Apesar de o tempo permanecer chuvoso em Curitiba e Região Metropolitana nesta terça-feira (15), muitas famílias de áreas atingidas pela enxurrada de segunda (14) tentam arrumar suas casas e salvar alguns objetos. De acordo com o balanço da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil, 1.805 pessoas foram afetadas com a chuva em todo o Paraná. Os municípios de Araucária, Curitiba, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Almirante Tamandaré e Colombo tiveram registros de alagamentos, deslizamentos e desabamentos.
A situação mais crítica é no município de Almirante Tamandaré, onde 1.503 pessoas foram afetadas pela enxurrada e uma menina morreu. Um dos locais que permanecia debaixo dágua nesta terça era a Rua Elfrida Roessler Jacumasso. A reportagem da Gazeta do Povo esteve no local e verificou que havia pelo menos sete casas que continuavam alagadas e que as águas do Rio Tingui ainda não baixaram. Este foi o segundo temporal que atingiu a região, que já sofreu com alagamentos na última quinta-feira (10).
O marceneiro Valmor Santana, de 40 anos, mora no bairro há 10 anos e ajudou a fazer o resgate de quatro crianças na tarde de segunda (14). Ele conta que, ao chegar em casa, por volta das 16 horas, usou a moto para retirar as crianças que estavam ilhadas em uma casa. Os moradores dizem que o alagamento foi causado pelo entulho de obras realizadas em uma praça que fica na rua e que teria encoberto os bueiros.
As crianças fazem parte da família do pedreiro João Batista da Silva, de 45 anos. A casa deles fica do lado mais afetado da rua e continuava submersa nesta terça. Ele e outras oito pessoas, incluindo as quatro crianças, tiveram de passar a noite na casa de parentes, mas voltaram para a rua nesta terça. Ele conta que os moradores pedem para que a prefeitura realize alguma obra no córrego há tempos, mas nunca foram atendidos. Segundo Silva, quatro pessoas morreram de leptospirose naquela rua em 2010. Os moradores acreditam que não recebem atenção das autoridades porque vivem em uma área de ocupação irregular. "Somos pobres. Como vamos morar em outro lugar? Se eu pudesse, morava em uma mansão, mas não posso", desabafa.
No bairro Tanguá, a família de Daniele Rocha Wilt, 31 anos, que teve a casa alagada por causa da água que transbordou de um tanque, tentava salvar o que restou dos escombros da casa. O chão de sua casa afundou e só o banheiro ficou de pé. Seu pai tentava arrumar as coisas na casa de Daniele e de sua irmã, mas ainda havia muito barro no local.
A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil e o Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar) encaminharam um caminhão com mais de oito toneladas de donativos para os desabrigados de Almirante Tamandaré. Foram quatro toneladas de cestas básicas, 1,5 mil litros de água potável, 100 galões de água sanitária, 100 cobertores e 10 colchões. As doações também devem ser estendidas para as cidades de Araucária, Campo Largo e Campo Magro.
Sem água
O deslizamento de terra no bairro Novo Horizonte atingiu duas tubulações de água da Sanepar. A distribuição foi prejudicada e os moradores da região estão sem água desde a tarde desta segunda-feira. O Corpo de Bombeiros esteve no local na tarde desta terça-feira para avaliar a estabilidade do solo. Técnicos da Sanepar acreditam que, se não houver novos deslizamentos, o abastecimento será normalizado até a madrugada de quinta-feira (17). Enquanto isso, a Sanepar vai abastecer os moradores da região com um caminhão-pipa.
Curitiba
Em Curitiba, no bairro Tingui (na região norte da cidade, a mais afetada), os moradores de um condomínio de alto padrão na Rua Raposo Tavares, que também foi atingido pela chuva, trabalhavam para recuperar o que foi danificado. A água atingiu uma altura de 1,2 metro e três casas foram atingidas. Além da entrada da água, o muro que fica nos fundos desmoronou. Como as casas estão abaixo do nível da rua, os moradores temem que haja um deslizamento. Eles contam que solicitaram que a prefeitura fizesse uma avaliação no local, mas como não obtiveram resposta vão contratar um engenheiro para avaliar e fazer obras de contenção.
No bairro Fazendinha, moradores fazem um protesto queimando móveis e bloqueando a Rua Frederico Lambertucci. Agentes da Diretran estão na via, no cruzamento com a Rua Ludovico Baum, para orientar os motoristas sobre os desvios.
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