O uso de etanol e outros biocombustíveis e a adoção de técnicas de captura de gás carbônico da atmosfera dividem cientistas e delegados governamentais do Painel de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC), reunidos em Berlim. O rascunho do documento que vem sendo discutido nesta semana prega as duas alternativas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, com isso, tentar limitar o aumento da temperatura média da Terra a 2°C até 2100. Os biocombustíveis - tema que interessa ao Brasil - e a captura de carbono se tornaram dois dos pontos de divergências do relatório. Em Berlim, a comunidade científica e os delegados governamentais buscam o consenso sobre as medidas a serem adotadas - a trajetória das emissões indica um aumento da temperatura de 4°C em relação ao período pré-industrial.
Além da produção de etanol e da adoção de biocombustíveis, o documento menciona as tecnologias de geoengenharia, voltadas à captura de dióxido de carbono (CO2). O rascunho do relatório do IPCC prega o uso de biomassa - composto de matérias orgânicas de origem vegetal - para produção de eletricidade e para captura e estocagem de CO2 (Biomass energy with carbon capture and storage BECCS, na sigla em inglês). O documento em discussão indica que a técnica tem potencial para extrair da atmosfera um total de 10 bilhões de toneladas de CO2 por ano, um total semelhante às emissões da China. A tecnologia, no entanto, tem alto custo, exigiria "implementação de larga escala" para ter impacto real e ainda é experimental, com custos e riscos sujeitos a "grandes incertezas científicas".
As menções no rascunho do relatório do Grupo de Trabalho 3, sobre mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, ainda podem ser suprimidas até o fim de semana, quando o documento final deve ser entregue. Delegados de países como China, Japão e Rússia, além da União Europeia, estariam impondo obstáculos ao tema.
Evolução
Questionado pelo Estado às vésperas da reunião plenária de experts, o climatologista belga Jean-Pascal van Ypersele, vice-coordenador do IPCC, não aceitou comentar sobre biocombustíveis e captura de carbono. "As reuniões plenárias são sempre difíceis. Entre os grupos de trabalho 1, 2 e 3 há uma espécie de evolução em termos de dificuldade, porque o primeiro é muito científico, o segundo já toca mais na vida cotidiana e o terceiro é bem mais político", explicou. O documento final do Grupo de Trabalho 3 é a última etapa antes do relatório-síntese do IPCC, que será apresentado em outubro, em Copenhague.
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