Geólogos discutem como minimizar impactos ambientais
O geólogo Luiz Fernando Scheibe, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), teme os efeitos da exploração de gás de xisto. "Do ponto de vista econômico pode ser exitosa, mas ambientalmente perigosa. Sempre nos perguntamos se no longo prazo as consequências não serão danosas demais", comenta. Ele acrescenta que as técnicas usadas ainda são pouco conhecidas. "É uma tecnologia que começou a ser massiva há menos de 10 anos", completa.
Para ele, a situação brasileira é muito diferente da norte-americana. "Nós não precisaríamos explorar agora. Poderia ficar como uma reserva para um futuro remoto quando talvez se tenha uma sistemática de uso melhor", ressalta.
Scheibe acredita que o momento é adequado para repensar formas de consumo de energia. Ele ainda avalia que a discussão sobre o uso de energias renováveis pode ficar ser relegada pela promessa de uma nova energia fóssil barata. "Nos Estados Unidos havia debate até sobre o uso de etanol, porque o petróleo estava caro e difícil de conseguir, mas com o gás convencional, as opções foram esquecidas. O mesmo está acontecendo no Brasil, por causa do petróleo do pré-sal", explica. Na semana que vem, Scheibe participará de um debate sobre o assunto promovido pela Sociedade Brasileira de Pesquisa Científica (SBPC).
Testes
Com formatos e efeitos diferentes, o fraturamento hidráulico já é usado na extração gás natural e petróleo. O geólogo Colombo Tassinari, da USP, tenta viabilizar a instalação de um poço experimental para fazer trabalhos de monitoração. Ele comenta que a agricultura usa proporcionalmente muito mais água e a contamina, com agrotóxicos, por exemplo. Já as piscinas de água misturada com fluído usado nos poços de gás de xisto seriam passíveis de tratamento, acredita o geólogo. Antes da exploração do gás seria necessário fazer o levantamento do passivo ambiental, elaborar um sistema de monitoramento em tempo real dos aquíferos e de abalos sísmicos e identificar qual a capacidade de contaminação dos fluídos.
Para saber mais:
Assista os vídeos Gasland (contrário à exploração) e FrackNation (favorável à exploração), disponíveis no Youtube, e acesse a página www.frackingnaobrasil.blogspot.com.br
Impulsionado pela revolução econômica que promoveu nos Estados Unidos nos últimos anos, o gás de xisto foi alçado à posição de nova promessa na geração de energia. Mas os impactos ambientais conhecidos até agora são preocupantes e muitos ainda são ignorados. Além de gerar resíduos tóxicos e ameaçar reservas subterrâneas de água, a potencial exploração de gás de xisto no Brasil também pode desviar o foco de esforços em busca de alternativas energéticas renováveis.
Boa parte da polêmica está relacionada ao processo de extração, chamado de fraturamento hidráulico (fracking, em inglês), como pode ser observado no infográfico abaixo. Também chamado de shale gas, em inglês, ou gás não convencional, a exploração do gás de xisto usa grandes quantidades de água. A estimativa é que um poço use 15 milhões de litros de água, e a metade retorna à superfície contaminada por produtos químicos.
INFOGRÁFICO: Riscos ambientais da exploração do xisto
Nos Estados Unidos, onde a operação segue a todo vapor, vários pontos de contaminação foram encontrados. Virou um ícone daqueles que condenam à exploração de gás de xisto a imagem de torneiras que vertem água e chamas. Os riscos ainda desconhecidos são os que mais assustam. Há suspeitas de que pessoas tenham desenvolvido doenças em função do consumo de água contaminada.
Geólogo e vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), Colombo Tassinari acredita que o que falta é estudo sobre as possibilidades de exploração do gás de xisto. O gás pode vazar durante a extração, mas um processo correto de selamento dos poços poderia diminuir os riscos. Ele também ressalta que, às vezes, o gás vaza naturalmente, sem qualquer intervenção humana. "Há relatórios de instituições confiáveis que demonstram que não tem essa contaminação toda", comenta.
Moratória
O Congresso Nacional discute a possibilidade de declarar moratória na exploração de gás de xisto no Brasil. Assim, a possibilidade de usar o recurso energético ficaria suspensa, por um período determinado, até que fossem realizados estudos suficientes para garantir a segurança da operação. Além da ausência de estudos científicos consistentes sobre a localização exata e a capacidade dos poços, com a moratória haveria mais tempo para testar novos procedimentos e até conseguir desenvolver tecnologias mais apropriadas para a exploração. França, Bulgária e alguns estados norte-americanos já declararam moratória.
Pós-crise
Com a economia fortemente abalada desde 2006, os Estados Unidos contaram com a exploração de gás de xisto no processo para se reerguer. Como libera o país de parte da importação de petróleo e é negociado bem mais barato do que os demais combustíveis fósseis, o gás impulsionou o período pós-crise. Ainda não se sabe bem como foi possível praticar preços tão baixos, se o sistema é deficitário e subsidiado por empresas que têm interesse em convencer o mercado sobre a viabilidade do negócio ou se nem todos os custos ambientais, como o tratamento da água contaminada, estão sendo devidamente contabilizados.
Leilão
A Agência Nacional de Petróleo (ANP) prevê para os dias 28 e 29 de novembro uma rodada de licitações para exploração de gás natural, convencional ou não. Questionada pela Gazeta do Povo, a ANP informou que está preparando as exigências que deverão ser seguidas pelas empresas que pretendam explorar o gás de xisto. Alegou ainda que provavelmente haverá áreas nas bacias terrestres dos rios Paraná, Parecis, Parnaíba, Recôncavo, Acre e São Francisco, em que estudos mostraram que há grande potencial para existência de jazidas de gás. A licitação precisa de aprovação do Conselho Nacional de Política Energética.
Regulação
Ainda não existe legislação específica para a exploração de gás de xisto no Brasil. Sem marco regulatório falta base jurídica para questões práticas, como o licenciamento ambiental das áreas e quem tem direito sobre o gás no subsolo. Por enquanto, o norte jurídico é estabelecido pela mesma regulamentação usada para petróleo e gás convencional. Em declarações recentes à imprensa, a Agência Nacional de Petróleo informou que não acredita que a exploração de gás de xisto comece a curto prazo no Brasil. No Paraná, a Petrobras mantém uma usina de xisto betuminoso, em São Mateus do Sul, mas o tipo de exploração é totalmente diferente.
Riscos