| Foto: Reprodução/

O cerealista Muriel Padilha, de 24 anos, passou os últimos quatro meses entre as lágrimas e a esperança. A mulher dele, Frankielen da Silva Zampoli tinha 21 anos quando, em outubro do ano passado, teve morte cerebral constatada após sofrer um aneurisma cerebral. Apesar do quadro irreversível, começou ali outra luta: a jovem estava grávida de gêmeos. A partir de então, o corpo dela foi mantido funcionando para salvar a vida dos bebês. As crianças nasceram na última segunda-feira (20), 123 dias depois do óbito da mãe.

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Vídeo: sessão de musicoterapia para desenvolver os bebês

“Quando ela morreu, eu chorei muito, perdi muito conforto a Deus. Aí passei a pensar nas nossas crianças. Mesmo morta, ela gerou dois filhos. Então, hoje o tempo é de lágrimas, mas de muito riso. Ela [Frankielen] me deixou dois pedacinhos dela, que são os nossos filhos. Eu vou fazer tudo pelas crianças”, disse Muriel. O corpo de Frankielen foi sepultado nesta quarta-feira (22). A família decidiu doar os órgãos da jovem.

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Os bebês – Azaphi e Ana Vitória – permanecem internados no Hospital do Rocio, em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba, onde nasceram prematuros. Eles vieram ao mundo saudáveis, mas devem ficar sob cuidados médicos por tempo indeterminado, até terem condições de ir para a casa. Quando receberem alta, as crianças serão levadas para a casa do pai, em Contenda, também na RMC. Os avós devem ajudar a cuidar das crianças.

“Eles estão na incubadora, mas nasceram perfeitos. A história que ela teve comigo vai continuar, agora, nas nossas crianças”, definiu o pai.

Ao longo dos últimos três meses, Muriel foi praticamente todos os dias ao hospital. Fazia questão de acariciar a barriga da mulher e de conversar com os gêmeos que sequer tinham nascido. Evangélico, o pai também colocava para tocar músicas gospel para que os bebês ouvissem.

“Eles gostavam muito dos louvores. Os nenéns chegavam a se virar na barriga. Se mexiam muito mesmo”, contou Muriel, que escolheu o nome dos filhos também inspirado em canções religiosas.

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Além de todo monitoramento integral, o corpo de Frankielen recebeu, entre outros cuidados, sessões de musicoterapia, em que a equipe tocava músicas para ela e para os bebês. “Eles [os bebês] respondiam na hora. Ficavam felizes”, conta Muriel.

Família

Muriel e Frankielen viveram juntos por seis anos. Eles se conheceram na Escola Miguel Franco Filho, em Contenda, onde estudavam. O rapaz diz ter se encantado pela beleza da garota, que, então, tinha 15 anos. Mas foi ela que tomou a iniciativa.

“Quando eu vi a Fran pela primeira vez, eu disse: ‘que menina linda’. E comentei com meu primo. Depois, teve um dia, que ela me mandou uma mensagem de SMS. Começou ali”, relembra Muriel.

O relacionamento virou namoro sério e logo o casal passou a morar junto, em um quarto na residência dos pais de Muriel. Com o tempo, construíram a própria casa e veio a primeira filha, Ísis Beatriz, que tem um ano e sete meses.

“A Fran foi uma esposa perfeita. Quando a Ísis nasceu, ela deixou de pensar nela, pra fazer tudo pela criança”, aponta o rapaz. “Ela era extrovertida, sorridente. Não ligava pra bens materiais. A pia podia estar transbordando de louça, que ela estava sorrindo”, completa.

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Acostumado a se levantar às 3 da madrugada, para comercializar batata e cebola no Ceasa, Muriel só voltava pra casa à tarde. Na tarde de 17 de outubro, recebeu uma ligação de Frankielen, que dizia estar com dores na nuca. “Eu coloquei ela no carro e, no caminho para o hospital, ela desmaiou. Nunca mais acordou”, lamenta o viúvo.

Sem a mulher, Muriel quer se focar agora no bem-estar dos filhos. Paralelamente, pretende prestar apoio a pessoas que estejam passando por aflições em decorrência de problemas de saúde. “A nossa família vai continuar. A Fran foi morar no céu, mas a presença dela nunca vai sair da gente. Creio que ela esteja sorrindo para nós”, disse.

Vídeo

Assista ao vídeo que mostra uma das sessões de musicoterapia feita no hospital para auxiliar no desenvolvimento dos bebês ainda na barriga da mãe.

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