O consumo de cigarro e bebida alcoólica não pode mais ser considerado algo comum apenas ao universo adulto e masculino. Dados da pesquisa "Retrato Londrina", da JGV Pesquisa de Mercado Opinião, encomendada pela RPC, mostram que entre adolescentes de 10 a 17 anos entrevistados em Londrina, no Norte do Paraná, as garotas são a maioria entre os que se declararam usuários de cigarro e bebida.
O que a pesquisa não mostra, mas que os especialistas também alertam sobre o assunto é que, independentemente do sexo, o consumo de drogas tem começado cada vez mais cedo. Tem deixado de acontecer na adolescência, que é a partir dos 12 anos, para começar ainda na infância.
Operação realizada pela Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu) em Londrina nos dias 29 e 30 de junho e 1º de julho encaminhou cerca de 200 adolescentes ao Conselho Tutelar. A maioria foi abordada e bares ou locais de venda de bebidas.
Já o consumo de bebida alcoólica se mostra muito maior entre os adolescentes. Pelo levantamento, 38,3% disseram que já experimentaram; 3,5% afirmaram que foram usuários e 9,6% se consideram usuários. Desse último grupo, 63,6% são do sexo feminino.
Pela pesquisa, dos entrevistados, 13% afirmaram que já experimentaram cigarro, 2,6% disseram que já foram usuários e 7,8% afirmaram ser fumantes. Deste grupo, 63,6% são garotas.
"As garotas estão bebendo sim, mais. Não posso dizer se mais que os rapazes, mas elas bebem mais do que bebiam. Isso percebo nas adolescentes que atendo e é só andar pelos bares da cidade para ver há mesas só de garotas bebendo. E não são mais aqueles drinks coloridos, mas leves. É cerveja, é vodca. O resultado já podemos ver: com essa moda de calça baixa, já podemos ver várias garotas com barriga de cerveja. Aos 14 anos, quase todas as adolescentes já bebem", afirmou o hebiatra da Associação Brasileira de Adolescência (Asbra), Walter Marcondes Filho.
A psicóloga Carla Braga, especialista em adolescentes, disse que a significativa participação de garotas entre usuários de drogas acompanhou a mudança da sociedade. "As mulheres conquistaram igualdade e isso [grande número de garotas usuárias de drogas] é reflexo do mundo atual. Os adolescentes estão inseridos nessa sociedade", afirmou a psicóloga.
Adolescentes admitem o uso de bebida
Quinta-feira, quatro horas da tarde, quatro amigas entre 15 e 16 anos estão sentadas em uma mesma mesa de um espaço comercial no centro de Londrina. A reportagem pergunta se alguma delas já tinha experimentado bebida alcoólica e se alguma já tinha passado do limite. "Ficar de porre?", pergunta uma delas. Todas dizem que sim.
"Foi em um churrasco, em uma chácara. Chegamos de dia e ficamos até à noite. Cervejinha rolando o dia inteiro... não tem como se safar", disse uma das garotas, de 16 anos. Mas esse não foi o primeiro e, segundo elas, não será o último. "A gente não fica bebendo na rua, saindo por aí. Mas a gente gosta [de beber]. Temos que curtir a vida, pois daqui a pouco a gente fica adulta, é só responsabilidade", justificou outra, com 15 anos.
E os pais, sabem do consumo de álcool? Falam alguma coisa? "A minha mãe acho que até sabe, mas nem fala nada", afirmou a garota de 16 anos. "O meu pai fala que eu sou responsável por aquilo que faço. Se eu abusar, quem vai sofrer as conseqüências sou eu. Acho isso legal. Mas eu só dou uma abusadinha", disse uma terceira garota. Das quatro, apenas uma se considera fumante, mas disse que os pais não sabem do vício. "Faço de tudo para esconder."
Levantamento ouviu 141 adolescentes
O levantamento feito pela JGV Pesquisa de Mercado Opinião foi feito em março. Foram ouvidos 141 adolescentes em Londrina de 10 a 17 anos, dos dois sexos, de todas as classes econômicas e em todas as regiões da cidade. Os dados foram coletados por entrevistas pessoais, individuais e domiciliares, que duraram entre 25 a 40 minutos. Ao todo foram feitas 77 perguntas aos adolescentes sobre questões comportamentais, perfil sociodemográfico, hábitos ligados a consumo e opinião sobre a cidade. Outros resultados da pesquisa serão tema para futuras reportagens do JL.
Consumo crescente de drogas tem preocupado especialistas
Especialistas relatam que tem aumentado a procura de jovens aos consultórios médicos com relatos de problemas causados por uso de maconha e outras drogas ilícitas e que aqueles que consomem bebida álcoolica podem ser encontrados em qualquer lugar da cidade.
"Percebo que o consumo do cigarro diminui. Hoje a maioria dos meus alunos não fuma. O cerco contra o cigarro foi grande, com propaganda alertando para os problemas e proibição de fumar em locais públicos. No entanto, o mesmo não acontece com a bebida e as drogas ilícitas. E o início do consumo tem sido cada vez mais cedo", alertou a psicóloga Carla Braga, que também é professora da Universidade Estadual de Londrina. Hoje, por exemplo, não se pode fumar em shoppings, mas ingerir bebida alcoólica é quase que um estímulo. "Há muita gente que vende álcool para menores", criticou.
"Antes, o jovem bebia escondido. Hoje ele bebe em qualquer lugar, não está preocupado em esconder. Tem jovem que bebe até no horário do intervalo [da aula]", enfatizou o hebiatra Walter Marcondes Filho.Os dois especialistas alertaram para a
influência dos pais no consumo dos filhos. Ambos afirmam que se os pais bebem em casa, esse ato será entendido como algo comum e aceitável para o jovem. "Tem pai que usa droga em casa. A criança pode não entender o que é, mas quando for jovem, vai entender", enfatizou a psicóloga.
O hebiatra também apontou essa atitude dos pais. "Se o pai faz um churrasco em casa, compra um engradado de cerveja, bebe a tarde inteira, como vai acusar o jovem", apontou. Ele também citou a postura de pais que não colocam limites nos filhos. "O limite tem de ser dado desde o nascimento da criança. Não adianta querer colocar limite quando ela tiver 15 anos", enfatizou.
A preocupação dos profissionais é que os jovens estão se embriagando e se drogando em uma fase que ainda estão em formação, do corpo, do sistema neurológico e da estrutura psicológica e emocional. "É uma fase de crescimento, de estudar, a fase em que devem se preparar para uma faculdade, para aprender e estão se drogando. E o mundo dos adultos também se aproveita do jovem. É isso que fazem as fábricas de bebida, as propagandas", criticou Marcondes Filho.
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