A pressão do Brasil para fechar o documento da Rio+20 antes da reunião de chefes de Estado, que começa amanhã, foi criticada ontem por alguns países e por organizações não governamentais, que consideraram o texto fraco demais e pediram mais tempo para negociar um resultado mais ambicioso.
A União Europeia (UE) seria a mais incomodada com o documento brasileiro, segundo informações dos bastidores diplomáticos na conferência. A proposta alternativa seria manter o texto em aberto para ser debatido na cúpula de alto nível, com o envolvimento de ministros e chefes de Estado.
Os europeus se ressentem principalmente da falta de objetivos e metas que eles pedem desde o começo das negociações em áreas como energia, água e eficiência no uso dos recursos. Os temas, dizem os delegados, até aparecem no texto, mas não há objetivos concretos sobre eles. "Fala-se em energia sustentável para todos, mas como, quando?", questionou a representante europeia. Mesmo que não seja possível colocar agora números sobre metas específicas, segundo ela, o documento deveria trazer, ao menos, um direcionamento mais específico sobre elas.
Com relação ao desejo dos europeus de estender a discussão, o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, chefe da delegação brasileira, comentou: "O que disse para nossos colegas é que, se compararmos a um jogo de futebol, o tempo regulamentar (das negociações) terminou com o fim do comitê preparatório (reuniões que ocorreram entre os dias 13 e 16). Agora estamos na prorrogação e ela nunca tem um tempo mais longo que o jogo propriamente dito. Há um limite de tempo, temos de fechar o texto antes da chegada dos chefes de Estado."
Ambição
Ambientalistas também criticaram a postura brasileira. "Os ministros não vêm aqui para beber caipirinha e sentar na praia; eles vêm aqui para solucionar problemas e elevar o nível de ambição da conferência", disse a coordenadora de Políticas Climáticas do Greenpeace, Tove Maria Ryding. Cerca de cem chefes de Estado são esperados para a cúpula de alto nível, que começa amanhã e termina na sexta-feira, encerrando a Rio+20.
O texto em questão foi apresentado pela diplomacia brasileira no sábado, como uma tentativa de conciliar posições e acelerar as negociações, que vinham em ritmo lento até então. Ao buscar esse consenso, porém, acabou retirando ou reduzindo a ambição de vários pontos de conflito, especialmente em questões relacionadas ao comprometimento econômico e político dos países ricos com o desenvolvimento sustentável do planeta.
Segundo informações da Agência Brasil, o texto prevê a prorrogação até 2013 dos debates sobre a possibilidade de criar um fundo específico para o desenvolvimento sustentável. Inicialmente, o Brasil e vários países em desenvolvimento defendiam a criação do fundo, começando com US$ 30 bilhões e podendo chegar a US$ 100 bilhões, em 2018. Porém, os países ricos vetaram a proposta alegando dificuldades econômicas internas.