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Copresidente do programa de energia sustentável da ONU Kandeh Yumkella na Rio+20 | REUTERS/Nacho Doce
Copresidente do programa de energia sustentável da ONU Kandeh Yumkella na Rio+20| Foto: REUTERS/Nacho Doce

O gás natural, incluindo o não-tradicional gás de xisto, deveria ter um papel importante na redução das emissões de gases do efeito estufa, na preservação das florestas e na melhora dos padrões de vida e saúde das populações pobres, disse o copresidente do programa de energia sustentável da ONU Kandeh Yumkella.

Sem isso, a chamada Iniciativa de Energia Sustentável para Todos, da ONU, terá dificuldades em alcançar até 2030 as metas de acesso energético universal e duplicação dos índices de melhoria energética e uso de recursos renováveis, disse Yumkella à Reuters, na segunda-feira, durante a conferência Rio+20.

"Você não conseguirá salvar a floresta se não tiver gás", disse Yumkella, originário de Serra Leoa. "É uma das soluções das quais precisamos para reduzir o desmatamento e reduzir os 2 milhões de pessoas que morreram a cada ano por causa da poluição atmosférica em ambiente fechado, devido ao uso da lenha."

Yumkella, que é também chefe da Organização de Desenvolvimento Industrial da ONU, admite que seu apoio ao gás natural é polêmico, mas acha que seria quase impossível conseguir até 2030 o valor estimado - 43 bilhões de dólares por ano-- necessário para fornecer eletricidade para 1,3 bilhão de pessoas, metade do número que não tem acesso a ela hoje.

Muitos participantes da Rio+20 consideram problemática a inclusão do gás natural na iniciativa.

O gás natural é um hidrocarboneto não renovável, e sua queima provoca emissões de dióxido de carbono, o principal dos gases do efeito estufa.

"Yumkella é um grande homem, mas seu painel é dominado por pessoas que falam pelas grandes indústrias energéticas", disse Pasco Sabido, consultor climático da ONG Friends of the Earth Europe.

O painel de Yumkella, nomeado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, tem como outros copresidentes Chad Holliday, presidente do Bank of America, Chen Yuan, presidente do Banco de Desenvolvimento da China, e o brasileiro Carlos Ghosn, presidente e executivo-chefe da Renault-Nissan.

Sabido considera que a ênfase na geração de energia para os pobres deveria estar na adoção da energia solar e da biomassa.

"O gás pode ser bom como uma medida paliativa", disse Carlos Rittle, da entidade ambiental WWF. "Mas não é uma solução de longo prazo. Precisamos realmente nos afastar das velhas fontes energéticas."

Lidy Nacpil, que participa da coordenação do Movimento Jubileu para Dívida e Desenvolvimento no Sul da Ásia/Pacífico, também fez críticas à abordagem de Yumkella. "Qualquer iniciativa energética global que não coloque as pessoas em primeiro lugar está fadada ao fracasso na solução da pobreza energética", disse. "Em vez de olhar para a energia pertencente e gerida pela comunidade, ela empurra mais privatizações."

ENERGIA NA PAUTA

Mas Yumkella considera que as críticas são inerentes à discussão. "Pelo menos conseguimos finalmente colocar a energia na pauta", afirmou. "Antes disso, qualquer discussão sobre energia na ONU ficava em segundo plano diante da geopolítica do petróleo e do gás."

O desenvolvimento do gás e do petróleo é essencial, disse ele, especialmente porque a preocupação com a segurança energética levou à descoberta de novos recursos em lugares como Serra Leoa, seu país natal, e outras nações da África, região com menor acesso a eletricidade e energia limpa.

"Pense no mundo daqui a 40 anos", disse ele. "Será que a África vai exportar seus recursos para o mundo desenvolvido, para que os caras ricos tenham seus jipes e ar-condicionado, e todo o resto do pessoal continue pobre? Essa é a receita da insegurança."

Ao mesmo tempo, ele louva o desenvolvimento do gás de xisto nos EUA, por se tratar de um recurso abundante que ajudou o país, um dos maiores poluidores mundiais, a baratear sua energia e reduzir suas emissões de carbono, já que o gás é mais limpo que o carvão.

"Saudamos novas fontes de energia, na verdade é preciso dar crédito aos norte-americanos", disse Yumkella. "Há 15 anos eles decidiram investir em novas tecnologias."

"O gás de xisto é factível se a pesquisa e desenvolvimento forem feitos, e é menos poluente do que outras formas... Ao mesmo tempo, precisamos salvaguardar, precisamos assegurar que as tecnologias não causem danos colaterais."

Sabido, da Friends of the Earth, qualificou essa posição de perigosa, porque a exploração do gás de xisto ameaça mananciais e perturba comunidades remotas.

Quanto às tecnologias existentes de petróleo e gás, muita coisa precisa ser feita para evitar o desperdício e a poluição. Algumas medidas poderiam contribuir para o acesso dos mais pobres à energia, segundo ele.

Parte da iniciativa prevê uma redução drástica na quantidade de gás queimado ou desperdiçado devido à falta de mercados ou gasodutos.

"A quantidade de gás queimada na África pode amparar 50 por cento das necessidades elétricas da África, e o pior (desperdício) é na Nigéria", disse ele.

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