Confira o número de acidentes entre janeiro e outubro de 2010| Foto:

Fiscalização

Radares e blitze tentam frear estatísticas

Ismael de Freitas, especial para a Gazeta do Povo

Em Ponta Grossa, nos Campos Ge­­­rais, houve inversão das estatísticas de trânsito em vias urbanas em relação ao total do Paraná. No comparativo entre os anos de 2009 e 2010, foi registrado aumento no número de acidentes (38%) e queda no total de mortes (40%).

Segundo o presidente da Autarquia Municipal de Trânsito e Transportes (AMTT), Edimir de Paula, o número de acidentes acompanhou o aumento da frota. "Hoje existem muito mais veículos nas ruas e, infelizmente, isso repercute de forma negativa nas estatísticas de colisões", avalia.

Para frear essa tendência, a AMTT elaborou uma série de medidas em parceria com a Polícia Militar, como instalação de radares, blitze constantes, orientação aos motoristas e aumento da fiscalização durante as madrugadas. "Verificamos que os acidentes mais graves ocorriam à noite, por isso estamos com maior efetivo nesse horário. Já as mortes no trânsito se davam, em sua maioria, com motocicletas", afirma De Paula.

Já em Londrina, as mortes no trânsito aumentaram consideravelmente (28%), apesar do número de acidentes se manter estável. De acordo com o diretor de Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), Wilson de Jesus, isso aconteceu por uma mudança na estratégia de prevenção.

"Entre o segundo semestre do ano passado e o primeiro semestre de 2010, optamos por campanhas de conscientização, que deram re­­sultado num primeiro momento, mas redundaram numa sensação de impunidade depois", avalia.

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Embora o número de acidentes de trânsito nas ruas e estradas do Paraná tenha diminuído de 2009 para 2010, o total de mortos e feridos aumentou no mesmo período. Enquanto foi registrada queda de quase 10 mil casos na quantidade de acidentes, houve acréscimo de cerca de 2,5 mil pessoas feridas. Já o total de mortos aumentou 15% – foram 1.560 mortes no trânsito em 2010; 204 a mais que no ano passado. Os dados são do Departa­mento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), referentes ao período de janeiro a outubro dos dois anos.

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Esse quadro apresenta algumas alterações nas principais cidades do Paraná. Em Curitiba, os acidentes cresceram 28%, enquanto as mortes tiveram salto de 48%. Já em Londrina, no Norte do estado, os acidentes com feridos caíram 26% e o número de acidentes teve um pequeno aumento. Por outro lado, em Cascavel, na Região Oeste, o número de acidentes se manteve praticamente estável e as mortes caíram 54%.

Para as autoridades de trânsito, a explicação do crescimento de mortos e feridos em relação à queda de acidentes está no grande aumento da frota de motocicletas, que representam quase um terço do total de 2,9 milhões de veículos em todo o Paraná. Em apenas um ano, de outubro de 2009 a outubro de 2010, o número de motos que saíram das concessionárias cresceu 7,4%.

De acordo com o diretor do Serviço de Urgência e Emergência de Curitiba, Matheus Chomatas, a moto, principalmente quando usada para o trabalho, precisa ser conduzida com cuidado. "Em um dia de chuva como hoje [ontem], para um motociclista frear e escorregar para de baixo de um expresso é a coisa mais fácil. É preciso muita prudência", explica.

Segundo o coronel Leomir Mat­tos de Souza, comandante do Bata­lhão de Policiamento de Trânsito de Curitiba (BPtran), na medida em que a frota de motocicletas cresce, o número de mortes nas ruas das cidades e nas estradas também aumenta. "É grande o número de acidentes envolvendo motociclistas. As nossas estatísticas apontam para uma ligação entre as mortes no trânsito, com o uso irresponsável das motos. Além disso, existe o abuso da velocidade e o consumo da bebida alcoólica", afirma.

Para o inspetor Gilson Cortiano, chefe de policiamento e fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Paraná, uma boa parte das mortes e acidentes nas estradas envolve um pedestre ou um motociclista. "Falta infraestrutura para os pedestres nas rodovias. Não tem passarelas, semáforos, contribuindo para o acréscimo no número de mortes. O transporte em duas rodas também é preocupante. Os ocupantes dos carros ainda têm alguma proteção, o motociclista não", diz.

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Além das motos, outro fator de risco, segundo Chomatas, é a idade da frota. "Quase 25% dos carros que estão rondando nas estradas e nas ruas das cidades têm mais de 10 anos, o que aumenta o risco", conclui.

Segundo a professora de Psico­logia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Alessandra Bianchi especialista em trânsito, a queda do número de acidentes e o aumento do número de mortes é um reflexo do comportamento mais agressivo dos motoristas. "Os carros estão mais modernos e os motoristas mais confiantes. Hoje os motoristas arriscam o que eles não arriscariam há 10 ou 15 anos. Hoje não existe mais aquilo de se acidentar e ligar para o seguro. Atualmente é vida ou morte", defende.

Acidentes

Na opinião das autoridades, a queda do número de acidentes tem três explicações: educação, fiscalização e conscientização dos motoristas. "Nós percebemos que os motoristas estão mais conscientes do que antigamente. É claro que ainda existem problemas como a imprudência e as atitudes de risco, mas a situação está melhorando", afirma o comandante do BPtran, coronel Mattos.

Para o inspetor Cortiano, da PRF, a fiscalização também é importante. "O trabalho de fiscalização, aliado com o de educação, não pode parar. Eles interferem diretamente no trânsito. Mas não podemos fazer tudo. É importante que o motorista se conscientize dos seus atos", diz.

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