Dados da perícia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), de São Paulo, a partir da quebra do sigilo telefônico do principal suspeito de matar Mércia Nakashima, revelam que o ex-namorado dela, o advogado e policial militar aposentado Mizael Bispo de Souza, ligou mais de 40 vezes para a advogada entre os dias 1º de maio e 7 de junho e três vezes na data do seu desaparecimento, em 23 de maio.
As informações constam no quinto depoimento que Mizael deu à Polícia Civil, na terça-feira (20), ao qual o G1 teve acesso à cópia e reproduz trechos abaixo.
Indagado pela autoridade policial sobre o motivo de ter reduzido os telefonemas para a ex no dia 23 e ter cessado as ligações para ela nos dias 24 e 25 de maio, quando foi informado por telefone pelo pai da advogada sobre o sumiço dela, Mizael respondeu que "Mércia é quem devia explicar tais ligações" e que ele não matou a ex. A declaração chegou a irritar alguns policiais presentes. Houve bate boca e a oitiva seguiu tensa por alguns momentos.
Laudo do Instituto Médico-Legal (IML) divulgado na terça revelou que a mulher morreu afogada numa represa em Nazaré Paulista, no interior do estado, no mesmo dia em que sumiu.
Apesar de sempre negar ter matado Mércia, as ligações telefônicas feitas por Mizael integram o conjunto de provas que o delegado Antônio de Olim, do DHPP, aposta para apontá-lo como assassino da ex. De acordo com a investigação, ele teve a ajuda do vigia Evandro Bezerra Silva, também indiciado por envolvimento na morte da advogada. Após a conclusão do inquérito, que deve ocorrer até o início da próxima semana, o caso será levado ao Ministério Público. O promotor Rodrigo Merli Antunes já informou que irá denunciar os dois suspeitos à Justiça por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.
Evandro, que também alega inocência, já chegou a declarar à polícia que Mizael matou Mércia por ciúmes e que ele ajudou o ex a fugir da cena do crime. Agora, afirma ter sido torturado pela Polícia de Sergipe para confessar uma participação num crime que não ajudou a cometer, voltou atrás e negou tudo, até que o advogado tenha matado a advogada, conforme carta dele publicada pelo G1 na segunda-feira (18).
"Negócios"
Além do delegado do DHPP, a Promotoria e o perito Renato Pattoli também participaram do "interrogatório" de Mizael na terça. O ex foi bastante confrontado com dados de ligações telefônicas. Durante o depoimento, foi informado que Mizael ligou 16 vezes para Evandro no dia 23 de maio. Todas essas ligações foram feitas logo após ele falar com Mércia, sempre com um número diferente do que ligava para a ex. O último desses telefonemas foi feito por volta das 19h, horário aproximado da morte de Mércia.
Um dos irmãos de Mizael, que também é investigado por suposto envolvimento no crime, telefonou 27 vezes para o vigia antes, durante e depois da morte de Mércia.
Ao ser questionado pelas autoridades porque ligou 16 vezes para Evandro, Mizael alegou que o motivo foi para tratar de "negócios". O vigia fazia "bicos" de segurança para o ex em feiras.
Outras perguntas feitas a Mizael foram se ele fumava e se já foi confundido com o ex-prefeito de São PauloCelso Pitta (morto em 2009). O suspeito respondeu que não. Fontes policiais informaram à reportagem que a questão do cigarro está vinculada ao trabalho da perícia, que teria encontrado vestígios de nicotina no carro de Mércia.
Em relação à citação do prefeito morto, uma testemunha teria visto um homem parecido com Pitta num bar próximo à represa onde a advogada foi encontrada morta em 11 de junho. O ex declarou que nunca esteve no local, mas há relatos de que ele conhecia a região e já tinha ido lá com Mércia. Além disso, dados do rastreador do carro de Mizael mostram que ele passou perto da cena do crime dias antes. Ele também negou que tenha andado no carro de Evandro e disse desconhecer quem matou a advogada.
"O Mizael negou que tenha matado Mércia e pede que seja feita uma perícia no rastreador do seu carro porque ele acha que o mesmo está com defeito", afirmou seu defensor, o advogado Samir Haddad Júnior, na terça. A defesa do suspeito também apresentou dois nomes de supostos envolvidos no crime para a polícia investigar.
Mizael deixou o DHPP sob escolta policial sem falar com a imprensa. Do lado de fora, pessoas gritavam "assassino".
Após relatar o inquérito, o delegado Olim informou que irá pedir a prisão preventiva de Mizael à Justiça para que ele fique preso até um eventual julgamento. Por enquanto, apenas Evandro está atrás das grades. Ele cumpre prisão temporária na carceragem de um distrito policial em Guarulhos.
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