Aconteceu
Confira quais foram os destaques do último dia do evento da Organização das Nações Unidas
Falhas
O trânsito intenso e os preços ultrajantes dos hotéis durante a Rio+20 levantam temores sobre a habilidade do Brasil para sediar a Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada em 2016, apontou a edição de ontem do Financial Times. O jornal britânico criticou e ironizou a falta de infraestrutura do Rio de Janeiro: "Os congestionamentos bloquearam a cidade, apesar de o governo ter declarado feriado escolar durante o evento".
Hillary Clinton
A secretária de estado norte-americana, Hillary Clinton, disse que os Estados Unidos são um país que assegura os "direitos reprodutivos" da mulher de escolher quando quer ter filhos. O termo, que constava no documento final da Rio+20 entregue aos chefes de estado e de governo, foi trocado pelo Brasil por pressão do Vaticano. Em seu lugar, entrou "saúde reprodutiva", referindo-se ao direito de acesso a métodos de planejamento familiar.
Polêmica
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, lamentou a falta de avanço nas discussões e a exclusão das questões ligadas ao direito reprodutivo da mulher do documento final da Rio+20. No balanço feito à imprensa durante um evento no Humanidade 2012, no Rio, a ministra afirmou que o Brasil já avançou "tremendamente" na questão e o assunto poderia ter sido mais discutido na conferência que se encerrou ontem.
Fundo para a África
Clinton também anunciou a criação de um fundo de US$ 20 milhões para projetos de energia limpa na África que ficará aberto à contribuição de empresas privadas. "A energia limpa gera novos trabalhos e apoia a educação. Muitas pessoas de diversos lugares da África não têm acesso à eletricidade tradicional", disse a secretária.
Veja como foi a atuação do Paraná na conferência
Vários projetos do Paraná estiveram sob os holofotes durante a Rio+20
A Rio+20 terminou marcada pela distância entre as expectativas da sociedade civil e o que os governos e seus diplomatas foram capazes de produzir após 12 dias de diálogo. O documento final da conferência, intitulado O Futuro que Queremos e apelidado de O Futuro que Teremos, ou O Futuro que Não Queremos, por organizações não governamentais foi aprovado ontem às 19h20, na plenária final da conferência.
Num mundo vitimado pela crise econômica, os 114 líderes reunidos no Riocentro contentaram-se em repetir as promessas feitas em 1992 e adiar de novo ações que a ciência aponta como urgentes.
O texto fixa o ano de 2015 como nova data mágica da sustentabilidade global. É quando deverão entrar em vigor os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ideia lançada no Rio e que deverá ganhar definições de temas e metas a partir de 2013.
Os objetivos são o principal processo internacional lançado pela Rio+20, que também prometeu adotar um programa de dez anos para rever os padrões de produção e consumo da humanidade.
Outras decisões esperadas, como um mecanismo de financiamento ao desenvolvimento sustentável e um acordo sobre a proteção do alto-mar, ficaram para depois. "Se você quer uma imagem, é como trocar as cadeiras de lugar no Titanic", disse Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace, fazendo um balanço da reunião.
O secretário-geral da conferência, Sha Zukang, afirmou que parte do legado da Rio+20 são os compromissos voluntários firmados entre setor privado, governos e sociedade civil. Segundo ele, foram registrados 692 acordos, que vão direcionar R$ 1,6 trilhões ao desenvolvimento sustentável nos próximos dez anos.
A maior parte dos recursos virá de oito bancos de desenvolvimento, que se comprometeram a destinar R$ 350 bilhões a projetos sustentáveis de transporte na Ásia, na América Latina e na África.
O coordenador-executivo da Rio+20, Brice Lalonde, comparou este documento final com o da Eco-92. "Embora não pareça tão espetacular como o de 92, o resultado hoje talvez seja mais sério, porque nem tudo que foi acordado em 92 foi implementado", disse.
Sha, porém, lançou uma nota de cautela, lembrando que os compromissos assumidos pelos países na cúpula de Copenhague, em 2009, não foram cumpridos até hoje.
Sem entusiasmo
A aprovação do documento, de 53 páginas, foi aplaudida pela plenária de forma um tanto recatada. Apenas uma parte dos presentes se levantou para aplaudir. O embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, que chefiou a negociações diplomáticas do Brasil na conferência, e que coordenava a mesa da plenária, abriu um largo sorriso e levantou as mãos em comemoração com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, sentado ao seu lado.
Somente após Figueiredo bater o martelo, países pediram para falar ao microfone e expressar suas opiniões. "Apoiamos a adoção deste documento", disse o comissário da União Europeia para o Meio Ambiente, Janez Potocnik, que na madrugada de terça-feira mostrava indignação com a falta de transparência e a pressa do Brasil em fechar um documento que ele considerava muito pouco ambicioso.
Conquistas"Documento é ponto de partida", diz Dilma
Agência Estado
A presidente Dilma Rousseff rebateu as críticas que recebeu de alguns dirigentes europeus e de organizações não governamentais ao documento final acordado entre os países que participaram da Rio+20. Para a presidente, o Brasil mostrou que é capaz de fazer uma conferência internacional deste porte e defendeu a importância de ter sido produzido um documento único, que se transformou em "plataforma comum para todos os países".
"Isso é uma grande conquista para todos nós", declarou a presidente ontem, destacando ainda a importância de se respeitar a diversidade e a necessidade de se conviver com a multilateralidade". Para Dilma, "países não podem ignorar que estamos vivendo no multilateralismo" e pregou que "pensamento único nunca mais".
A presidente reiterou que o documento é "um ponto de partida". Segundo ela, o que agora está registrado no texto terá de ser respeitado por todos os países signatários.
Repetindo discurso usado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma considerou importantes as pressões para garantir os avanços no sentido de incluir na agenda a criação do fundo para financiamento, por exemplo, de países pobres da África. Ela lembrou que "muitos países desenvolvidos não quiseram assinar o financiamento".
Avisou, no entanto, que o Brasil quer e vai trabalhar pela criação do fundo e que não aceita ser responsabilizado, por dirigentes europeus, por exemplo, que não quiseram assinar a criação do fundo e criticaram o documento. "Todos os países envolvidos têm de ser responsabilizados. Ninguém aqui pode ficar apontando o dedo para ninguém", desabafou.