Mais de 16 mil moradores da região metropolitana de Curitiba estão com o fornecimento de água prejudicado pelo menos até junho devido a um aumento na demanda não previsto pela Sanepar. O consumo de água no Guarituba, o bairro de maior crescimento em Piraquara, em que vivem 55 mil pessoas e alvo de R$ 91,7 milhões em investimentos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) subiu acima do esperado pela empresa e demandou obras emergenciais em uma adutora que também abastece o Ipê, bairro do município vizinho, São José dos Pinhais.
Até a conclusão das obras, com prazo de 90 dias, os 16 mil habitantes do Ipê e aproximadamente 50 famílias que vivem na Vila Nova, no Guarituba, vão enfrentar recorrente falta dágua por motivos diferentes. As obras começaram no dia 12 de fevereiro, depois que os moradores da Vila Nova fizeram um protesto contra a falta de abastecimento e chegaram a atear fogo e um ônibus da rede metropolitana.
A falta dágua no local se deve ao crescimento populacional acima do esperado no Guarituba. O bairro viu uma escalada no número de ocupações desde 2007, quando foram anunciados os investimentos do PAC para a região. Entre as intervenções previstas está a regularização dos terrenos de 8 mil famílias e a realocação de outras 800, que vivem em áreas de risco, totalizando 35 mil pessoas. A perspectiva de ter seu próprio terreno tem atraído novas ocupações, apesar da regularização só incluir famílias que estão lá há pelo menos 5 anos.
Esta procura não foi prevista pela Sanepar e pelo município responsável pelo planejamento territorial da área. A previsão era de que, em janeiro de 2010, o bairro consumisse 43 litros por segundo, mas o número real foi de 59. Como a tubulação está adaptada para um fluxo inferior, falta pressão para que a água chegue as torneiras de Vila Nova, que é uma das mais distantes do reservatório que abastece a região.
Água só antes das 11 horas e depois das 21h, quase todos os dias, contam os moradores. Durante o carnaval, as torneiras secaram na manhã de domingo e só voltaram a ter água no meio da tarde da Quarta-Feira de Cinzas. Em um dia a seca foi tamanha que nem as seis caixas dágua da Escola Municipal Heinrich de Souza deram conta e as aulas foram canceladas à tarde, relatam os funcionários.
Para enfrentar a situação, moradores contam com poços perfurados por conta própria. Eles tratam a água com cloro, distribuído pelo posto de saúde da região. Mas só essa operação não torna a água própria para o consumo. "Eu ainda fervo para poder cozinhar com ela. Mas beber não dá, temos de comprar. Só que nem todo mundo aqui tem condições de comprar", diz a dona de uma lanchonete Rosângela Talime, 33 anos. Quem tem como transportar vai buscar água no Jardim Holandês, que fica a apenas 200 metros e não tem problema de abastecimento.
Adutora
Para se adequar à demanda, a Sanepar afirma que está aumentando a capacidade de uma adutora que liga uma estação de tratamento no Rio Iguaçu ao reservatório que atende o Guarituba. A tubulação passa pelo Ipê e é a única responsável pelo abastecimento do bairro. As obras exigem a interrupção do fornecimento, o que é sentido no bairro porque lá não há reservatório.
Como há um intervalo entre o restabelecimento do fornecimento e o instante em que todas os canos estão cheios, a água só volta depois das 22 h em alguns dias. Os moradores que não têm caixa dágua precisam varar a noite enchendo seus baldes se quiserem guardar alguma quantidade para o dia seguinte. Na semana passada, a Escola Estadual Ipê não deu conta e teve de mandar os alunos para casa.
Mas, se em Piraquara as pessoas buscam água no subsolo, os moradores do Ipê esperam um alívio dos céus e enchem baldes com a água das calhas, quando chove. Outros deixam o pudor de lado e transformam um canal extravasor do Rio Iguaçu em banheira. "O pessoal que mora perto do rio está tomando banho nele. É uma água escura, mal-cheirosa, dá só para tirar o suor", relata o carpinteiro Adolfo Gomes, 47 anos.