Renato Lima é geólogo e professor de Geologia Ambiental da UFPR| Foto: Jaelson Lucas/SMCS

O novo secretário do Meio Am­­biente de Curitiba, Renato Lima, assegura que os princípios da gestão serão transformados desde a base. E destaca que o desenvolvimento sustentável é um dos principais eixos do plano de governo. Os primeiros 100 dias são de diagnóstico e o primeiro ano vai focar a reflexão de todas as atitudes e modelos a serem adotados. "Mas vamos mexendo no avião com ele voando", garante.

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Lima é geólogo, professor de Geologia Ambiental da UFPR e foi um dos fundadores do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente e Desen­­vol­­vimento (Nimad) da mesma instituição. Como coordenador de um livro sobre rios e solos de Curitiba, ele já esteve envolvido com um dos principais desafios que terá de enfrentar: o impasse jurídico na licitação do lixo.

Qual deve ser a marca da gestão?

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A ideia de uma cidade do desenvolvimento sustentável. Imagino que as demais cidades vão se espelhar no que estará sendo feito aqui. O cidadão vai se identificar com essa proposta.

A expressão desenvolvimento sustentável já não está ultrapassada?

O termo foi idealizado pelos principais pensadores do mundo, a pedido da ONU. Cada comunidade deverá criar a sua prática de desenvolvimento sustentável. Discutindo com a cidade, vamos descobrir a nossa fórmula.

Com essa proposta de desenvolvimento sustentável, a secretária subiu um patamar na escala de poder?

Ganhou uma oportunidade. A secretaria vai ser uma das que vai liderar esse processo de mudança. Hoje a reflexão é sobre a estratégia para alterar a direção. A decisão foi tomada pela sociedade quando escolheu essa proposta de governo.

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Essa mudança de rumos deve apresentar os primeiros efeitos quando?

Os primeiros resultados serão mudanças de postura e reflexão. Será um ano de diagnóstico, de avaliação, de capacitação dos agentes. Cada servidor tinha um jeito de fazer e agora vai ter outro.

O que muda no jeito de fazer?

Por exemplo, o servidor que é responsável por licitações e vai comprar lâmpada. Não só o preço será levado em conta, mas como a lâmpada foi produzida, quanto ela gasta e que tipo de resíduo ela representa.

Quais são as perspectivas para diminuir os problemas com o lixo?

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Queremos diminuir a quantidade de lixo que é enterrado. Estamos instituindo o novo conceito de desacoplagem que vem sendo debatido no último ano no mundo. Tradicionalmente, quando há aumento de qualidade de vida, a quantidade de recursos usados vai aumentando acima da curva de crescimento. Precisamos de estratégias que desacoplem esses números,

Como a desacoplagem funcionaria na prática?

Se melhorarmos a qualidade da coleta de materiais recicláveis, será possível melhor o uso dos recursos sem interferir na qualidade de vida. E isso gera economia também, com a redução dos gastos para enterrar o lixo no aterro. É harmônico do ponto de vista social, ambiental e econômico. Mas isso não vai acontecer por decreto.

Qual é a alternativa?

Há os problemas jurídicos, com 54 ações discutindo a licitação do lixo. Aparentemente a solução não é rápida. Mas esse é um aspecto. E do ponto de vista da eficácia ambiental, será que o projeto pensando há cinco anos é o melhor?

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Como estão os rios de Curitiba?

Praticamente todos os rios estão contaminados. Não fazemos a gestão dos rios, fazemos somente a ocupação. Toda vez que há problema com um rio, ele é colocado numa caixa de cimento e, se possível, é tampado para não ser visto.

Nenhum rio será mais retificado e canalizado?

Vamos fazer com que o rio funcione como um sistema natural. Em algumas situações será necessário retificar e canalizar. Mas a análise dessa alternativa será feita integralmente. Vamos estudar até refazer o traçado original do rio.

As obras públicas vão prever políticas de compensação ambiental?

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Isso precisa ser pensado no momento do projeto, de forma que não seja necessário, na conclusão da obra, tomar medidas para compensação ambiental.

E para obras privadas?

Já existe. Por impermeabilização do solo, por exemplo. Um grande estacionamento deve ser compensado com a reserva da água de tempestade.