Castro – Em Castro, na região dos Campos Gerais, o uso do rosa e seus derivados em roupas e acessórios é desaconselhado. Não é que a cor tenha saído de moda; quem a usa corre o risco de ser atacada na rua por meninas da periferia da cidade, que se juntaram em um bando auto-intitulado "as Pink", formado por adolescentes de 15 a 19 anos que vestem roupas rosa, boné ou touca pink e não admitem concorrência: atacam meninas, adolescentes e mulheres que estiverem usando essas cores nas ruas da cidade.

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Os métodos das meninas estão muito longe de lembrar uma Penélope Charmosa. "Elas partem para cima mesmo, arrancam o que as meninas usam, roubam, fazem um escarcéu", diz uma vendedora de uma loja no centro da cidade. Ela conta que a venda de peças da cor rosa caiu desde que a gangue apareceu, há sete meses.

Os consumidores confirmam a mudança na preferência: a administradora hospitalar C.D. tem uma filha de 9 anos que se recusa a usar qualquer coisa com a cor proibida. "Antes ela gostava de usar roupinhas rosa, mas agora tem medo de ser atacada", conta. O medo é ainda maior em quem já foi vítima das meninas. Numa tarde de junho, a estagiária A.K.A., 17 anos, vestiu um moleton rosa e saiu à rua. Despertou a ira das Pink. "Do nada, um monte de meninas começou a me xingar, jogar pedras e a correr atrás de mim", lembra. Depois desse dia, suas roupas rosa permanecem intocadas no guarda-roupa.

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As histórias em torno da gangue são muitas e vão de agressão e roubos pela cidade até prostituição, mas os atos cometidos pelas meninas de rosa não passam de pequenos furtos, brigas entre gangues e ameaças pelas ruas. Na verdade, o grupo foi formado por adolescentes pobres que encontraram uma forma de se auto-valorizar e exteriorizar a violência que existe em suas vidas.

A história de Dulcinéia Amancio, 19 anos, uma das líderes do grupo, faz dela tão vítima quanto as pessoas que ela ameaça na rua. Filha de pais alcoólatras, recebia surras freqüentes do pai. Ela ainda se lembra de ter de correr para buscar refúgio no mato com sua mãe nas madrugadas em que o pai chegava embriagado em casa, ocasiões em que ele as tirava da cama e as expulsava de casa. Quando tinha 14 anos, Dulcinéia quase foi assassinada pelo pai quando tentava defender a mãe de uma nova surra, diz ela. As marcas deixadas pelo facão ainda permanecem nas suas pernas, junto com a tatuagem que define o grupo: um figura estilizada do diabo e as inicias P., D. e B. – Patrícia, Dulcinéia e Bila, a liderança do grupo.

A reportagem encontrou Dulcinéia sentada na calçada na frente de sua casa, na tarde de quinta-feira. Não vestia rosa; um casaco laranja a protegia do leve frio. A menina se arrepende de ter formado o grupo e diz também que as agressões e roubos ficaram para trás. Segundo ela, o grupo se desfez há um mês. "Não era certo, e tudo que vai um dia volta em dobro para a gente", justifica. A menina alerta sobre a atuação de um outro grupo que usa o nome Pink. "Não somos nós, não. O nosso grupo acabou. Essas meninas aprontam e as pessoas acham que somos nós", defende-se.

Dulcinéia conta que a idéia da gangue surgiu quando ela e mais duas amigas saíram uma noite de rosa e foram chamadas pelos colegas de "as Pink". "Gostamos e decidimos que somente a gente poderia usar a cor", lembra. Não demorou muito para a notícia correr pelo bairro Araucária e atrair mais meninas como elas. Em pouco tempo, as Pink tinham cerca de 30 adolescentes que aterrorizavam o centro de Castro. Nos sete meses em que a gangue atuou, Dulcinéia foi parar quatro vezes na delegacia e outras tantas no Conselho Tutelar, já que, para se livrar de uma pena severa, mentia para a polícia sobre sua idade.

"Eu vou ser lembrada pra sempre por isso", sentencia. Desempregada, ela não tem coragem de buscar emprego na cidade. Acredita que nunca conseguirá serviço por causa da gangue. "Não penso no amanhã, apenas vivo como se fosse o último dia da minha vida", diz Dulcinéia. Para ela, a brincadeira não valeu a pena. Do tempo do grupo, ficou o medo de andar sozinha pelas ruas de Castro. E esse medo, acredita ela, permanecerá para sempre.

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