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O assunto está em todo lugar: no noticiário, na fila do supermercado, na mesa do bar e evidentemente nos saguões dos aeroportos. Em menos de um ano, o Brasil parece ter ganhado tantos especialistas em aeronáutica quanto candidatos a técnico de futebol. Todo mundo parece ter um palpite ou comentário a fazer sobre a crise aérea. Tanta exposição parece ter produzido o que os especialistas já estão chamando de um medo coletivo em relação às viagens de avião. Um levantamento feito pelo Centro de Psicologia Especializada em Medos, em Curitiba, mostrou que o medo de voar já é o segundo mais freqüente, ficando atrás apenas do medo de dirigir. Nos últimos dois anos, o número de atendimentos a pessoas com fobia de avião dobrou. Em 2005, as consultas referentes a este tipo de medo representavam 7% do total, em 2006 passou para 10% e no primeiro semestre deste ano já chegou a 15%, ultrapassando a fobia de falar em público.

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Para a psicóloga, coordenadora do centro e autora de um livro sobre fobias, Neuza Corassa, o aumento se deve à popularização das passagens aéreas. Entretanto, ela reconhece que a queda de dois aviões contribuiu para que o medo, que antes poderia ser considerado fruto do imaginário, agora seja visto como real. "É esperado que com toda a repercussão as pessoas estejam mais atentas, mais apreensivas", afirma.

Para o psiquiatra e coordenador do ambulatório de ansiedade do Hospital Nossa Senhora da Luz, André Astet, a super-exposição do assunto acaba contribuindo para a sensibilização das pessoas mais vulneráveis. Segundo ele, o ambiente no qual a pessoa vive, as informações as quais ela tem acesso e as tendências psicológicas que ela possui levam ao surgimento do medo.

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A fobia de avião costuma ser mais freqüente em pessoas que gostam de ter o controle da situação, o que em uma viagem aérea é inviável. "Ela só pode entrar lá e sentar, não tem o controle de nada", explica Neuza. A origem do medo, entretanto, está ligada a diferentes fatores. Um deles é a sensação de claustrofobia, que faz com que o paciente se sinta desconfortável com a idéia de estar em um ambiente fechado. Outro é a chamada agorafobia, caracterizada pelo medo de passar mal em locais em que o socorro não é garantido. A aversão ao vôo pode vir ainda do temor de algum infortúnio ou do chamado transtorno ansioso generalizado, no qual a pessoa tem a noção de risco levada ao extremo. "São pessoas sensíveis às situações de incerteza, para se proteger elas evitam essas situações", afirma Astet. Por isso é possível que mesmo alguém que nunca tenha entrado em um avião tenha medo de voar. A estudante Poliane Rodrigues, 19 anos, sempre teve pavor de avião, mas depois de um mês de tratamento já conseguiu fazer o primeiro vôo. "Estava com um amigo, isso ajudou a me tranqüilizar", conta.

De acordo com o psiquiatra do Hospital de Clínicas Élio Luiz Mauer, o medo de altura também pode influenciar na fobia de voar. "Nunca é um medo sem explicação", ressalta. No caso da arquiteta Ingrid Schwab, é o medo de altura combinado com a sensação de estar presa em um local fechado que causam o desconforto. A cada quinze dias, a arquiteta, que trabalha no Rio de Janeiro, vem a Curitiba para visitar a família. "Apesar de ser um vôo de apenas uma hora, fico tensa durante todo o trajeto", conta.

O jornalista Marlon do Valle também sofre com as viagens de avião há pelo menos 10 anos. Ele conta que nunca se sentiu a vontade, mas que o medo aumentou depois do acidente com um avião da TAM, em São Paulo, em 1996. "Lembro que saiu na capa de uma revista um monte de fotos das vítimas e desde então, sempre que entro em um avião, imagino a foto de todos que estão ali ao meu lado na capa da revista", confessa. Com os acidentes recentes, Marlon se diz ainda mais inseguro. "Meu medo aumentou. Antes eu me preocupava mais na decolagem, pois tinha como exemplo o acidente de 1996. Agora, me preocupo com o pouso e a condição da pista e além disso meu medo seguirá por toda a viagem, pois lembrarei que é possível dois aviões se chocarem no ar, como aconteceu com o da Gol", conta.

Segundo os especialistas, o enfrentamento do medo é parte do tratamento. Na fobia de avião isso pode ser feito aos poucos, colocando a pessoa em situações que a façam viver o mesmo tipo de angústia que sofre estando no avião. "Para os claustrofóbicos dá para treinar no elevador, por exemplo", explica Astet. De acordo com o psiquiatra, o tratamento, que pode ser feito com terapia e medicação, dura em média 4 meses.