Uma surra com direito a socos, pontapés e tapas fez com que uma menina de 4 anos chegasse desacordada na manhã desta quinta-feira (27) no Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, falecendo logo em seguida. Além das lesões e hematomas, a criança apresentava sinais de abuso sexual e sua mãe foi chamada para depor. Depois de apresentar uma versão inconsistente para explicar o desmaio da menina, Karen Rodrigues de Lima, de 26 anos, acabou confessando que ela havia agredido a filha porque a criança defecou e urinou na cama. Ela afirmou que não sabia que a menina era violentada, mas suspeitava das atitudes do cunhado.
Os golpes que levaram a criança ao hospital aconteceram na casa da família, na Vila Zumbi, em Colombo e se concentraram principalmente na barriga e cabeça. Quando a menina desmaiou, a mãe pediu para um vizinho levá-la ao hospital sem contar o que havia acontecido. Quando começou a ser examinada, a equipe médica constatou as lesões e acionou a delegacia de Campina Grande do Sul. Durante a confissão, Karen afirmou que não era a primeira vez que agredia a garota e que também batia na outra filha, gêmea da que morreu. Além das duas meninas, a mulher possui um filho de 3 anos de idade.
"Ela alegou que se sentia pressionada e acabava descarregando nas filhas", conta o delegado Osmar Feijó, que abriu o inquérito em que Karen será indiciada por lesão corporal seguida de óbito. A mulher foi presa na hora e encaminhada para uma cela com proteção especial, já que corre risco de morte pelo tipo de crime que cometeu.
Sobre o abuso sexual, a mulher contou que uma vez notara um machucado nas partes íntimas da menina, mas que não deu importância e tratou com uma pomada. Quando perguntada quem poderia estar cometendo os atos disse que um dos tios da menina apresentava um comportamento estranho. O marido de Karen e os irmãos dele foram chamados a depor e Claudecir do Nascimento Duarte, de 30 anos, confessou que acariciava as partes íntimas da garota. "Fizemos a coleta de material de DNA e o laudo irá comprovar se houve penetração ou não, como ele alega. Embora não tenha existido a conjunção carnal já é considerado estupro pela idade da menina", explica o delegado.
Duarte morava na casa ao lado à da família de Karen e contou que só abusava da criança que morreu. Foi feito o pedido de prisão temporária dele, que foi transferido para a delegacia de Alto Maracanã, que assume as investigações do caso.
Segundo Feijó, nem Karen e nem Claudecir eram usuários de drogas ou álcool e que aparentemente os dois podem ter distúrbios mentais. "Depois de passar uma noite presa a mulher continua impassível. Neste tempo já era para ela ter caído em si sobre tudo o que aconteceu. Já o tio não demonstra remorso e só se arrepende do que fez porque está preso e não pode trabalhar."
Conselho tutelar
O conselho tutelar de Colombo foi acionado no início da tarde desta quinta-feira e esteve na casa da família para verificar as condições em que moravam as crianças. Após constatar o risco social em que viviam, o conselho recolheu os dois e desde ontem eles estão sob custódia do Estado, acolhidos em uma instituição de acordo com a faixa etária específica. O caso já foi comunicado ao Ministério Público.
O conselheiro Jeremias José Fontoura contou que aparentemente a gêmea que sobreviveu e o menino de 3 anos não tinham sinais pelo corpo, mas que foram encaminhados para o Instituto Médico Legal onde fizeram exames para detectar se houve violência, ato libidinoso e conjunção carnal. O número do protocolo dos exames foi anexado ao inquérito policial e o laudo deve sair entre 30 e 45 dias. "Embora inconscientes do que está acontecendo, as crianças são bem comunicativas e nos deram muitas informações importantes que serão incluídas no processo. A menina disse, por exemplo, que mancava porque levou um soco da mãe. Só isso já é suficiente para serem afastadas do convívio com a mulher e para darmos continuidade ao processo."
Segundo Fontoura, uma pessoa da família pediu ao conselho tutelar para ficar com a guarda das crianças e a mesma será investigada e avaliada antes das crianças deixarem a instituição social onde estão.
O conselheiro faz um apelo para que qualquer pessoa que desconfie de que uma criança seja violentada, física ou sexualmente, faça a denúncia no conselho tutelar para evitar que fins drásticos como esse aconteçam. "A comunidade tem o dever de denunciar. Urinar na cama até uma idade avançada é um dos sinais de alerta. Ou indica que está existindo abuso sexual ou que há uma doença que não está sendo cuidada pela família", afirma.
Ele ressalta que todas as denúncias que chegam até o conselho tutelar são tidas como verdadeiras e investigadas até que o autor da violência ou do descaso prove o contrário.