A natureza está em flagrante desequilíbrio no ainda exuberante Parque Nacional do Iguaçu, no Oeste do Paraná. A presa preferida da onça-pintada, um tipo de porco chamado de queixada, não é avistada desde 1997 no lado brasileiro do parque. Na década de 90, pesquisadores estimavam a presença de 150 a 180 onças-pintadas nos 1,8 mil quilômetros quadrados da unidade de conservação. Hoje, não existiriam mais do que 18. Os biólogos mais pessimistas falam em seis. No ritmo em que a população do maior felino das Américas vem diminuindo, a perspectiva é de que a espécie esteja extinta em 80 anos, de acordo com projeção feita em 2010 pelo projeto Carnívoros. "Do jeito que vai indo, as próximas gerações não mais conhecerão esse animal maravilhoso", lamenta a bióloga francesa Anne-Sophie Bertrand, que pesquisa a fauna do parque desde 2006.
A ausência de onças-pintadas entre as milhares de fotografias feitas por câmeras com sensores de calor e movimento instaladas em meio à mata é mais um indicativo claro de que os felinos estão sumindo. "Tenho mais imagens em que aparecem pessoas no meio da vegetação", conta Anne-Sophie. A bióloga comenta que tem percebido uma crescente simplificação da composição animal no parque. Como a natureza é baseada no equilíbrio, a falta de alguma espécie é capaz de desestabilizar o sistema ecológico. "O queixada é um herbívoro importante dispersor e predador de sementes. Como anda longas distâncias, tinha a função de levar espécies para outros lugares", afirma.
Argentina
O lado argentino do parque ainda tem queixadas. A expectativa de que os animais atravessassem o rio e voltassem a ocupar a porção brasileira ainda não se confirmou. Não se sabe com precisão qual é a quantidade e a diversidade de espécies animais que habitam o parque. As informações até agora confirmadas apontam a existência de 76 espécies de mamíferos. No lado argentino, com características florestais e climáticas originalmente bem semelhantes, já foram encontradas 118 espécies.
Por causa da extensão, o Parque Nacional do Iguaçu está entre as poucas áreas de Mata Atlântica do Brasil capazes de comportar esses animais. O local é o último habitat natural da espécie no Sul do país. Os pontos mais próximos com registro de onças são o litoral de São Paulo e do Rio e o Pantanal. A presença de onças-pintadas é sinal de saúde ambiental. No topo da cadeia alimentar, é um animal que precisa de áreas bem conservadas para encontrar caça. De nada adianta um grupo pequeno que não seja capaz de se reproduzir com o mínimo de variabilidade genética para manter a espécie.
Interferência humana também causa desequilíbrio na espécie
Tanto as onças-pintadas como os queixadas são vítimas da redução de áreas naturais e da interferência humana. Sem comida, as onças tendem a deixar a reserva e atacar animais domésticos e de criação. "Infelizmente, não temos dados históricos nem pesquisas complexas que mostrariam como os animais estão reagindo às pressões e mudança do habitat", diz a bióloga Anne-Sophie Bertrand. Além da caça, a captura de animais para venda também é uma ameaça para a fauna.
Apenas uma onça-pintada estaria sendo monitorada no parque atualmente. Com o nome de Naipi, uma fêmea de pouco mais de dois anos mora nas redondezas da área de visitação. Recentemente, um vídeo em que ela aparecia passeando pelas imediações do hotel existente dentro do parque circulou na internet.
Um macho chamado de Sancho também ostentava uma coleira que permitia aos pesquisadores saber onde ele estava, mas o sinal deixou de ser captado em outubro do ano passado. O aparelho pode ter estragado ou o animal foi morto.