Técnica criada pela empresa Conspizza usa cédulas de real picotadas e outros resíduos para recuperação de áreas degradadas| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Metais

As moedas estragam bem menos e, por isso, são recolhidas em menor quantidade em comparação com as cédulas. Quando são consideradas inservíveis, as moedas são derretidas e cunhadas novamente. Já as cédulas velhas, por questões de segurança e também pela exigência de firmeza do papel (a chamada fibra longa), não podem ser usadas novamente na fabricação de dinheiro novo.

CARREGANDO :)

Técnica

Professora da UNB vai ensinar a "lavar dinheiro"

A professora Thérèse Hofmann, do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB), conseguiu registrar a patente da solução para tirar a resina das notas. O componente impede que o dinheiro absorva água, o que é essencial para manter as cédulas em uso por mais tempo, principalmente em regiões úmidas, mas dificultava o processo de reciclagem.

Com a quebra da resina, o dinheiro reciclado volta a ser papel normal e dele podem surgir certificados, convites de casamento, cadernos, pastas, cúpula de abajur, entre outros objetos. Ela apresentará sua técnica de "lavagem de dinheiro" no início do mês que vem em um congresso de celulose em São Paulo.

Thérèse afirma que tem condições de expandir o projeto para todas as cidades onde o BC tem regional. "Só que preciso de dinheiro inteiro. Picotado, tenho bastante", brinca. Falta, segundo ela, investimento para que a experiência possa ser replicada pelo país. (AE)

Ela já teve valor, mas depois de usada, suja e maltratada, a cédula de real passa a ser, simplesmente, um passivo ambiental. E o Banco Central (BC), que recolhe 2,3 milhões de notas chamadas de inservíveis no país por ano, precisa encontrar um destino mais nobre do que mandar toneladas de papel-moeda para ocuparem espaço em aterros sanitários. Em Curitiba, uma empresa transforma dinheiro picotado em um composto orgânico usado na recuperação de áreas degradadas.

Publicidade

O diretor do Departamento do Meio Circulante do BC, João Sidney Figueiredo Filho, conta que, no passado, todas as cédulas recolhidas eram queimadas. O dinheiro velho virava fumaça. Não era a melhor solução. E, com as exigências do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que deve entrar em vigor no ano que vem, todas as empresas precisaram buscar saídas para recolher e dar destino ambientalmente responsável para os rejeitos dos produtos que fabricam. E com o produto dinheiro não poderia ser diferente.

Atualmente, são três os projetos desenvolvidos pelo BC para reaproveitar o papel das notas, seja como adubo ou enfeitando capas de caderno (veja nas matérias nesta página). A técnica usada em Curitiba foi desenvolvida pela empresa Conspizza. As notas picotadas viram uma massa semelhante ao algodão que recebe um feijão na clássica experiência escolar. "Faço uma mistura com diversos tipos de resíduos, como filtros de cigarro, e coloco adubo e sementes. Vira uma massa que é injetada, com uma máquina, no terreno degradado. A semente se desenvolve e desce para o solo", conta o empresário Ângelo Pizzatto, que trabalha com o reaproveitamento de resíduos há quatro décadas.

Pizzatto explica que se o papel picado fosse enterrado em grandes quantidades e sem ser misturado a outras substâncias, ele poderia gerar rejeitos poluentes, como a tinta. Mas, mesclado com material orgânico, acaba sendo decomposto por micro-orga­nismos. O empresário chegou ao dinheiro velho procurando por materiais que eram jogados fora, mas que podiam ser aproveitados. É uma parceria: Pizzatto não cobra nem paga nada ao BC para usar os resíduos e dar destino a eles.

Processo

Logo após o recolhimento, as notas inservíveis são perfuradas antes mesmo do transporte. Ao chegar à regional do BC, elas são fragmentadas. Os sacos com cédulas picotadas são encaminhados para as empresas parceiras, que auxiliam o BC na destinação correta dos resíduos. A única unidade que reaproveita todas as notas que recolhe é a regional de Curitiba, que concentra as coletas do Paraná e de Santa Catarina. Atualmente, só 7% do volume de dinheiro velho no Brasil é reaproveitado. A estimativa é que, em cinco anos, todas as cédulas inservíveis tenham uma destinação melhor que o incinerador.

Publicidade

Adubo "real" é mais barato que esterco

Agência Estado

Quem acredita no ditado de que o dinheiro é a raiz de todos os males poderia rever sua posição se conhecesse um projeto apoiado pelo Banco Central (BC), que transforma cédulas que saem de circulação em adubo para lavouras de agricultores familiares do Pará. Picotado e sem valor, o papel-moeda serve para fertilizar e regenerar os solos da região através de um composto que leva também palhas e restos de frutas e verduras.

O projeto da Universidade Federal Rural do Amazonas (UFRA) é um dos preferidos do BC para se adequar à Política Nacional de Resíduos Sólidos pelo aspecto social.

A vantagem é que essa compostagem tem custo praticamente zero para os agricultores que detêm nas propriedades os componentes necessários para a compostagem. O adubo feito com dinheiro vai reduzir o custo da produção, pois o esterco de ave, de melhor qualidade que o de boi, pode chegar a R$ 150 a tonelada.

Publicidade

Patente

A pesquisa está em fase final e a patente do adubo feito com papel-moeda será requerida em novembro, depois da análise de macronutrientes, micronutrientes, metais pesados e grau de humificação de 120 amostras. Esses testes têm o objetivo de verificar, principalmente, a quantidade de nitrogênio, fósforo e potássio, entre outros elementos químicos, necessários para que as plantas cresçam, floresçam e deem frutos.

Em três anos de pesquisa, o BC liberou R$ 100 mil em dinheiro de verdade para custear bolsas de iniciação científica e despesas com análises químicas. O projeto também recebe apoio da fundação de pesquisa e do governo do Pará. Até agora, são usados 500 quilos de cédulas velhas da regional do BC em Belém, mas o propósito é que todas as 13 toneladas de dinheiro picotado mensalmente pela regional virem adubo.