O grande altar existente na Tenda Cabocla Sete Cachoeira, no bairro Pilarzinho, em Curitiba, é a mostra do sincretismo entre a umbanda e o cristianismo. Na parede do fundo, as imagens convivem democraticamente. No alto, os braços abertos de Jesus Cristo congregam os participantes. Santos católicos são iluminados pelas velas acesas para os anjos da guarda. Ao lado, figuras de exus entidades guardiãs das casas , que dividem espaço com dezenas de figuras de caboclos e pretos-velhos, além de êres e ibejis os orixás de crianças. O conjunto é responsável pelo tom e a cor do lugar.
Nascida em terras brasileiras, a umbanda agrega valores do espiritismo kardecista, do culto aos orixás do candomblé, trazido da África e entidades advindas dos índios e escravos. "É heterogênea e rica", resume o sacerdote Lúcio Fortes Moreira Filho, 45 anos.
Há 25 anos, ele entrou na religião, em Guarapuava (Centro-Sul). "Fez o santo" no candomblé, como se denomina a cerimônia de iniciação. E há 13 anos, depois de muita preparação, é responsável por um terreiro de umbanda e cerca de 120 médiuns, como pai-de-santo.
Ele sentiu na pele o preconceito. Principalmente, porque é um oficial militar. Com histórico de mãe umbandista, Moreira Filho embrenhou-se pela religião evangélica, em certo momento de sua vida, mas retornou à umbanda. Hoje, a Tenda Cabocla está entre os locais que funcionam, em Curitiba, de forma regulamentada e contínua. São 80 homens e mulheres que trabalham na chácara como médiuns que, segundo a crença, servem de elo entre o mundo espiritual e o mundo terreno.