Para Sanepar, ligações irregulares são a causa
A Sanepar realiza um diagnóstico populacional a cada ano, prevendo a expansão da demanda nas áreas em que atua. Mas o aumento do consumo no Guarituba em 2009 foi ainda maior que os 10% de acréscimo populacional previstos. Em toda Piraquara, a Sanepar estimava fornecer 5,27 milhões de litros dágua no ano passado; mas chegou ao fim de 2009 com a soma de 5,45 milhões. O crescimento também escapou ao diagnóstico da prefeitura de Piraquara.
"O consumo foi maior que o planejado. Nós estamos antecipando obras que esperávamos realizar só no próximo ano", admite o gerente da Regional Curitiba Leste da Sanepar, que atende Piraquara e São José dos Pinhais, Fábio Queiroz.
As obras do PAC preveem a expansão das redes de água e esgoto na região, onde 30% das pessoas não contam com esse serviço. Queiroz garante que as ligações já foram feitas ou regularizadas nos terrenos que serão legalizados, mas ressalva que o atual aumento da adutora não faz parte do pacote. "O consumo dessas pessoas estava dentro da nossa capacidade. No caso das realocações, elas serão movidas dentro da mesma área, que já era totalmente atendida", argumenta.
As obras devem resolver o problema por enquanto. O próximo pico de demanda pode secar os canos novamente porque a Sanepar, defende Queiroz, não tem como basear seu planejamento em flutuações da demanda atribuídas a ligações irregulares. Pelo menos 70% das casas no Guarituba estão em situação irregular, segundo estimativa da Secretaria de Urbanismo de Piraquara. (PC)
Mais de 16 mil moradores da região metropolitana de Curitiba estão com o fornecimento de água prejudicado pelo menos até junho devido a um aumento na demanda não previsto pela Sanepar. O consumo de água no Guarituba, o bairro de maior crescimento em Piraquara, em que vivem 55 mil pessoas e alvo de R$ 91,7 milhões em investimentos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) subiu acima do esperado pela empresa e demandou obras emergenciais em uma adutora que também abastece o Ipê, bairro do município vizinho, São José dos Pinhais.
Até a conclusão das obras, com prazo de 90 dias, os 16 mil habitantes do Ipê e aproximadamente 50 famílias que vivem na Vila Nova, no Guarituba, vão enfrentar recorrente falta dágua por motivos diferentes. As obras começaram no dia 12 de fevereiro, depois que os moradores da Vila Nova fizeram um protesto contra a falta de abastecimento e chegaram a atear fogo e um ônibus da rede metropolitana.
A falta dágua no local se deve ao crescimento populacional acima do esperado no Guarituba. O bairro viu uma escalada no número de ocupações desde 2007, quando foram anunciados os investimentos do PAC para a região. Entre as intervenções previstas está a regularização dos terrenos de 8 mil famílias e a realocação de outras 800, que vivem em áreas de risco, totalizando 35 mil pessoas. A perspectiva de ter seu próprio terreno tem atraído novas ocupações, apesar da regularização só incluir famílias que estão lá há pelo menos 5 anos.
Esta procura não foi prevista pela Sanepar e pelo município responsável pelo planejamento territorial da área. A previsão era de que, em janeiro de 2010, o bairro consumisse 43 litros por segundo, mas o número real foi de 59. Como a tubulação está adaptada para um fluxo inferior, falta pressão para que a água chegue as torneiras de Vila Nova, que é uma das mais distantes do reservatório que abastece a região.
Água só antes das 11 horas e depois das 21h, quase todos os dias, contam os moradores. Durante o carnaval, as torneiras secaram na manhã de domingo e só voltaram a ter água no meio da tarde da Quarta-Feira de Cinzas. Em um dia a seca foi tamanha que nem as seis caixas dágua da Escola Municipal Heinrich de Souza deram conta e as aulas foram canceladas à tarde, relatam os funcionários.
Para enfrentar a situação, moradores contam com poços perfurados por conta própria. Eles tratam a água com cloro, distribuído pelo posto de saúde da região. Mas só essa operação não torna a água própria para o consumo. "Eu ainda fervo para poder cozinhar com ela. Mas beber não dá, temos de comprar. Só que nem todo mundo aqui tem condições de comprar", diz a dona de uma lanchonete Rosângela Talime, 33 anos. Quem tem como transportar vai buscar água no Jardim Holandês, que fica a apenas 200 metros e não tem problema de abastecimento.
Adutora
Para se adequar à demanda, a Sanepar afirma que está aumentando a capacidade de uma adutora que liga uma estação de tratamento no Rio Iguaçu ao reservatório que atende o Guarituba. A tubulação passa pelo Ipê e é a única responsável pelo abastecimento do bairro. As obras exigem a interrupção do fornecimento, o que é sentido no bairro porque lá não há reservatório.
Como há um intervalo entre o restabelecimento do fornecimento e o instante em que todas os canos estão cheios, a água só volta depois das 22 h em alguns dias. Os moradores que não têm caixa dágua precisam varar a noite enchendo seus baldes se quiserem guardar alguma quantidade para o dia seguinte. Na semana passada, a Escola Estadual Ipê não deu conta e teve de mandar os alunos para casa.
Mas, se em Piraquara as pessoas buscam água no subsolo, os moradores do Ipê esperam um alívio dos céus e enchem baldes com a água das calhas, quando chove. Outros deixam o pudor de lado e transformam um canal extravasor do Rio Iguaçu em banheira. "O pessoal que mora perto do rio está tomando banho nele. É uma água escura, mal-cheirosa, dá só para tirar o suor", relata o carpinteiro Adolfo Gomes, 47 anos.
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