"A única sogra que presta é a da minha mulher". A frase ironiza o sentimento de genros em relação às sogras. As piadas sobre o assunto são infinitas. Mas o relacionamento entre sogras e sogros e seus genros e noras virou assunto sério na cidade de Udine, no norte da Itália. A arquidiocese da região de Friuli organizou um curso chamado "Famílias em diálogo: como ser pais eficientes com filhos que vivem a experiência de casal". A proposta do curso financiado pela prefeitura é ensinar sogros e sogras a não interferir na vida dos filhos casados. Segundo pesquisas citadas pelos organizadores do curso, a intromissão dos pais no casamento dos filhos é uma das principais causas de divórcio na Itália. Os estudos evidenciam que ao menos três em cada dez casamentos entram em crise por causa dos sogros.
No Brasil, um estudo realizado em 1998, que ouviu noras no Rio Grande do Sul, chegou à conclusão de que o estereótipo social a respeito da figura da sogra é um fator importante que pode preestabelecer o padrão de relacionamento sogra-nora. Para a professora Claudia Menegatti, do curso de Psicologia da Universidade Positivo, o processo de envelhecimento faz diferença nos relacionamentos entre sogros, sogras, genros e noras. "O processo de envelhecimento pode ser vivido com sabedoria ou com muita angústia. Quando as fases anteriores foram bem vividas, podemos encontrar pessoas mais tranquilas e sábias com o passar do tempo", explica.
De acordo com ela, conflitos mal resolvidos, quando os filhos se casam, tendem a se agravar ao longo da vida. "Levando-se em conta que os sogros vão envelhecer, os desafios da idade, como saúde ou dificuldade com mudanças de gerações, aparecerão", diz. Fórmula pronta para lidar com o problema não existe. "A boa convivência depende da maturidade de todos, especialmente da capacidade de dialogar. Se o novo casal e seus pais iniciam um relacionamento franco e cuidadoso, poderão lidar melhor com o envelhecimento das gerações", considera. Ainda segundo ela, é preciso lembrar que diferentes gerações, naturalmente, apresentam diferentes formas de pensar, de compreender o mundo e suas realidades. "Devemos admitir que há diferenças de pensamento e respeitá-las. Quando negamos as diferenças, os conflitos aumentam, pois passamos a querer que o outro nos entenda a qualquer custo, e que o outro se comporte como nós nos comportaríamos em determinadas situações", pondera.
Mariema Pamplona Kalluf, 63 anos, tem uma filha e um filho casados e afirma que o fundamental para uma boa relação entre genro e nora e os sogros é o respeito. "O resto vem naturalmente", diz. A dona de casa acredita que é preciso deixar os filhos livres para que vivam suas vidas. E os seus conselhos só são dados se pedidos. "Se não pedirem conselho, deixo que eles resolvam a situação sozinhos. Afinal, às vezes, é com as cabeçadas que a gente aprende", sugere.
A atitude de Mariema tem dado certo, segundo a nora Maristela Venturin Kalluf, 42 anos. "Morei nove anos no mesmo prédio que ela e nunca senti nossa privacidade invadida. O nosso relacionamento é tão bom que muitas vezes peço conselhos a ela", conta. A sogra lembra ainda que ela não é a única responsável pelo equilíbrio da relação. "O respeito é mútuo. A Maristela é especial e sempre quis que a gente participasse de tudo. Até para escolher o nome das minhas netas ela pediu opinião. Isso me emocionou", comenta.