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Rio de Janeiro

Milícia já é principal força nas favelas

Entre os membros da Liga da Justiça presos ontem havia  dois policiais militares. Eles vão se juntar a outros milicianos que já estavam detidos | Ernesto Cariço/Ag. O Dia
Entre os membros da Liga da Justiça presos ontem havia dois policiais militares. Eles vão se juntar a outros milicianos que já estavam detidos (Foto: Ernesto Cariço/Ag. O Dia)

Rio de Janeiro - As milícias já dominam mais favelas no Rio do que qualquer das facções de traficantes de drogas. Essa é uma das conclusões do estudo do Núcleo de Pesquisa das Violências (Nupevi) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A coordenadora do levantamento, a antropóloga Alba Zaluar, aponta que a combinação do crescimento dos milicianos com a expansão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) deve levar ao recrudescimento dos confrontos, principalmente no subúrbio e na zona norte do Rio, para onde avançam os grupos paramilitares formados por bombeiros, policiais e agentes penitenciários.

"As milícias aumentaram quase quatro vezes o número de proporção das áreas de favelas dominadas. É um aumento absurdo relacionado com os fracassos das políticas de segurança pública. É de se esperar, com o avanço das milícias e a política do Estado de recuperar territórios dominados pelo tráfico, que ocorram mais confrontos armados", afirmou Alba.

A pesquisa aponta que 41,5% das 965 favelas existentes no ano passado estavam sob o domínio de milicianos até o fim de 2008. Em 2005, esses grupos dominavam apenas 11,2% das favelas na cidade e o Comando Vermelho, 50,1%. Hoje, o CV domina 40,8% das comunidades, seguido pela quadrilha Amigos dos Amigos, com 7,7%, e pelo Terceiro Co­­mando, com 7%. Apenas 3% das favelas são "neutras" ou não estão sob domínio do crime organizado. "Ainda há 27 favelas neutras. Eram cerca de 200 em maio de 2005; em maio deste ano, quando fizemos o levantamento, registramos 27. Quase a totalidade de favelas está dominada por traficantes e milicianos", constata a antropóloga.

Ação violenta

Segundo Alba, a partir de 2002 as milícias descobriram o lucro e hoje atuam de forma tão violenta quanto o tráfico. "Houve uma expansão dos negócios dos milicianos. Negócios altamente lucrativos. A população das favelas passou a ser um mercado disputado pelo oferecimento de gás, do canal pirata de TV, transporte alternativo e pela taxação de todas as transações imobiliárias", apontou Alba.

O estudo aponta que o conjunto de favelas do Complexo do Alemão é o local com maior probabilidade de morte violenta para menores de 15 anos, seguido pelo Complexo da Maré e pela Favela do Jacarezinho (todos na zona norte). Os bairros de Guaratiba e Santa Cruz (zona oeste) aparecem em sétimo, seguidos pela Favela da Rocinha, em São Conrado (zona sul), e a Cidade de Deus, na zona oeste. Já os índices mais baixos de violência estão na Barra da Tijuca (zona oeste) e pontos da zona sul da cidade. A antropóloga afirmou que o relatório, também chamado de Uma perspectiva multidisciplinar para a prevenção de violência entre jovens, foi encaminhado para o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e o prefeito da cidade, Eduardo Paes (PMDB).

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