Alfredo quase foi preso por plantar árvore sem permissão: defesa da natureza| Foto: Daniel Caron/ Gazeta do Povo

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Confira mais histórias dos tree-huggers e saiba o que a prefeitura de Curitiba diz sobre o plano de arborização da cidade.

Carlos Andersen se acorrentou à árvore para impedir o corte
Ativistas assumiram espaço público no Centro Cívico
José tocará marcha fúnebre para cada árvore derrubada
O casal Rosae Novichenko e José Estevam Gava tentou, mas não conseguiu, impedir o corte de uma árvore no Alto da XV
O casal Rosae Novichenko e José Estevam Gava tentou, mas não conseguiu, impedir o corte de uma árvore no Alto da XV
Ativista ambiental sai à noite, algumas semanas por ano, para plantar árvores
Ativistas ambientais saem à noite, algumas semanas por ano, para plantar árvores
Assim era a paineira rosa do Boa Vista antes da poda e tentativa de corte Crédito
Mas em março, houve uma tentativa de corte, impedida por Carlos Andersen, que se acorrentou à árvore

Em inglês, a expressão que define os engajados na proteção ambiental é tree-hugger (abraçador de árvore, em tradução livre). Não é à toa a associação: por mais que muitas estejam sendo dizimadas, as árvores são ícones ambientais próximos das pessoas – em tese, não é preciso ir a uma floresta para deparar com uma. Elas existem também nas cidades – e precisam de proteção.

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Veja mais fotos dos defensores de árvores

Ninguém sabe ao certo quantos tree-huggers existem em Curitiba, mas não são poucos. Alguns defensores de árvores se contentam em plantar mais. Outros dedicam tempo e energia para proteger as que já existem. Há os que agem sozinhos e os que se organizam em grupos. E há até quem já tenha sofrido ameaças por defender árvores. Conheça a seguir as histórias de alguns deles:

Ecoterroristas

Imagine correr o risco de ir para a cadeia porque você decidiu plantar árvores em lugares públicos. Os amigos Alfredo e Manuel (*) já vivenciaram isso. À noite, algumas semanas por ano, eles saem para fincar no chão mudas de espécies nativas. Escolhem áreas que consideram ter pouco verde. Por duas vezes, foram descobertos por guardas municipais que os chamaram de vândalos e ameaçaram prendê-los caso não parassem de cavar buracos e cobrir as plantinhas com terra. Mas eles não desistiram. Desde então, passaram a se autodenominar ecoterroristas.

Manuel é engenheiro florestal e decide que espécie é mais adequada ao tipo de terreno – banhado ou barranco, por exemplo –, analisa o período do ano mais propício para o desenvolvimento da planta e respeita a distância mínima entre as mudas.

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Alfredo conta que o interesse pelas árvores surgiu na infância, depois de ler O menino do dedo verde. "O livro me levou para o lado lúdico de estar perto da natureza." O primeiro passo foi plantar uma árvore em frente ao prédio. Há seis anos, com o nascimento da primeira filha, decidiu plantar uma pixirica da serra em um bosque da cidade e prometeu para si mesmo que semearia ao menos mais uma a cada ano de vida da menina. "Quero brincar com ela na sombra de uma árvore", conta.

Filosofia verde

Não apenas para garantir mais sombra e ar puro é que ativistas plantam árvores. O movimento "Jardinagem Libertária" nasceu em 2005 como uma ação artística. "Pensamos que a arte vai além de exposições em galerias", conta Jorge Brand, também conhecido como Goura, um dos mentores do projeto. O objetivo é a criação de espaços ecológicos em meio ao concreto da cidade. "A ideia é de reconquista urbana, de ressignificação do espaço e de reafirmação da liberdade do indivíduo. Ou seja, eu não vou simplesmente ligar para o telefone 156 pra plantarem uma árvore na frente da minha casa. Eu mesmo vou fazer. É para que a gente tenha o sentido de pertencimento à cidade. E uma árvore é uma forma maravilhosa de ter isso. Você planta, você acompanha, vê o desenvolvimento, as flores, os frutos", define.

O grupo passou a plantar mudas em espaços públicos. Bem perto do Palácio das Araucárias, no Centro Cívico, foi criado o bosque de Sofia – em homenagem à deusa da sabedoria e também à filha de Goura. Já são mais de 50 árvores, todas nativas, como pitangueiras, aroeira, araucárias, jacarandás e paineiras. O ativista está fazendo um pedido formal à prefeitura para oficializar o espaço, para que a cidade o reconheça e assim ele seja preservado.

A paineira fica

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Ao decidir se acorrentar a uma paineira rosa, Carlos Eduardo Andersen ganhou admiradores e críticos. Em março, ele impediu que a árvore fosse cortada na Rua João Havro, no Boa Vista, na capital. Por 16 horas, Andersen permaneceu junto ao tronco, enroscado em cadeados, como forma de evitar que os técnicos se aproximassem. Depois de virar notícia e da promessa feita aos veículos de comunicação pela prefeitura – de que o caso seria reavaliado, ele soltou as correntes. Mas não desistiu de lutar. Andersen recorreu à Justiça para garantir a permanência da paineira. O Judiciário decidiu que a situação pedia um parecer científico.

Uma engenheira florestal da Universidade Federal do Paraná emitiu um laudo, na última quinta-feira, avalizando que a árvore está saudável, que não prejudica as redes elétrica e de esgoto e que reúne as características para ser tombada – não ao chão, mas como patrimônio natural de Curitiba. A paineira teria mais de 70 anos e é anterior à ocupação residencial no local. Tirivas (pequenos periquitos) são frequentemente vistas nos galhos.

O pedido de extermínio da paineira foi feito por uma vizinha incomodada com o acúmulo de flores e painas no chão. Andersen acredita que teve uma atitude exagerada. "O que deveria chamar a atenção não é alguém preso a uma árvore, mas um pedido de corte por causa de sujeira. O que deveria chocar não choca", diz.

Blog

Enquanto ainda estava acorrentado, surgiu a ideia de criar um blog para reunir pessoas com pensamento semelhante. O "Vândalo Verde" já teve aproximadamente 1,4 mil acessos. A meta agora é buscar uma forma de mudar a legislação da poda de árvores, obrigando que a prefeitura avise aos moradores quando pretende fazer o serviço de corte.

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Som de protesto

José Estevam Gava lamenta o fato de não ter conseguido salvar uma das três árvores a serem dizimadas na rua da casa dele, no Alto da XV, em Curitiba. No dia 21 de maio, com a alegação de que os galhos estavam se aproximando de uma cerca elétrica, a equipe da prefeitura iria não apenas podar as plantas, mas serrá-las rente à raiz. Gava questionou os técnicos, argumentou que as árvores eram saudáveis, e conseguiu, por duas vezes, protelar o corte de duas. "Mas [os funcionários] me xingaram, ameaçaram chamar a polícia e ainda disseram que voltariam outro dia e cortariam do mesmo jeito", conta.

Indignado com a situação, Gava, que é professor de Música na Universidade Federal do Paraná, está montando um projeto para chamar a atenção para os cortes que estão acontecendo na cidade. Um quinteto de sopro vai tocar marchas fúnebres, por cinco minutos, em cada local em que árvores foram exterminadas. "Elas precisam ser cuidadas, não derrubadas", diz.

* Nomes fictícios

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