Entre os membros da Liga da Justiça presos ontem havia dois policiais militares. Eles vão se juntar a outros milicianos que já estavam detidos| Foto: Ernesto Cariço/Ag. O Dia

Polícia prende 19 milicianos

Rio de Janeiro - A Polícia Civil do Rio realizou ontem uma operação contra a milícia conhecida como Liga da Justiça. De acordo com balanço parcial, foram presas 19 pessoas, sendo dois policiais militares e um ex-fuzileiro naval. Foram apreendidos armas, fardas, celulares e computadores e anotações dos criminosos. A Polícia Civil afirma que esta é a maior ofensiva contra a milícia, que atua na zona oeste da cidade.

Do total de mandados de prisão para a ação de hoje, 13 são contra pessoas que já estavam presas – entre elas três policiais militares. Os outros mandados são contra pessoas ligadas à milícia comandada pelo ex-PM Ricardo Teixeira da Cruz, o Batman. Um dos PMs presos ontem é Ivo Matos da Costa Junior, conhecido como Tomate e apontado pela polícia como o matador do grupo.

De acordo com a polícia, a ação de ontem é a terceira fase da operação Têmis, que teve início em maio deste ano, com a prisão de Batman. Ele estava foragido desde outubro do ano passado, quando escapou do presídio de Bangu pela porta da frente, acompanhado de dois homens vestidos de preto. Batman foi condenado a 9 anos e 8 meses de prisão no dia 19 de março deste ano pelos crimes de formação de quadrilha ou bando armado. Em outra fase da operação, em junho, 39 pessoas foram presas, entre elas 21 policiais militares, 3 policiais civis, 1 bombeiro e outros 14 acusados.

Folhapress

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Rio de Janeiro - As milícias já dominam mais favelas no Rio do que qualquer das facções de traficantes de drogas. Essa é uma das conclusões do estudo do Núcleo de Pesquisa das Violências (Nupevi) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A coordenadora do levantamento, a antropóloga Alba Zaluar, aponta que a combinação do crescimento dos milicianos com a expansão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) deve levar ao recrudescimento dos confrontos, principalmente no subúrbio e na zona norte do Rio, para onde avançam os grupos paramilitares formados por bombeiros, policiais e agentes penitenciários.

"As milícias aumentaram quase quatro vezes o número de proporção das áreas de favelas dominadas. É um aumento absurdo relacionado com os fracassos das políticas de segurança pública. É de se esperar, com o avanço das milícias e a política do Estado de recuperar territórios dominados pelo tráfico, que ocorram mais confrontos armados", afirmou Alba.

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A pesquisa aponta que 41,5% das 965 favelas existentes no ano passado estavam sob o domínio de milicianos até o fim de 2008. Em 2005, esses grupos dominavam apenas 11,2% das favelas na cidade e o Comando Vermelho, 50,1%. Hoje, o CV domina 40,8% das comunidades, seguido pela quadrilha Amigos dos Amigos, com 7,7%, e pelo Terceiro Co­­mando, com 7%. Apenas 3% das favelas são "neutras" ou não estão sob domínio do crime organizado. "Ainda há 27 favelas neutras. Eram cerca de 200 em maio de 2005; em maio deste ano, quando fizemos o levantamento, registramos 27. Quase a totalidade de favelas está dominada por traficantes e milicianos", constata a antropóloga.

Ação violenta

Segundo Alba, a partir de 2002 as milícias descobriram o lucro e hoje atuam de forma tão violenta quanto o tráfico. "Houve uma expansão dos negócios dos milicianos. Negócios altamente lucrativos. A população das favelas passou a ser um mercado disputado pelo oferecimento de gás, do canal pirata de TV, transporte alternativo e pela taxação de todas as transações imobiliárias", apontou Alba.

O estudo aponta que o conjunto de favelas do Complexo do Alemão é o local com maior probabilidade de morte violenta para menores de 15 anos, seguido pelo Complexo da Maré e pela Favela do Jacarezinho (todos na zona norte). Os bairros de Guaratiba e Santa Cruz (zona oeste) aparecem em sétimo, seguidos pela Favela da Rocinha, em São Conrado (zona sul), e a Cidade de Deus, na zona oeste. Já os índices mais baixos de violência estão na Barra da Tijuca (zona oeste) e pontos da zona sul da cidade. A antropóloga afirmou que o relatório, também chamado de Uma perspectiva multidisciplinar para a prevenção de violência entre jovens, foi encaminhado para o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e o prefeito da cidade, Eduardo Paes (PMDB).