A história se repete. Depois da soja transgênica, que começou a ser cultivada clandestinamente no Brasil quase uma década antes de sua liberação oficial, agora é o milho geneticamente modificado que entra ilegalmente no país. Provavelmente já tenha sido plantado no Paraná, a partir da atual safrinha, cuja semeadura já ultrapassou 60% da área prevista, de 971 mil hectares. Líder nacional de produção de milho, o estado deverá colher – somando-se a safra de verão e a safrinha – 10,7 milhões de toneladas do grão, 24% da produção total brasileira.

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Os núcleos da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab) nas principais regiões produtoras, principalmente no Sudoeste e no Oeste, já receberam várias denúncias de venda e plantio de milho transgênico, segundo apurou a Gazeta do Povo. A superintendência estadual do Ministério da Agricultura, a quem legalmente cabe a fiscalização, confirma oficialmente que apura apenas uma denúncia, de uma lavoura de milho transgênico na Região Central do estado. A primeira análise deu resultado negativo. Agora, a amostra de sementes recolhida naquela lavoura está sendo submetida a um novo exame de transgenia, mais preciso, chamado PCR.

Como a soja, as sementes de milho transgênico entram no Brasil contrabandeadas da Argentina, onde esse cultivo é legalizado há dez anos. O país vizinho tem uma legislação bastante liberal em relação ao assunto. A exemplo da soja, o problema surgiu primeiro no Rio Grande do Sul. No final de novembro, o deputado estadual Frei Sérgio Görgen (PT), denunciou, da tribuna da Assembléia, que contrabandistas estavam vendendo sementes de milho transgênicas aos agricultores gaúchos, principalmente na região da fronteira com a Argentina.

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Dias depois, integrantes da Via Campesina – movimento social que milita contra os transgênicos – invadiram o gabinete do delegado do Ministério no estado, Francisco Signor, e entregaram a ele um pacote de sementes. Testes comprovaram que esse milho tinha 93,5% de transgenia. Continha o gene Roundup Ready, desenvolvido pela multinacional Monsanto, que confere à planta resistência ao herbicida glifosato e também é usado na soja transgênica.

Diante da denúncia, o ministério desencadeou uma operação de fiscalização no Rio Grande do Sul. "Como a denúncia acabou na imprensa, quem tinha plantado se resguardou e não conseguimos provar o suposto plantio", afirma o chefe do Serviço de Fiscalização Agropecuária da superintendência estadual, Mauro Ruggiro. Foram coletadas 84 amostras em propriedades. Dessas, 43 foram concluídas. Apenas uma – coletada em uma casa agropecuária que vende milho para alimentação de animais – apontou transgenia e, mesmo assim, de apenas 0,1%. O produto teria sido comprado no Paraná. Há 41 amostras recolhidas em janeiro aguardando análise. Segundo Ruggiro, falta dinheiro para a realização desses exames.

A falta de recursos e infra-estrutura do Ministério da Agricultura também dificulta a fiscalização do milho transgênico no Paraná. "A fiscalização inexiste", resume o agrônomo Marcelo Silva, responsável pela fiscalização de transgênicos na Seab. Na semana passada, por exemplo, a secretaria doou ao ministério uma caixa de material para os testes mais simples de transgenia, com capacidade para cem análises. Desde outubro passado, o Paraná – que tem uma posição intransigente contra o cultivo de transgênicos – aguarda a resposta a um ofício enviado ao Ministério, em que propôs convênio para ajudar na fiscalização no estado.

A reportagem procurou ontem a assessoria de imprensa do Ministério da Agricultura, em Brasília. Segundo a assessoria, os dois técnicos do órgão especializados em transgênicos estavam participando de reuniões fechadas e não poderiam dar entrevista.

Serviço: denúncias podem ser feitas à Ouvidoria do Ministério da Agricultura, pelo telefone 0800 61 1995. Ligações gratuitas.

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