Brasil exporta 25 mil toneladas de mel por ano
Atualmente, o Brasil conta com 350 mil apicultores. Se forem contados os grupos familiares envolvidos com insumos para a produção anual de 50 mil toneladas de mel, a CBA calcula que esse número suba para um milhão de pessoas. Décimo primeiro no ranking mundial em produtividade de mel, o Brasil é o 5º maior exportador, com 25 mil toneladas ao ano. "Temos potencial para melhorar esse ranking, esperamos que isso ocorra", afirma José Cunha.
Dados numéricos sobre a diminuição no número de abelhas no mundo são difíceis de ser encontrados. Um levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), de 2007, reproduzido em relatório da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab) aponta que, enquanto a produção de mel no mundo subiu de 1.377 mil toneladas em 2004 para 1.384 em 2005, a produção caiu no Brasil no mesmo período, indo de 32 mil toneladas para 25 mil toneladas. Da acordo com a Seab, de 2000 para 2005 a produção mundial de mel cresceu 10,81%, porém alguns países, como Argentina, Estados Unidos, México e Canadá, experimentaram retração de produção.
Distúrbio
Desaparecimento de colônias preocupou Santa Catarina
No Brasil, o distúrbio do colapso das colônias nome dado ao desaparecimento em massa de abelhas iniciado nos EUA, em 2006 preocupou apicultores e fruticultores de Santa Catarina entre os anos de 2010 e 2011. Na ocasião, estima-se que, das 100 mil colmeias usadas para a polinização dos pomares, pelo menos 40% foram perdidas. O dado é alarmante, levando-se em consideração que 90% da produção de maçã no estado depende diretamente das abelhas, que transportam o pólen para promover a fecundação.
"Em 2011, a situação chegou ao limite, faltando abelha para levar para dentro dos pomares. Fora isso, a diminuição delas no ambiente natural prejudicou o serviço de polinização gratuito na natureza, levando à redução significativa de espécies vegetais em longo prazo. Menosprezamos o serviço ecológico que as abelhas nos prestam", defende Afonso Inácio Orth, professor do departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Segundo Orth, as causas da diminuição de abelhas em Santa Catarina ainda não foram totalmente explicadas, mas existem suspeitas de problemas patológicos, ou seja, da presença de ácaros ou protozoários. O comportamento climático, acrescenta o professor, também tem relação com a vida das abelhas. "No ano passado, quase não houve perda. Tivemos um inverno relativamente seco, praticamente não choveu, talvez isso facilitou. Como o problema diminuiu, não temos um levantamento extensivo deste ano, não estamos mais acompanhando tão diretamente."
Embora a maioria das pessoas as vejam simplesmente como fabricantes de mel, as abelhas são, provavelmente, o inseto mais importante para a vida na Terra. Segundo estudos da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), são elas as responsáveis pela polinização de, pelo menos, 70% das culturas, o que corresponde a 90% da oferta global de alimentos. Exatamente por isso, o desaparecimento repentino e ainda não explicado de abelhas no mundo durante os últimos anos tem preocupado especialistas. Enquanto na Europa o Greenpeace lançou uma campanha com o objetivo de protegê-las, no Brasil o assunto vem sendo discutido pela Confederação Brasileira de Apicultores (CBA), que pede a criação de leis que satisfaçam acordos internacionais de proteção aos polinizadores.
O presidente da CBA e da câmara setorial do mel em Brasília, José Cunha, recorda que o assunto foi debatido na Câmara Federal, no início de julho, por instituições, fabricantes, apicultores e pesquisadores. "Cada um defendeu seus interesses. Nosso objetivo é dar suporte para a comissão votar leis que satisfaçam acordos que o Brasil tem perante aFAO." Cunha explica que o Brasil é um dos países que mais recebeu recursos para um projeto de polinizadores da FAO segundo ele, são sete projetos em curso, um em cada bioma nacional. Ainda assim, o país está atrasado em questões como uso de agrotóxicos, substâncias que, comprovadamente, causam desorientação nas abelhas. "Elas saem para coletar néctar e não voltam."
Inseticidas
Em abril, a União Europeia anunciou que três inseticidas mortais para as abelhas serão proibidos nos países membros durante dois anos, a partir deste mês. No Brasil, embora admita efeitos de agrotóxicos sobre as abelhas, o Ibama recuou. "Se lá não pode, por que vender no Brasil e na África? A alternativa que encontraram lá queremos para nós também", ressalta Cunha. Segundo ele, o desaparecimento de abelhas, que atingiu os Estados Unidos, em 2006, está às portas do Brasil.
As áreas mais ameaçadas são as de monocultura de cana-de-açúcar, com aplicação aérea de agrotóxicos, as de citricultura e as do cerrado, onde as semeadeiras de ar comprimido deixam partículas suspensas no ar. "Esses agrotóxicos são sistêmicos. A planta se desenvolve e o produto tóxico vai para seiva, pólen, néctar, ficando no solo por até cinco anos. Mesmo na rotação de culturas continua presente, atingindo o lençol freático. Os polinizadores estão pagando um preço muito alto, é um passivo ambiental ainda incalculável."
Projeto quer introduzir espécies nativas em produção de frutas
Além do prejuízo causado pelo desmatamento para avanço das áreas agrícolas, as abelhas indígenas sem ferrão espécies nativas do Brasil sofrem com a invasão das abelhas africanizadas e europeias, mais interessantes comercialmente por produzirem maior quantidade de mel. "As espécies africanas e europeias foram introduzidas no país na década de 1950 e se tornaram um fator de risco para as nativas porque são invasoras que tomam o nicho ecológico. Temos algumas espécies desaparecidas, mas não dá para falar em extinção ainda", explica o professor de fisiologia e entomologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Oilton Macieira.
De acordo com o professor, as abelhas indígenas são importantes porque fazem o trabalho de polinização das plantas, oferecendo um risco muito menor ao ser humano. "No Japão, por exemplo, estufas gigantes, do tamanho de campos de futebol, são utilizadas para polinização com essas abelhas. A agricultura orgânica no Brasil está começando a ver as coisas dessa forma também, usando caixas de abelha em estufas onde não houve uso de agrotóxicos," diz Macieira.
O número de espécies de abelhas indígenas no Paraná não é conhecido, mas estudos localizados encontraram 14 delas em Têlemaco Borba, nos Campos Gerais, e 16 em uma reserva ecológica no Norte do estado. Para preservá-las, Macieira e outros professores da UEL estão desenvolvendo um projeto para incentivar a introdução dessas espécies em propriedades que trabalham com apicultura.
Atualmente, o projeto está na fase de duplicação de ninhos. Posteriormente, produtores de frutas serão procurados pela equipe. "Estamos tentando conscientizar os produtores a terem caixas de abelha", explica o professor.
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