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Mesmo com preço baixo, agricultores insistem em manter áreas com nativa
Apesar das vantagens, a bracatinga está perdendo espaço para o pínus e o eucalipto. A retração nas vendas afetou a área plantada, que já foi muito maior. Só na região de Bocaiúva do Sul já chegaram a ser 35 mil hectares. Hoje estão em 6 a 7 mil, conta Ronei José Tres, chefe do escritório da Emater na cidade. A bracatinga rende 200 metros cúbicos de madeira por hectare, contra 400 metros cúbicos das exóticas mais usadas, como pinus e eucalipto.
O preço, no momento, também não está ajudando: o produtor que vende diretamente está recebendo na faixa de R$ 30 pelo metro cúbico, enquanto que as exóticas estão rendendo R$ 45. "Mas ainda vale a pena. Gastei só a metade disso para produzir", comenta João David Scremin, que também é apicultor e aluga imóveis, como forma de diversificar as fontes de renda. Ele mantém bracatingais há 40 anos, já reduziu a área, mas agora quer voltar a expandir. Hoje tem algo como cinco campos de futebol com árvores em diversos estágios.
Como quase não dá trabalho na manutenção, a bracatinga é uma opção para quem não dispõe de mão de obra farta. "Eu tenho 56 anos e só tive filhas mulheres. Não tenho quem me ajudar. A bracatinga se cria sozinha. Precisa só carpir no primeiro ano. Depois não tem investimento. Chova ou não, ela dá. E quando está no ponto, contrato gente para cortar e estaleirar", relata Scremin. Por ser fina e com poucos galhos, o corte da bracatinga exige bem menos esforço físico que as exóticas.
Uma árvore nativa que cresce mais rápido que plantas exóticas usadas em reflorestamento, que praticamente não dá trabalho e que tem mais poder calorífico, na forma carvão ou biomassa, do que o pinus. Essa é a bracatinga, uma espécie que só não virou uma grande opção de renda para proprietários rurais porque empecilhos em série impedem o avanço como atividade econômica.
Os poucos avanços no melhoramento genético, a falta de uma cadeia produtiva, o envelhecimento da população no campo, a burocracia e a insistência de proprietários em manter as mesmas técnicas de cultivo são alguns dos fatores que freiam a expansão.
No solo empobrecido e pedregoso de uma das regiões mais pobres do Paraná, o Vale do Ribeira, a árvore fina e comprida podia representar uma guinada na economia local. Na década passada, Emater e Embrapa tentaram incentivar a ampliação dos bracatingais. Em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), foi elaborado um projeto que pretendia evitar o êxodo rural e melhorar a renda dos pequenos produtores.
Quando passa dos 8 anos de vida, a bracatinga cria um cerne escurecido, resistente e bonito para a fabricação de móveis (como a mesa na foto ao lado). Mas a tentativa de estimular a indústria moveleira a apostar nesse tipo de madeira não despertou os efeitos desejados. E o produtor, inseguro se haveria interesse pelo produto de médio prazo, preferia não esperar a formação do cerne e decidia cortar as árvores assim que estavam prontas para lenha. A incubadora de negócios não deslanchou e o barracão construído para o beneficiamento em Bocaiúva do Sul hoje abriga máquinas da prefeitura. Sem um fim nobre, que poderia vir com o uso industrial, a madeira acaba com pouco valor agregado.
Como é uma espécie nativa, a bracatinga precisa de autorização de corte pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Os produtores ouvidos pela reportagem contam que a demora em conseguir a licença muitas vezes inviabilizava o negócio. O ideal é que ela seja cortada no inverno, para que rebrote, mas o processo burocrático, muitas vezes por falta de pessoal técnico, costumava levar vários meses, atrasando todo o ciclo.
Também em escala nacional, algumas medidas complicaram a expansão dos bracatingais. Uma empresa fez uma pesquisa internacional e decidiu investir em pastilhas de bracatinga para lareiras. A Cepevil instalou uma fábrica em União da Vitória, no extremo Sul do Paraná, voltada à exportação. Mas ocorreram mudanças na regra do jogo. Usar carvão de bracatinga no Brasil continuou liberado, mas vender ao exterior passou a ser proibido. Sem mercado interno, a fábrica fechou há dois meses. Situações como essa colocam em dúvida o futuro dos bracatingais.
O fogo
Depois do corte, o bracatingal não precisa de plantio de sementes ou novas mudas para se regenerar. Ele brota sozinho. A árvore deixa muitas sementes no solo. O problema é que elas precisam de calor para germinar. É o que os técnicos chamam de "quebrar a dormência". O produtor costuma colocar fogo na área para que a bracatinga rebrote. A queimada tem vários pontos negativos, como prejudicar o desenvolvimento de outras espécies. Em laboratório e viveiros, a dormência é quebrada com água quente.
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