lourenço, chefe de urgência e emergência do HC, diz que os médicos sabem do transtorno causado e que eles estão preparados para a sobrecarga de trabalho. "Sabemos da importância do hospital no atendimento às pessoas e do impacto que teve a paralisação."
Segundo o Sindicato de Médicos do Paraná (Simepar), a categoria pode voltar a paralisar caso o governo não reveja os artigos da Medida Provisória (MP) n.º 568/12. Eles se reúnem na quarta-feira que vem para deliberar se aderem à greve dos servidores técnico-administrativos do HC, prevista para iniciar no dia 11. "Se o governo não nos der uma resposta satisfatória, tudo é possível. Será uma decisão da maioria", disse Lourenço.
A MP altera o sistema de remuneração dos médicos servidores federais, promovendo um corte de 50% no salário dos profissionais que ingressarem na carreira. De acordo com o reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, o chefe de gabinete da Casa Civil, Carlos Carboni, disse que há espaço para rever a MP e que uma equipe de técnicos do Ministério do Planejamento estuda o assunto.
Da Redação, com Flávia Schiochet, especial para a Gazeta do Povo
Os salários baixos, as más condições de trabalho e a preferência por clínicos gerais têm afastado os médicos do serviço público. A ponto de quase não haver candidatos nos concursos promovidos pelas prefeituras. Essa situação faz com que usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) sofram com uma oferta de médicos inferior à dos pacientes de planos privados. O total de postos de trabalho disponíveis para clientes da rede particular é quatro vezes maior que o número de postos em estabelecimentos públicos. Em contrapartida, a população que depende exclusivamente do SUS é 3,25 vezes maior que a dos planos privados. Os dados são da pesquisa Demografia Médica no Brasil 2011.
O déficit de profissionais na rede pública preocupa as grandes cidades. Em Curitiba, a Secretaria Municipal de Saúde conta com 1.130 médicos, mas atualmente faltam 152 profissionais na rede básica, que tem 105 unidades básicas. Se tudo correr bem, a previsão da pasta é de que até o fim de junho 74 profissionais sejam contratados. Outros devem ser selecionados por meio de um novo concurso público e iniciar os trabalhos até julho.
A falta de interessados em participar dos concursos tem dificultado o preenchimento dessas vagas. Só neste ano, a Fundação Estatal de Atenção em Saúde de Curitiba (Feaes) já publicou oito editais. Um dos processos, que prevê a contratação imediata de 290 médicos generalistas e pediatras, teve as inscrições prorrogadas até hoje. O cronograma inicial previa que o prazo terminaria na sexta-feira passada.
O desinteresse é provocado pela remuneração, que muitos médicos consideram insatisfatória, e pela preferência por generalistas. "O mercado da saúde está muito aquecido e cada vez mais a formação do profissional é por especialidades", diz a secretária de Saúde de Curitiba, Eliane Chomatas. Essa formação muito específica acaba afastando candidatos que não querem trabalhar com programas de saúde da família e funções mais gerais.
A secretária ressalta que, para incentivar mais médicos a optar por seguir nessa carreira, além de uma parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), que fornece uma residência em Saúde da Família, o valor da remuneração passou por reajuste. A partir de julho, os profissionais que atuam na rede básica vão passar a receber entre R$ 3.934,39 (para uma jornada de 20 horas) e R$ 12.065,43 (40 horas no programa Saúde da Família) como remuneração inicial. O montante já contempla as gratificações que são incorporadas ao salário.
Para o presidente do Sindicato dos Médicos no Estado do Paraná (Simepar), Mário Antônio Ferrari, a remuneração atualmente paga está aquém do ideal e não serve para fixar o profissional no serviço público. Porém, a principal insatisfação da categoria está na falta de um plano de carreira específico. "Desde a promulgação da Constituição de 1988, os médicos nutrem esperança de que os governantes criem uma carreira de estado. A falta dessa carreira induz ao desâmino e à falta de perspectivas futuras", argumenta.
É difícil achar algum médico nos postos
Um minuto para quem está com dor é um longo período. Seis horas é uma eternidade. Esse foi o tempo que a filha de Ricardo Castro Vieira, empresário autônomo, esperou para ser atendida no Centro Municipal de Urgências Médicas (CMUM) do bairro Boqueirão. Duas horas apenas para ser avaliada e, no final, a consulta nem aconteceu. Os dois foram embora apenas com um papel declarando que a menina havia passado por consulta médica, mas que a unidade estava atendendo apenas casos de urgência e emergência. No mesmo CMUM, o soldador mecânico Alexandre Biaco esperava por uma consulta havia seis horas e meia. Ele tinha sido picado por uma aranha marrom na noite anterior.
A reportagem visitou os principais centros de urgência de Curitiba durante a última semana. A opinião entre as pessoas entrevistadas nesses locais se repetiu com frequência: os médicos se esforçam para atender bem a população, mas a maior dificuldade é encontrá-los nos postos, tanto em dias úteis como nos fins de semana. Nos CMUMs, o comentário é de que alguns médicos concursados estariam faltando propositalmente sem qualquer justificativa. A Secretaria Municipal de Saúde nega que isso esteja acontecendo e garante que verifica o ponto dos profissionais. Em caso de faltas seguidas sem justificativa, o órgão encaminha um processo de abandono do emprego.
Pacientes periféricos
Outra constatação é a grande presença de pessoas da região metropolitana nos postos de Curitiba. Muitos alegam que a condição das unidades de saúde nas cidades vizinhas é ainda pior. É o caso de Rosaline Proença de Azevedo, autônoma, que mora em Pinhais. Ela diz que vem diretamente para capital quando precisa ser atendida. A prefeitura têm um convênio que prevê que os CMUMs podem reservar até 30% das vagas de atendimento para moradores de outras cidades. No entanto, a rede básica de unidades de saúde é de responsabilidade de cada município.
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