Sem acordo nos principais temas, os negociadores da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, deverão anunciar nesta sexta-feira (15) que as articulações em busca do consenso se ampliarão até as vésperas de o documento final a ser assinado pelos 115 chefes de Estado e de Governo, no dia 22. No total, são seis aspectos divergentes. Faltam acordos sobre a criação de um fundo para o desenvolvimento sustentável e as definições das metas conjuntas, por exemplo.
Mas, há ainda discordâncias sobre transferência de tecnologias, capacitação de profissionais para a execução de programas relacionados ao desenvolvimento sustentável, além da compreensão sobre o significado da expressão economia verde e a possibilidade de fortalecimento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), tornando-o autônomo e com mais recursos.
Oficialmente, os negociadores tinham prazo até hoje para fechar o documento final e deixá-lo pronto para os líderes políticos. A tendência, de acordo com os negociadores, é que o texto conclusivo exclua vários aspectos considerados controvertidos e mantenha algumas dessas metas apenas como citações gerais, sem especificá-las.
Há representantes de 193 delegações, mas nem todos participam dos sete maiores grupos que discutem os principais temas-chave. As questões sociais, como o combate à fome e à pobreza são consensuais, mas não no que se referem às metas específicas e a curto prazo. Os países em desenvolvimento apontam algumas prioridades, enquanto os ricos insistem em outras. Todos defendem o tema como fundamental, no entanto.
Um das divergências é a criação de um fundo, proposta defendida pelo Brasil e por vários países de economias em desenvolvimento, como a China, de incentivo ao desenvolvimento sustentável. A ideia é que todos colaborem com recursos para obtenção de US$ 30 bilhões, a partir de 2013, até chegar a US$ 100 bilhões em 2018. Mas o Canadá, os Estados Unidos e os europeus se opõem à ideia.
O secretário executivo da delegação brasileira na Rio+20, embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, alegou ontem que questões externas interferem diretamente nas negociações da conferência. Os impactos da crise econômica internacional nos países da zona do euro principalmente Espanha, Itália, Portugal, Irlanda e Grécia e a campanha presidencial nos Estados Unidos são algumas dessas questões.
Os norte-americanos e europeus resistem em quaisquer propostas que envolvam aumento de recursos, como a criação de um fundo para o desenvolvimento sustentável, e o fortalecimento do Pnuma, que indiretamente pressupõe mais dinheiro para o órgão.
As negociações no Riocentro, na Barra da Tijuca, ocorrem a portas fechadas no pavilhão 5 do centro de convenções. Nos bastidores, o Brasil insiste em informar que será possível um acordo geral e a ampliação do texto. A delegação brasileira nega a possibilidade de elaborar um documento alternativo em contrapartida à ausência de consenso no documento em discussão.