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Infraestrutura

Milhares enfrentam falta d’água

Cláudia Antônia Roberto, do  Jardim Itaqui, em São José dos Pinhais: alguns moradores deu até águas de cava para os filhos | Daniel Derevecki/ Gazeta do Povo
Cláudia Antônia Roberto, do Jardim Itaqui, em São José dos Pinhais: alguns moradores deu até águas de cava para os filhos (Foto: Daniel Derevecki/ Gazeta do Povo)

Mais de 16 mil moradores da região metropolitana de Curitiba estão com o fornecimento de água prejudicado pelo menos até junho devido a um aumento na demanda não previsto pela Sanepar. O consumo de água no Guarituba, o bairro de maior crescimento em Piraquara, em que vivem 55 mil pessoas – e alvo de R$ 91,7 milhões em investimentos do Plano de Aceleração do Cres­cimento (PAC) – subiu acima do esperado pela empresa e demandou obras emergenciais em uma adutora que também abastece o Ipê, bairro do município vizinho, São José dos Pinhais.

Até a conclusão das obras, com prazo de 90 dias, os 16 mil habitantes do Ipê e aproximadamente 50 famílias que vivem na Vila Nova, no Guarituba, vão enfrentar recorrente falta d’água – por motivos diferentes. As obras começaram no dia 12 de fevereiro, depois que os moradores da Vila Nova fizeram um protesto contra a falta de abastecimento e chegaram a atear fogo e um ônibus da rede metropolitana.

A falta d’água no local se deve ao crescimento populacional acima do esperado no Guarituba. O bairro viu uma escalada no número de ocupações desde 2007, quando foram anunciados os investimentos do PAC para a região. Entre as intervenções previstas está a regularização dos terrenos de 8 mil famílias e a realocação de outras 800, que vivem em áreas de risco, totalizando 35 mil pessoas. A perspectiva de ter seu próprio terreno tem atraído novas ocupações, apesar da regularização só incluir famílias que estão lá há pelo menos 5 anos.

Esta procura não foi prevista pela Sanepar e pelo município – responsável pelo planejamento territorial da área. A previsão era de que, em janeiro de 2010, o bairro consumisse 43 litros por segundo, mas o número real foi de 59. Como a tubulação está adaptada para um fluxo inferior, falta pressão para que a água chegue as torneiras de Vila Nova, que é uma das mais distantes do reservatório que abastece a região.

Água só antes das 11 horas e depois das 21h, quase todos os dias, contam os moradores. Durante o carnaval, as torneiras secaram na manhã de domingo e só voltaram a ter água no meio da tarde da Quarta-Feira de Cinzas. Em um dia a seca foi tamanha que nem as seis caixas d’água da Escola Municipal Heinrich de Souza deram conta e as aulas foram canceladas à tarde, relatam os funcionários.

Para enfrentar a situação, moradores contam com poços perfurados por conta própria. Eles tratam a água com cloro, distribuído pelo posto de saúde da região. Mas só essa operação não torna a água própria para o consumo. "Eu ainda fervo para poder cozinhar com ela. Mas beber não dá, temos de comprar. Só que nem todo mundo aqui tem condições de comprar", diz a dona de uma lanchonete Rosângela Talime, 33 anos. Quem tem como transportar vai buscar água no Jardim Holandês, que fica a apenas 200 metros e não tem problema de abastecimento.

Adutora

Para se adequar à demanda, a Sanepar afirma que está aumentando a capacidade de uma adutora que liga uma estação de tratamento no Rio Iguaçu ao reservatório que atende o Guarituba. A tubulação passa pelo Ipê e é a única responsável pelo abastecimento do bairro. As obras exigem a interrupção do fornecimento, o que é sentido no bairro porque lá não há reservatório.

Como há um intervalo entre o restabelecimento do fornecimento e o instante em que todas os canos estão cheios, a água só volta depois das 22 h em alguns dias. Os moradores que não têm caixa d’água precisam varar a noite enchendo seus baldes se quiserem guardar alguma quantidade para o dia seguinte. Na semana passada, a Escola Esta­dual Ipê não deu conta e teve de mandar os alunos para casa.

Mas, se em Piraquara as pessoas buscam água no subsolo, os moradores do Ipê esperam um alívio dos céus e enchem baldes com a água das calhas, quando chove. Outros deixam o pudor de lado e transformam um canal extravasor do Rio Iguaçu em banheira. "O pessoal que mora perto do rio está tomando banho nele. É uma água escura, mal-cheirosa, dá só para tirar o suor", relata o carpinteiro Adolfo Gomes, 47 anos.

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