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"Primeiro de abril!" As pegadinhas a torto e a direito já são esperadas hoje, por conta de uma tradição mundial nascida na França – mas, considerando o cenário político nacional, até parece invenção de brasileiro. Quando o início do ano foi alterado de 1.º de abril para 1.º de janeiro, no século XVI, a primeira data passou de Ano Novo para Dia da Mentira, por causa de desavisados que comemoravam a virada de ano no dia errado. Tornou-se o dia oficial de fazer, por brincadeira, aquilo que todo mundo já faz ao longo do ano. Mas mentira também é assunto sério: vira doença quando acontece em exagero e tem conseqüências graves, quando, por exemplo, parte de alguém com poder e afeta toda a nação.

O que aconteceria se todos falassem a verdade o tempo todo? "Nem sempre a melhor opção é ser sincero. A vida social opera dentro de um certo grau de verdade e de mentira", diz o professor de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná, Ricardo da Costa Oliveira. Mentir é natural, confirma a psicóloga Mônica Portella, da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro. "A maior mentira é alguém dizer que não mente", afirma a especialista no assunto – tem mestrado, doutorado e está fazendo um pós-doutorado sobre a mentira. Proteger-se contra uma punição ou proteger alguém de um possível problema ou decepção são, segundo ela, as principais razões para a mentira. "O limite entre o aceitável e o prejudicial é difícil de traçar", avalia Mônica.

Se mentir é normal para o cidadão comum, na vida política vira quase um requisito. "A política é a arte da dissimulação e da hipocrisia", define Oliveira. O cientista político Antônio Celso Mendes, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, acredita que a mentira política é a mais grave de todas. "Envolve o interesse coletivo e prejudica toda a nação. Eles [os políticos] geralmente não são o que prometem ser", diz Mendes.

A mentira vira doença e exige tratamento quando a pessoa mente o tempo todo e acredita na própria mentira. "É como uma pessoa viciada em jogo ou um comedor compulsivo: não consegue parar sem ajuda", diz o psicólogo clínico Mauro Godoy. Até os cinco anos, explica, as crianças vivem no mundo da fantasia e por isso contam histórias muito fantasiosas. Depois desta idade, é preciso ficar atento se ela continua a mentir, porque o natural é que ela fale a verdade – até demais, diz o psicólogo. Segundo Godoy, quem mente muito geralmente usa a mentira como instrumento para externar vontades internas. "A pessoa tem dificuldade de estabelecer um intercâmbio entre a realidade e a fantasia", informa. É preciso terapia e até medicamentos para resolver o problema, explica o psicólogo.

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