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História

Memória industrial prestes a virar pó

 | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
(Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)
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Silenciosamente, as cinco chaminés de tijolo à vista tentam resistir ao tempo. Já não cospem a fumaça negra dos fornos, nos quais se fabricavam manilhas e refratários. Fundada em 1871, no bairro Bacacheri, em Curitiba, a antiga Cerâmica São Marcos está desativada há pelo menos dois anos. Com a transformação do espaço urbano, assim como esta, outras fábricas da capital também se tornaram espaços vazios ou deram lugar a outros empreendimentos. Agonizam, num lento processo de deterioração. O movimento ameaça a memória industrial da cidade, prestes a, literalmente, virar pó.

Outros exemplos não faltam. Do prédio que sediava a fábrica de malas Ika, no Batel, restou apenas o esqueleto de concreto e a fachada. O vasto terreno segue desocupado. No Rebouças, a edificação de 1927 onde funcionava a Mate Real agora serve de estacionamento. No outro lado da rua, o que era a sede da Mate Leão foi demolida para dar lugar a uma igreja evangélica.

Especialistas explicam que o fenômeno está relacionado à dinâmica do planejamento urbano da capital e à especulação imobiliária. A partir da década de 1970, com a criação da Cidade Industrial de Curitiba, houve uma migração crescente das fábricas para lá. "Houve um interesse indireto da prefeitura em estimular que as indústrias se mudassem para a área, planejada para este fim", resume o arquiteto Rodrigo Firmino, pesquisador da pós-graduação em Gestão Urbana, da Pontifícia Universidade Católica (PUCPR).

Preservação

Para urbanistas, a preservação da memória arquitetônica depende de uma ação conjunta de órgãos municipais, como o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). O arquiteto Humberto Fogassa, professor da Universidade Tuiuti e especialista em revitalização arquitetônica, defende que o município só aprove nessas edificações projetos de alterações que levem em conta seus aspectos históricos e arquitetônicos.

"É verdadeiramente possível hoje dar novos usos às antigas construções, mantendo valores históricos e estéticos intrínsecos aos edifícios", disse. Uma saída para isso seria considerar antigas fábricas como áreas de interesse de preservação, o que limitaria intervenções e alterações estruturais nos prédios.

Numa tentativa de registrar as fábricas curitibanas, o geólogo Paulo César Manzig e a historiadora Juliana Pereira passaram um ano percorrendo e fotografando as unidades fabris históricas da cidade. O resultado está no livro Arqueologia Industrial na Paisagem Urbana de Curitiba. "A fábrica desativada é uma casa de história. Então é muito fácil que isso se rompa e se perca. A ideia foi preservar essa memória", conta Juliana.

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