Condições climáticas e estruturais fazem Curitiba e região metropolitana terem garantias de que, num horizonte próximo, não terão experiências parecidas com as vivenciadas em São Paulo, com a falta de água no sistema Cantareira. Mesmo que não caia uma gota de chuva aqui durante oitos meses e não há previsão de que isso vá acontecer , a Sanepar assegura que o abastecimento na RMC não será afetado. Isso porque no passado foram construídas barragens para represar a água, formando grandes reservatórios. Todos estão, atualmente, com mais de 90% da capacidade.
Além de não sofrer com a escassez de chuva, a região de Curitiba tem um sistema de captação bem diferente do Cantareira. Aqui funciona o que o diretor de operações da Sanepar, Paulo Alberto Dedavid, chama de "integrado-independente". Enquanto em terras paulistas, trata-se de uma sequência de represas, com a anterior abastecendo a seguinte, no Paraná, as barragens ficam em pontos distantes uns dos outros (veja no mapa abaixo), que contornam a Grande Curitiba. Elas fornecem água para estações de tratamento que podem atuar bombeando apenas para regiões mais próximas ou na falta de água em outros sistemas para a cidade toda, através de adutoras (canos de grande diâmetro).
O projeto de construção de uma quinta barragem, no Rio Miringuava, já começou e deve dar ainda mais folga para o sistema no quesito oferta de água. É preciso, contudo, lembrar que enquanto a rede de Curitiba e região fornece água para 3 milhões de pessoas, o sistema Cantareira é responsável por abastecer uma população equivalente ao Paraná todo.
Mesmo com água sobrando, a Sanepar reconhece que ocorrem problemas pontuais de distribuição. Alguns bairros, mais altos ou mais distantes dos reservatórios, são prejudicados pela dificuldade de bombeamento da água. A empresa alega que não pode usar muita pressão para não estourar a tubulação nem diminuir muito a força, pois a água não chegaria às torneiras. Encontrar o equilíbrio já que o consumo varia o tempo todo é uma tarefa difícil.
Nem todo o Paraná experimenta a mesma tranquilidade vivida em Curitiba e região. Como mostrado na edição de ontem da Gazeta do Povo, 42 cidades do estado estão com a estrutura de abastecimento captação, tratamento e/ou distribuição sobrecarregadas, operando no limite da demanda ou até sem conseguir atender todos os consumidores.
O pesadelo
Sem risco de faltar matéria-prima no caso, água , a principal preocupação da Sanepar para garantir o abastecimento é que não falte energia elétrica. Todo o sistema precisa ser bombeado e quando "a luz cai", o serviço de água também é interrompido. Foi o que recentemente aconteceu em Campo Largo. Além de estragos provocados por granizo na estação de tratamento de água, boa parte da cidade ficou sem energia elétrica, deixando muitos moradores também com a torneira seca. A energia elétrica também é um vilão para o bolso do consumidor de água. Segundo dados da Sanepar, 40% do valor de operação do sistema vai para pagar a fatura de energia. Nenhum custo nem produtos químicos, nem pagamento de salários é mais representativo na composição do preço da água do que a eletricidade.