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Metade dos brasileiros tem pouca ou nenhuma vivência escolar

Maria do Rosário (à dir.) é professora de Biologia, mas a irmã Aparecida nunca foi à escola | Alexandre Mazzo/ Gazeta do Povo
Maria do Rosário (à dir.) é professora de Biologia, mas a irmã Aparecida nunca foi à escola (Foto: Alexandre Mazzo/ Gazeta do Povo)

Ainda existem no Brasil 81,3 milhões de pessoas com 10 anos de idade ou mais que nunca tiveram instrução escolar ou que não conseguiram completar o ensino fundamental, o que equivale a 50% da população. Os dados estão no Censo Demográfico de 2010 e foram divulgados ontem. O levantamento também mostrou que 18,7 milhões de pessoas (10% do total) nunca tiveram a oportunidade de pisar em uma escola ou creche.

As informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Es­­tatística (IBGE) são um resumo do que ocorre com a educação no país: ela vive de extremos. Enquanto de 2000 para 2010 o Brasil teve um ganho considerável na taxa de conclusão do ensino superior – de 4,4% para 8,3% da população – ainda há um porcentual muito maior de indivíduos que dificilmente conseguem chegar à escola ou, quando chegam, desistem dos estudos.

O Paraná é um exemplo desses dados opostos. Da Re­­gião Sul, é o estado com o maior porcentual de pessoas com 10 anos ou mais que nunca frequentaram uma sala de aula ou não terminaram o fundamental: são 4,3 milhões (49% do total da população). Por outro lado, também é a unidade da federação do Sul com mais pessoas que concluíram o ensino superior, 869,6 mil (10%).

A família de Maria do Ro­­sário dos Santos, 55 anos, é o retrato fiel dessas disparidades. Dos oito irmãos, apenas ela e outros dois conseguiram concluir a graduação – e viraram professores. Mas, enquanto ensina os outros sobre Biologia, Maria do Rosário tem na própria casa irmãos como Aparecida, que nunca conseguiram ler e escrever.

A falta de oportunidades faz com que Aparecida tenha até dificuldades para identificar as linhas de ônibus de Curitiba. "Nossa família trabalhava em uma fazenda no interiorzão do Paraná. Não tínhamos renda para ir para a cidade estudar. Eu consegui com a ajuda de outras pessoas. Um dos meus irmãos estudou porque começou a dirigir um carro para o fazendeiro, sem carteira de motorista mesmo, e teve mais contato com a sociedade", resume Maria do Rosário.

Zona rural

O acesso à educação no campo é outro problema grave do Paraná, segundo o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara. "Vimos recentemente que o transporte dos alunos do estado é feito pelos municípios, ao custo de R$ 50 milhões. O dinheiro poderia ser empregado na construção de escolas no campo", analisa.

A professora da Uni­ver­­sidade Federal do Paraná (UFPR) Araci Asinelli, doutora em Educação, reforça que não só aqui, como no Brasil inteiro, a distribuição das escolas pelo território é desigual. "Antigamente se estudava longe de casa porque as crianças iam a pé ou de bicicleta. Com o aumento da violência, as famílias têm preferido deixar os filhos em casa quando a escola fica muito distante", explica.

Araci afirma ainda que não viu nos últimos anos novas escolas serem construídas no Paraná. "Mas ao mesmo tempo nosso governador na época [2010], para tentar melhorar a segurança, sugeriu a criação de celas modulares para presos. Questiono por que não trocar as celas por salas modulares e levar o ensino para os bairros mais vulneráveis?", critica.

4,4 milhões estudam em outra cidade

Diariamente, 4,4 milhões de brasileiros precisam sair da cidade onde moram para estudar. Só no estado de São Paulo, 1,1 milhão de pessoas fazem este movimento. O número é grande também em Minas Gerais (432 mil) e no Rio de Janeiro (334 mil). Em termos proporcionais, no entanto, Santa Catarina é o estado que tem o maior índice de alunos que estudam fora da cidade onde residem: eles representam 10% da população de estudantes ou 184 mil pessoas. Já entre os alunos do Paraná, 7% fazem esse deslocamento todos os dias.

Os números do estado colocados em um mapa (veja nesta página) mostram que o movimento mais intenso no Paraná está nas regiões Norte, Oeste e Sudoeste – há ainda uma concentração em Curitiba e região metropolitana. A cidade de Almirante Tamandaré, na RMC, tem a maior taxa paranaense de alunos que estudam fora: 28% da população. Pinhais e Campo Magro, também na região metropolitana, têm índices de 25,5% e 22,8%, respectivamente.

"O Paraná tem um grande número de universidades que foram divididas em cidades polos. São elas que concentram a movimentação das cidades menores e vizinhas. É só perceber no horário de entrada de aula quantas vans de outros municípios levam esses estudantes até esses polos", cita a professora e doutora em Educação Araci Asinelli.

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