Quem critica a Samarco o faz por não conhecer a empresa. A afirmação é do diretor-presidente da empresa, Ricardo Vescovi, em vídeo publicado no Youtube na quarta-feira (25) e dirigido a seus empregados. As imagens foram postadas 20 dias depois do rompimento de uma barragem da Samarco – controlada pela Vale e a australiana BHP– que causou um “tsunami” de rejeitos de minério que destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), deixou pelo menos 12 pessoas mortas e “matou” o Rio Doce. Dois dias antes, na segunda (23), a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, visitou a região, percorreu o trajeto do rio de helicóptero e se assustou com o que viu. “O acidente não terminou, está vivo ainda. (...) Mariana é o desastre ambiental mais grave que o Brasil já teve, e de um impacto regional de proporções inimagináveis”, afirmou ela.
Com desastre em Mariana (MG), Rio Doce morreu, sim, mas pode ser ressuscitado
Uma embarcação da Marinha chegou à região para coletar dados e monitorar os efeitos da lama no mar. Segundo o MMA, o monitoramento da tragédia terá duas frentes: uma coordenada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para avaliar o acidente de forma geral; e outra coordenada tecnicamente pela Secretaria de Biodiversidade e Florestas (SBF/MMA) para estudar a recuperação da bacia do rio, com a participação dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Gravação
No vídeo postado no Youtube, Ricardo Vescovi pede calma aos funcionários da Samarco. “Ninguém deve esperar apoio amplo e imediato de pessoas que não conhecem a Samarco”, diz ele. Ainda de acordo com o diretor-presidente da mineradora, a jornada é longa e a empresa precisa da coragem e do apoio dos seus empregados. Ele também afirmou que o acidente foi repentino, e não “progressivo”.
“Ainda não temos respostas para todas as questões. O que aconteceu no dia 5 de novembro é algo sem precedentes na mineração mundial. E as investigações sobre as causas do acidente continuam. Somente um estudo aprofundado com uma combinação de diversas disciplinas, como geotecnia, geologia, sismologia, mecânica dos solos pode chegar a uma explicação para o que aconteceu”, disse Vescovi no vídeo.
Segundo informações da Folhapress, em 2009, a Samarco contratou um projeto para um plano de monitoramento 24 horas das barragens que pretendia alertar os moradores de Mariana em situações de emergência, mas, de acordo com a empresa que elaborou o documento, o plano foi descartado por causa da crise econômica.
Com esse cenário, disse Vescovi, a empresa decidiu dar licença remunerada e férias coletivas para a maior parte dos empregados.
Abastecimento
Nesta quarta-feira (25) o ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, disse que a captação de água no Rio Doce para o abastecimento de Colatina (ES) e Governador Valadres (MG) foi retomada e que, segundo laudos, a água é boa para consumo. Muitos moradores porém estão desconfiados. Occhi também afirmou que a Samarco executará um projeto para captar água do Rio Suaçuí Grande, que desagua no Rio Doce, como alternativa para a região. Os dois municípios citados são os maiores atingidos pela tragédia, com 120 mil e 290 mil habitantes, respectivamente, mas outras 13 localidades também foram afetadas.
ONU faz cobrança
As medidas tomadas para evitar os danos causados pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana (MG), pelas acionistas da companhia, Vale e BHP Billiton, e pelo governo brasileiro foram “claramente insuficientes”, disseram especialistas da Organização das Nações Unidas na área de meio ambiente e resíduos tóxicos.
Em texto publicado na internet nesta quarta-feira (25), os especialistas cobraram uma postura mais ativa das mineradoras gigantes e do governo, ressaltando que “este não é o momento para uma postura defensiva” por parte desses agentes.
“O governo e as empresas devem fazer tudo ao seu alcance para evitar mais danos, incluindo a exposição a metais pesados e outras substâncias químicas tóxicas”, enfatizaram o Relator Especial das Nações Unidas sobre os direitos humanos e meio ambiente, John Knox, e o Relator Especial sobre direitos humanos e substâncias e resíduos perigosos, Baskut Tuncak.
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