Apenas no intervalo entre julho e novembro do ano passado, período em que fez plantão no centro cirúrgico do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Matinhos, o enfermeiro Ademir Alves de Jesus, 30 anos, ajudou no parto de 84 bebês. "Mais de 60% eram de mães adolescentes e muitas nem sabiam direito o nome do pai da criança", diz ele. "São de fato filhos do verão, o resultado de um romance rápido e inconseqüente."
Ademir fez outra constatação: havia entre as parturientes uns poucos casos de meninas de classe média, mas a maioria vinha da periferia. Pior: muitas delas nunca haviam feito pré-natal, serviço disponível na rede pública de saúde. "Essas meninas ficam expostas a riscos que elas nem imaginam", diz o enfermeiro. Em Matinhos, cidade de 30 mil habitantes, a rede pública atende com remédios a quase mil casos de HIV, o vírus da aids.
Os riscos se multiplicam na temporada, quando a população local fica, em média, cinco vezes maior ao longo de todo o verão. A questão virou problema de saúde pública. Equipes da Secretaria Municipal da Saúde costumam sair à noite nos fins de semana para distribuir preservativos em locais de grande concentração de pessoas. O problema é que há pouco preservativo para muita gente.
Mortalidade infantil
A gravidez precoce associada à falta de informação e à deficiência dos serviços públicos induzem a outro problema que está, de alguma forma, relacionado aos romances de verão. Em janeiro de 2005, a mortalidade infantil chegou a 30 mortes por 1.000 nascidos vivos, taxa que hoje caiu para 16 por 1.000, a mesma média do Paraná. A meta da secretária municipal de Saúde, Lúcia Sibut, é baixá-la para 9 por 1.000 até o fim do ano, índice igual ao de 2000, quando foi titular da pasta.