| Foto: Roberto Custódio / Gazeta do Povo

Aposentadoria, só quando "Papai do Céu" chamar

Quem conhece a rotina do padre Lino Stahl (foto 1) dificilmente imagina que ele está prestes a fazer 90 anos. Acorda às 5h20 para orar, caminha meia hora em uma praça na zona oeste de Londrina, alonga-se, toma banho e café, e começa a rotina de estudos e preparação de sermões e encontros. "Também escrevo artigos para um jornal japonês da igreja e para uma revista missionária jesuíta japonesa em Porto Alegre". Visitas a doentes e atendimentos na Paróquia Nipobrasileira, no centro de Londrina, completam a rotina do padre, que celebra missas todas as noites.

Aposentadoria? "Só quando Papai do Céu chamar", brinca. O segredo da longevidade, afirma, é levar uma vida moderada, com boa alimentação e um pouco de esporte. Ele decidiu ser padre aos 12 anos de idade. "Estava no primário quando uns padres foram ao meu colégio explicar como era a vida sacerdotal. Depois que explicaram tudo, eles perguntaram: agora quem quer ser padre, levante a mão. E eu levantei."

Ele foi ordenado na Alemanha, em 1956, e viveu 17 anos no Japão. Quando pensou que o Japão seria o destino definitivo de sua missão, Padre Lino voltou ao Brasil para trabalhar com a crescente colônia japonesa do Norte do Paraná.

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O papa Bento XVI deixou o comando da Igreja Católica, na última quinta-feira, aos 85 anos, aparentemente vencido pelo peso da idade. A surpreendente renúncia trouxe à tona uma questão: a velhice é um dificultador para as obrigações sacerdotais? Para 80 padres que atuam no Paraná, a resposta é não. Levantamento feito pela Gazeta do Povo revela que 8% dos sacerdotes do estado têm mais de 75 anos e, em tese, já poderiam estar afastados das funções administrativas de suas paróquias, mas continuam atendendo aos fiéis.

O padre e sociólogo José Carlos Pereira, consultor do Centro de Estatística Religiosa e Investigação Social (Ceris), que é um instituto de pesquisa, explica que os bispos se "aposentam" aos 75 anos por exigência do Estatuto da Igreja Católica. Os padres, que estão diretamente envolvidos com a população, não têm data limite de atuação. "Mas, por bom senso, os padres com mais de 75 anos são afastados de funções, como as de párocos", diz.

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Dos 1.023 padres atuantes em 14 das 18 dioceses e arquidioceses do Paraná, 153 têm entre 60 e 74 anos e outros 80, mais de 75 anos. Quatro dioceses (Curitiba, São José dos Pinhais, Guarapuava e Paranaguá) não informaram o ano de nascimento dos padres. Alguns desses sacerdotes, apesar da idade avançada, ainda são párocos. "Muitos acham que se pararem podem adoecer e outros não querem parar porque há uma carência de padres em suas regiões", explica Pereira.

Força de vontade

"Vejo esses padres como um capitão que não abandona o barco. O que chama a atenção é o desprendimento e o testemunho de fé que eles nos mostram", afirma o padre Nilton Reami, 50 anos, presidente da Comissão Regional dos Presbíteros e representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil no Paraná.

"Todos gostariam de ser como alguns padres", comenta o médico geriatra João Batista Lima Filho. Ele é diretor-clínico do Hospital Geriátrico de Cornélio Procópio e co-fundador da Pastoral da Pessoa Idosa na Igreja Católica. Lima cita dois fatores que garantem a qualidade de vida do idoso: a autonomia, que é a capacidade de tomar decisões sozinho, e a capacidade funcional, que é a qualidade de mover-se com independência.

No caso de Bento XVI, a autonomia ficou evidente na renúncia. "Ele tem voz de comando, tanto que renunciou, mas sua capacidade funcional está fragilizada e demanda cuidados geriátricos", diz, referindo-se ao fato de o papa se locomover com dificuldade e usar marcapasso.

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Colaboraram Fabiula Wurmeister, da sucursal de Foz do Iguaçu, e Bruna Komarchesqui, correspondente em Londrina

"Ver os doentes me dá mais força"

Com 86 anos, 55 deles como sacerdote, padre Aloísio José Weber, gaúcho de Venâncio Aires, não pensa em parar tão cedo. "A maioria dos meus pa­rentes teve vida longa e passaram dos 90 anos, sem­pre trabalhando", conta, orgu­lhoso. "Eu mesmo nunca pensei em desistir da minha vida como jesuíta. Só devo parar quando não tiver mais condições. Enquanto puder caminhar, seguirei como pa­dre, visitando meus doentes", afirma ele, que atua em Foz do Iguaçu.

Ele celebra oito missas por semana e visita todas as segundas e sextas-feiras doentes internados nos dois principais hospitais de Foz (foto 2). "Ver essas pessoas tão debilitadas e lutando para viver me dá ainda mais força e vontade de seguir fazendo o que faço", aponta. Padre Aloísio vem de uma família com 10 filhos, sendo sete religiosos. "São três irmãs freiras, dois irmãos lassalistas – educadores em escolas religiosas – e dois padres, fora outros três sobrinhos que também são religiosos", observa.

4,5 mil ministros de cultos, missionários e teólogos, conforme a classificação da Previdência Social, eram contribuintes do INSS em 2011. Destes, 288 no Paraná. É nesta categoria que se inserem os padres.

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