No dia da árvore, em 21 de setembro, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza completa 25 anos. E árvore tem tudo a ver com o princípio da ONG ambiental. É que Miguel Krigsner, que criou o Grupo Boticário, pretendia plantar uma árvore para cada produto fabricado. Além da dificuldade para encontrar lugar e conseguir cuidar de tantos milhões de mudas, a organização logo percebeu que atuar de forma efetiva na defesa da natureza era mais complexo do que plantar árvores. Começou, então, a proteger áreas naturais e a incentivar pesquisas e trabalhos ligados à conservação ambiental.
Aniversário é marcado por evento internacional
- Katia Brembatti Malu Nunes
A comemoração do aniversário da Fundação Boticário ocorrem meio a um dos principais eventos de conservação ambiental do país. Na segunda-feira (21), começa o 8.º Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), no Expo Unimed. A programação vai até sexta-feira (25) e inclui nomes reconhecidos internacionalmente na área ambiental.
Mais de mil participantes são esperados para o evento, entre gestores de unidades de conservação, cientistas e técnicos ligados à administração pública, instituições de ensino e pesquisa e comunidade em geral. O evento é restrito a inscritos, mas haverá uma mostra paralela aberta ao público. Também pode ser visitada da exposição interativa Conexão Estação Natureza, que teve curta duração no Shopping Palladium e foi transferida para o Expo Unimed.
Entre os palestrantes confirmados estão Ryan Hreljac, canadense que arrecadou recursos para construir poços na África, o cineasta Fernando Meirelles, que produziu o filme A Lei da Água, Maria Tereza Jorge Pádua, da Comissão Mundial de Áreas Protegidas, Bráulio Dias, secretário executivo da Convenção da Diversidade Biológica da ONU, e Sue Gardner, diretora do Parque Golden Gate. O modelo nova-iorquino de captação de água e conservação de mananciais e os novos programas do Google para retratar áreas naturais também serão abordados.
A primeira funcionária – na verdade, à época, estagiária – foi a bióloga Malu Nunes. Ela galgou cargos na organização até chegar ao posto que ocupa hoje, de diretora-executiva. Malu conta que a fundação surgiu antes do boom ambiental experimentado a partir da Rio 92, evento da ONU que impulsionou as discussões ecológicas. Ela acredita que entre os desafios brasileiros hoje está conseguir fontes de financiamento para projetos ambientais. É que até pouco tempo, quando era considerada uma nação subdesenvolvida, era mais comum a destinação de verbas estrangeiras. Ao ganhar status de potência econômica, os recursos de instituições internacionais minguaram.
Entre os projetos desenvolvidos pela própria fundação estão trabalhos como o Oásis, que resguarda mananciais que abastecem 8 milhões de pessoas, com mais de 700 nascentes protegidas. As pesquisas apoiadas ajudaram a identificar 126 novas espécies, sendo sete no Paraná. Inclusive dois anfíbios, três peixinhos, um maracujá e uma urtiga levam, no nome científico, homenagens ao Boticário.
A fundação ainda mantém duas áreas naturais. A Reserva de Salto Morato, em Guaraqueçaba, há duas décadas recebe pesquisadores e visitantes num dos trechos mais preservados de Mata Atlântica no estado. Anos mais tarde, foi adquirida também a reserva do Tombador, no Cerrado goiano. Somadas, têm área equivalente a quase 80 Parques Barigui.
Um dos diferenciais da fundação – que a torna menos suscetíveis a intempéries econômicas e a mudanças de chefia – é a governança. Todo ano, 1% da receita líquida do Grupo Boticário vai para programas de investimento social privado, sendo a maior parte para a fundação, que tem autonomia para decidir como investirá os recursos. O orçamento da fundação neste ano é de R$ 18 milhões.
Ao longo dos 25 anos, mais de US$ 15 milhões (aproximadamente R$ 57 milhões) foram destinados a projetos externos – financiamento de projetos (pesquisas e ações) escolhidos por editais. “Foi uma forma de estar presente no Brasil todo sem precisar ter 500 funcionários”, comenta Malu. A consistência financeira da fundação permite que sejam assumidos compromissos de médio prazo, por exemplo, ainda raros no setor ambiental. Quando se trabalho com recursos escassos, muitas vezes é necessário desmobilizar a equipe ao fim do projeto, e aí se esvai a experiência acumulada. “O desafio agora é ganhar escala”, finaliza.