A receita para garantir o crescimento do país tem sido a mesma nos últimos anos: estimular o mercado interno, principalmente em momentos de dificuldade da economia. No entanto, as desonerações e o crédito fácil que aquecem o consumo trazem impactos ao meio ambiente. Da poluição dos carros novos com impostos reduzidos ao lixo despejado pelos compradores que trocam de eletrodomésticos a celulares, as medidas de estímulo deixam um passivo ambiental.
Segundo ambientalistas ouvidos pela Agência Brasil, o modelo econômico em vigor representa um entrave para o desenvolvimento sustentável do país. E é justamente o modelo econômico baseado no consumo um dos pontos em maior evidência nas discussões da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que prossegue até o dia 22 no capital fluminense.
Para o professor Gustavo Souto Maior, do Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade de Brasília (UnB), as políticas adotadas no Brasil vão na contramão de medidas adotadas por outros países, que têm criado restrições ao transporte individual e estimulado o transporte coletivo. "Na Dinamarca, o governo desestimula a compra de carros por meio de um imposto altíssimo, mas o Brasil continua apostando no transporte individual falido, que compromete a mobilidade urbana e aumenta o consumo de combustível", ressalta.
Secretária-executiva do Instituto Socioambiental (ISA), Adriana Ramos considera importantes as reduções de impostos, mas diz que as desonerações devem contemplar setores que investem em inovações tecnológicas e no respeito ao meio ambiente. Para o diretor sênior de Políticas da organização não governamental Conservação Internacional, Valmir Ortega, os incentivos à economia verde até existem, mas em volume insuficiente. "O governo criou uma linha de crédito para plantios de baixo carbono, mas o orçamento não chega a ser um décimo do Plano Safra, que financia toda a agricultura. O que hoje é nicho deveria ser o foco principal das políticas públicas", diz.
Entre os novos setores que podem ser beneficiados com incentivos fiscais, os especialistas citam o turismo nos parques nacionais, o transporte público, o saneamento básico e as compensações ambientais para obras de infraestrutura.
Proteção
Greenpeace recolhe assinaturas para o projeto Desmatamento Zero
A organização não governamental Greenpeace quer acabar com o desmatamento das florestas brasileiras e lançou ontem uma campanha para recolher 1,4 milhão de assinaturas e apresentar um projeto de lei de iniciativa popular ao Congresso Nacional. As informações são da Agência Brasil. O lançamento da Campanha Desmatamento Zero foi feito durante a Cúpula dos Povos, evento da sociedade civil paralelo à Rio+20, organizado no Aterro do Flamengo, na zona sul da cidade do Rio.
A minuta do projeto de lei divulgado pelo Greenpeace contém cinco artigos. Um deles diz que, em casos de segurança nacional ou de questões de Defesa Civil, de pesquisa, de manejo florestal, de atividade social e utilidade pública, a proibição do desmatamento não se aplica. As assinaturas serão recolhidas na cúpula até o dia 22. A campanha seguirá na internet.
Gases poluentes
Segundo Paulo Adario, um dos diretores do Greenpeace, o combate ao desmatamento é a forma mais rápida e barata de reduzir a emissão de gases de efeito estufa e combater a violência no campo. Em entrevista à imprensa, Adario explicou que os efeitos da conversão de florestas em pastos ou plantações, somados às queimadas, são os principais responsáveis pela liberação de gás carbônico na atmosfera. "Sem a proteção das árvores, gás carbônico é liberado pelo solo e pelos restos de matéria orgânica", afirmou.
"O desmatamento das florestas tropicais no mundo emite mais gases do efeito estufa como o mais tóxico dentre eles, o gás carbônico do que toda a frota mundial de carros, aviões e navios juntos", reforçou. "Isso não significa que o mundo deve aceitar o uso de fonte de energia poluente como o petróleo, mas que essa substituição [do petróleo por outra fonte] tende a ser cara e lenta", avaliou.