Nossos colegas primatas estão em perigo. Em um estudo de abrangência inédita, uma equipe envolvendo 31 primatologistas analisou todas as espécies conhecidas de primatas para avaliar suas condições e as notícias não são nada boas para as espécies mais próximos dos seres humanos na árvore genealógica animal. Três quartos das espécies de primatas estão em processo de declínio, revelaram os pesquisadores, e cerca de 60 por cento já estão ameaçadas de extinção. De gorilas a gibões, os primatas estão em uma situação muito mais delicada do que nas últimas décadas e o seu celular pode ser um dos responsáveis por isso.
Na África Central, os mineradores vão para a floresta a procura de um minério conhecido como coltan, utilizado em circuitos eletrônicos, essenciais para o funcionamento dos celulares. Esses mineradores caçam a própria comida. “Sua alimentação é baseada em primatas”, afirma Anthony Rylands, pesquisador científico da Conservation International e um dos autores do novo estudo, que foi publicado pela revista científica Science Advances.
“A situação é pior do que pensávamos há 10 anos”, lamenta Katherine MacKinnon, antropóloga da Universidade de Saint Louis e uma das autoras do estudo. Ela e seus colaboradores identificaram uma série de atividades humanas que levam os primatas ao limite, tais como a caça – a China é um grande consumidor da carne de macaco, resultado da caça de espécies da África Ocidental –e o desmatamento.
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Estudo traz péssimas previsões sobre os primatas
Na Amazônia, a floresta está sendo transformada em pastos e campos de soja, ao passo que em Madagascar, plantações de arroz tomam conta das florestas de lêmures. Até mesmo batons, biodiesel e bolachas contribuem para a extinção de primatas. O óleo de palma, ou azeite de dendê, é encontrado nesses produtos e novas plantações de palmas estão substituindo florestas inteiras no Sudeste Asiático – uma das áreas com mais espécies de primatas no planeta.
Rylands tem previsões pessimista para os próximos anos. “Acredito que veremos muitas espécies extintas nos próximos 50 anos, se as coisas continuarem desse jeito”, diz. Todas as espécies de macacos (incluindo gorilas, chimpanzés, bonobos, orangotangos e 19 espécies de gibões) estão ameaçadas, e 87 % das espécies de lêmures também estão. Outras que correm risco grave de extinção incluem o macaco-aranha do Equador, o colobu-vermelho do Delta do Níger, e o Macaca nigra, uma espécie natural da Indonésia que ficou famosa por tirar uma selfie com a câmera de um fotógrafo.
Os humanos já levaram algumas espécies de primatas à extinção, mas é difícil saber ao certo quantas. Madagascar já abrigou os lêmures gigantes, alguns dos quais chegavam a pesar 15 quilos. Embora os cientistas ocidentais nunca tenham chegado a ver essas criaturas incríveis, os registros fósseis mostram que 17 espécies de lêmures foram extintas após a chegada dos humanos à ilha há dois mil anos.
Os autores do novo estudo oferecem uma série de razões pelas quais vale a pena dar fim a essa crise. Estudos recentes mostram que os primatas são extremamente importantes para os ecossistemas onde vivem. Uma vez que se alimentam de folhas e frutas, por exemplo, eles carregam pólen de uma árvore a outra. Além disso, suas fezes carregam sementes que permitem que as plantas se espalhem mais amplamente.
Primetas também são importantes para a nossa autocompreensão
Os primatas também são fundamentais para nossa autocompreemsão. Os primeiros surgiram há cerca de 80 milhões de anos e, ao longo de milhões de anos, se subdividiram nas linhagens que existem atualmente. Se compararmos nossa biologia com a deles, compreenderemos a evolução dos nossos cérebros, da nossa visão e da nossa vulnerabilidade a doenças. Se essas espécies forem extintas, perderemos a oportunidade de aprender mais. Embora as perspectivas sejam terríveis, Rylands afirma que há boas medidas que podem ser tomadas para ajudar os primatas. “Precisamos parar de caçá-los e garantir que tenham um lugar para viver”, afirmou.
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