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Para a engrenagem do contrabando funcionar nas cidades-depósito, um exército de moradores passou a atuar como "laranjas" (transportadores de mercadorias), olheiros e batedores de carros de passeio, vans e ônibus metropolitanos usados para o transporte dos produtos. Com isso, o mercado formal já sente a falta de mão de obra.

Em Medianeira, cidade de 40 mil habitantes a 60 quilômetros de Foz do Iguaçu, fábricas e cooperativas têm dificuldades para contratar funcionários, até os sem ensino médio completo. "Você não consegue encontrar pessoas para o trabalho de chão das fábricas. Alguns trabalham no turno da noite e de dia fazem ‘bicos’", diz o presidente da Associação Industrial e Comercial de Medianeira (Acime), Celso Adão Dewes.

A Cooperativa Frimesa, com sede em Medianeira, é um retrato desta realidade. Segundo o diretor-executivo Elias José Zydek, a cada mês cerca de 80 pessoas deixam a cooperativa, que hoje tem aproximadamente 50 vagas abertas. O salário inicial de R$ 750, com plano de saúde, seguro de vida, alimentação, transporte e participação nos resultados não tem atraído trabalhadores. "Hoje nós temos grandes concorrentes. O primeiro é o governo, com os programas de assistencialismo. A pessoa trabalha seis meses e faz tudo para ser mandada embora para depois ganhar seguro-desemprego. Aí ganha do governo e faz bicos com o país vizinho", afirma Zydek.

Em Guaíra, falta mão de obra na construção civil, onde boa parcela da população sem qualificação já atua no contrabando. Na região de Cascavel, cooperativas têm recrutado funcionários em Foz, oferecendo transporte e salário de R$ 510. A informalidade no Brasil chega a 49,59% e no Paraná a 44,32%, segundo dados de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Flexibilidade

Na análise do sociólogo e professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) Eric Cardin, o que mais atrai no setor informal é a flexibidade, já que não há estabilidade nem direitos sociais. "Também é possível constatar que parte do setor informal garante uma remuneração melhor ou, no mínimo, equivalente à do setor produtivo", avalia.

Cardin diz que as indústrias da região têm dificuldade em fidelizar seus funcionários. Segundo ele, ao se observar o salário médio de R$ 534,50 oferecido em Cascavel, Toledo, Media­neira e Marechal Cândido Rondon para a ocupação de alimentador de linha de produção, é possível entender o baixo interesse pela atividade. "São três elementos-chave: o perfil da atividade, os baixos salários e a falta de uma consciência operária entre os trabalhadores, já que há até pouco tempo a economia regional era predominantemente vinculada aos pequenos agricultores e ao setor de serviços", diz.

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