Urubus e ratos tomam conta dos terrenos
Na desativada Cerâmica São Marcos, os barracões vazios, com vidros quebrados e portas abertas dão o tom do abandono. Só há algum movimento quando uma ou outra equipe usa o espaço para produções de moda, aproveitando o ar pitoresco do lugar. Apesar disso, o terreno segue bem cercado, sob vigilância.
No condomínio em frente, os vizinhos não reclamam da falta de ocupação do imóvel, mas se lembram saudosos do auge da fábrica. "Devia ter uns cem funcionários. Na hora da saída, era um formigueiro de gente", lembra a aposentada Elda Mariza Grandene.
Já a antiga fábrica da Ika desativada há cerca de dez anos ainda causa dor de cabeça aos vizinhos. Os "moradores" das ruínas do prédio são três urubus e uma miríade de ratos estes costumam invadir casas e comércios nos arredores à procura de comida. Além disso, o imóvel costuma receber "visitas" constantes.
"Quase todo dia, uma piazada pula o muro, com sacolas de bebidas e skates e ficam aí. Muitos com uniformes de colégio", conta a farmacêutica Vânia Yassaka, que mora ao lado. A pichação nas paredes são as marcas deixadas pelos visitantes.
A Gazeta do Povo tentou contato com os responsáveis pela Cerâmica São Marcos, mas a secretária informou que o proprietário não poderia atender a reportagem. Os proprietários do terreno onde funcionava a Ika não foram localizados.
Prefeitura
Ippuc diz que estuda ampliar unidades de interesse de preservaçãoO Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), responsável pelos imóveis históricos da cidade, afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que estuda maneiras de proteger o patrimônio histórico e arquitetônico da capital. O órgão informou que analisa alternativas de reformulação legal para incluir mais imóveis no rol de unidades de interesse de preservação.
Em virtude de casos recentes, em que alguns proprietários questionam judicialmente o decreto que trata das unidades de interesse de preservação, o instituto informou que não iria se manifestar sobre as fábricas da Ika e da Cerâmica São Marcos, abordadas na reportagem.
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Silenciosamente, as cinco chaminés de tijolo à vista tentam resistir ao tempo. Já não cospem a fumaça negra dos fornos, nos quais se fabricavam manilhas e refratários. Fundada em 1871, no bairro Bacacheri, em Curitiba, a antiga Cerâmica São Marcos está desativada há pelo menos dois anos. Com a transformação do espaço urbano, assim como esta, outras fábricas da capital também se tornaram espaços vazios ou deram lugar a outros empreendimentos. Agonizam, num lento processo de deterioração. O movimento ameaça a memória industrial da cidade, prestes a, literalmente, virar pó.
Outros exemplos não faltam. Do prédio que sediava a fábrica de malas Ika, no Batel, restou apenas o esqueleto de concreto e a fachada. O vasto terreno segue desocupado. No Rebouças, a edificação de 1927 onde funcionava a Mate Real agora serve de estacionamento. No outro lado da rua, o que era a sede da Mate Leão foi demolida para dar lugar a uma igreja evangélica.
Especialistas explicam que o fenômeno está relacionado à dinâmica do planejamento urbano da capital e à especulação imobiliária. A partir da década de 1970, com a criação da Cidade Industrial de Curitiba, houve uma migração crescente das fábricas para lá. "Houve um interesse indireto da prefeitura em estimular que as indústrias se mudassem para a área, planejada para este fim", resume o arquiteto Rodrigo Firmino, pesquisador da pós-graduação em Gestão Urbana, da Pontifícia Universidade Católica (PUCPR).
Preservação
Para urbanistas, a preservação da memória arquitetônica depende de uma ação conjunta de órgãos municipais, como o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). O arquiteto Humberto Fogassa, professor da Universidade Tuiuti e especialista em revitalização arquitetônica, defende que o município só aprove nessas edificações projetos de alterações que levem em conta seus aspectos históricos e arquitetônicos.
"É verdadeiramente possível hoje dar novos usos às antigas construções, mantendo valores históricos e estéticos intrínsecos aos edifícios", disse. Uma saída para isso seria considerar antigas fábricas como áreas de interesse de preservação, o que limitaria intervenções e alterações estruturais nos prédios.
Numa tentativa de registrar as fábricas curitibanas, o geólogo Paulo César Manzig e a historiadora Juliana Pereira passaram um ano percorrendo e fotografando as unidades fabris históricas da cidade. O resultado está no livro Arqueologia Industrial na Paisagem Urbana de Curitiba. "A fábrica desativada é uma casa de história. Então é muito fácil que isso se rompa e se perca. A ideia foi preservar essa memória", conta Juliana.
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