Liderado por Michael Bloomberg, prefeito de Nova York (no púlpito), as metrópoles listaram 4 mil ações possíveis contra o efeito estufa| Foto: Antonio Scorza/ AFP

Debate

"Este lugar não é sustentável", reclama Jaime Lerner

Em um dos principais debates dentro da programação oficial da Rio+20 até agora, o papel das cidades no desenvolvimento sustentável foi discutido na noite de segunda-feira no Riocentro – local que abriga a conferência da ONU no Rio de Janeiro. Capitaneada principalmente por arquitetos e urbanistas das mais diferentes partes do mundo, a discussão se concentrou nos problemas mais frequentes nos meios urbanos e em exemplos bem-sucedidos a partir de alternativas encontradas. Formas de tornar o trânsito de pessoas mais racional e de recorrer a projetos mais inteligentes na construção das casas foram argumentos apresentados.

Um dos destaques foi o arquiteto e ex-governador do Paraná, Jaime Lerner. Ele reiterou seu ponto de vista: de que as pessoas devem morar perto do trabalho e de que as ruas não podem ser feitas para priorizar automóveis e usadas apenas oito horas por dia. Ele ainda questionou a logística da Rio+20. "Este lugar não é sustentável", disparou, reclamando, por exemplo, do transporte oferecido aos participantes – carros e ônibus em vias comuns – e das dezenas de quilômetros que separam os hotéis e o centro de convenções. (KB)

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Para garantir qualidade de vida aos habitantes do planeta, não basta preservar florestas e oceanos. Com mais da metade da população do mundo morando em centros urbanos, é cada vez mais evidente que o desenvolvimento sustentável depende de ações praticadas nas cidades. É por isso que as metrópoles são protagonistas na Rio+20.

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Ontem, 59 das mais importantes cidades do mundo – Curitiba está nesta lista – assinaram um pacto de redução das emissões de gases do efeito estufa até 2030. Como o documento não estabelece metas claras ou quais ações serão tomadas, ambientalistas criticaram o teor, alegando que não passam de intenções sem qualquer comprometimento.

Conhecido como C-40, o grupo de prefeitos informou que pretende evitar 45% das emissões previstas até 2030 – seria o equivalente à poluição estimada para Brasil e México para os próximos 18 anos. Mais de 4 mil ações possíveis foram listadas pelos prefeitos, que esperam contar com o financiamento – já acenado – pelo Banco Mundial. "Não esperamos os governos nacionais tomarem a dianteira e aprovarem recursos", disse Michael Bloomberg, prefeito de Nova York e presidente do C-40.

Apesar da importância de ações locais, a diretora das Nações Unidas para a Redução de Riscos de Desastres, Helena Molin Valdés, acredita que acordos entre governos municipais não são suficientes para reduzir drasticamente os impactos das mudanças climáticas. Somente compromissos assumidos entre nações levariam a medidas globais.

Troca de experiências

Concentrando 18% da geração de riqueza no mundo e 600 milhões de habitantes, as metrópoles são responsáveis por uma fatia considerável do consumo e por 14% das emissões globais de gases de efeito estufa. Elas asseguram que pretendem aproveitar os bons projetos desenvolvidos em cada uma delas e que vão afinar a troca de experiências. Além das emissões provocadas pelo trânsito nas grandes cidades, o gás metano – que é 20 vezes mais perigoso para o aquecimento global do que o carbônico – produzido em lixões deve ser reduzido.

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Mas o papel das cidades no desenvolvimento sustentável não se restringe às ações para diminuir a quantidade de gases poluentes. Formas mais racionais de construir casas, consumir e destinar o lixo são atitudes majoritariamente destinadas aos centros urbanos. Além disso, apesar de a agricultura e a indústria responderem por boa parte do gasto e da contaminação da água, nas cidades é que a poluição de córregos e rios é mais evidente e contornável.