Nesta terça-feira começa o mês historicamente menos chuvoso do ano. E o Paraná, considerado um dos estados brasileiros com melhor oferta de recursos hídricos, vai encarar agosto nas mãos de São Pedro, torcendo para cair chuva e fazendo as contas para não precisar racionar água. A estiagem complica a vida no estado, mas especialistas vêem também outras causas para a situação delicada. As principais são falta de planejamento e o uso próximo ao limite de algumas bacias hidrográficas. Daí, a dependência excessiva da boa vontade das nuvens.
O grande vilão da estiagem atual é o efeito tardio de La Niña fenômeno meteorológico que esfria as águas do Pacífico e influencia o clima em todo o Brasil. Entre outras coisas, ele derrubou a vazão do Rio Iguaçu, principal bacia hidrográfica do Paraná e responsável pelo abastecimento de água na Grande Curitiba, além da geração de energia em boa parte do estado. Este mês de julho foi o mês em que o rio esteve mais seco desde que a medição passou a ser feita em 1930 (veja infográfico).
Só isso não basta, no entanto, para afirmar com precisão que esta é a pior seca dos últimos 75 anos. É que a média de chuvas no estado só passou a ser feita pela Suderhsa (Superintendência de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental) em 1976. Antes, equipamentos do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) e da Secretaria de Agricultura mediam os índices pluviométricos em locais específicos. Esses dados mostram que o estado já viveu períodos maiores sem chuva. "Em 1944 tivemos uma seca que talvez tenha sido pior do que a atual", diz o engenheiro de recursos hídricos da Copel, Jian Carlo Castanharo. Segundo ele, a diferença entre as estiagens antigas e a atual está no nível de exploração dos rios. As cidades estão tirando muito mais água atualmente. Além disso, os reservatórios da Sanepar, como Passaúna e Iraí, facilitam a evaporação da água.
"As usinas e barragens e a urbanização influenciam a evaporação. Mas tão importante quanto isso é a devastação das matas ciliares", diz Eduardo Gobbi, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutor em gestão ambiental. "As vazões mais baixas são resultado desses fatores. A mata não segura a chuva, que evapora mais facilmente." Para ele, há também falta de planejamento e falta de agilidade em relação ao ra-cionamento. "A Sanepar só liga para o Simepar [responsável pela previsão do tempo] para saber se vai chover amanhã. Não há um planejamento mais cuidadoso."
Gobbi não é o único a ver problemas. "Já tínhamos dados mostrando o déficit de chuvas. A Sanepar demorou a fazer esse alerta pa-ra as pessoas", afirma o secretário estadual de meio-ambiente, Rasca Rodrigues. A Sanepar, por sua vez, afirma trabalhar dentro da "margem de segurança" em relação ao abastecimento. "A disponibilidade hídrica está sendo administrada com base em estudos estatísticos e avaliações da Sanepar e de outras instituições", diz o diretor de operações, Wilson Barion. A margem de segurança, no entanto, é questionada. "Eu não sei de onde a Sanepar tirou algumas previsões. Chuva mesmo só vamos ter no final de setembro", afirma o meteorologista Lizandro Jacobsen.
Leia amanhã na Gazeta do Povo: Os planos de investimento da Sanepar.
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