Quase dois anos após a regulamentação dos parklets em São Paulo, os bairros nobres da capital paulista ainda são os mais favorecidos com a criação do novos espaços públicos, que funcionam, na prática, como minipraças. O mapa oficial mostra que a região da Avenida Paulista e os bairros de Pinheiros, Vila Madalena, Jardins e Itaim-Bibi são os que concentram o maior número de equipamentos. Na contramão, bairros da periferia receberam só três unidades, pagas pela prefeitura.
Cada parklet deve ter 10 metros de largura e oferecer bancos, paraciclos, lixeiras, guarda-sol e floreiras. O objetivo é atrair o pedestre para um descanso rápido, servir de ponto de encontro, local para fazer um lanche ou até uma reunião de negócios. Com estruturas móveis e temporárias, ocupam duas vagas de estacionamento para carros, em uma extensão da calçada.
Desde abril de 2014, quando o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), regulamentou os parklets na cidade, a iniciativa privada viabilizou todos os 55 espaços existentes hoje na cidade, com exceção das três estruturas municipais instaladas em Itaquera, São Miguel Paulista e Sapopemba, bairros da periferia. De acordo com a secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, o número de “parklets privados” pode dobrar nos próximos meses, uma vez que 69 pedidos de instalação estão em processo de aprovação.
Custo
Unidades mais básicas custam, em média, R$ 30 mil e “funcionam” por até três anos - prazo que pode ser renovado em novo convênio. Já as mais elaboradas saem por até R$ 80 mil. Com patrocinadores de peso, como Ambev, Heineken, Brahma e Even, as minipraças existentes hoje ocupam, normalmente, a frente de restaurantes, bares e lojas de vias movimentadas, como a Rua dos Pinheiros, em Pinheiros, e a Alameda Lorena, nos Jardins.
Quem patrocina também é responsável pela manutenção do espaço e dos “extras” oferecidos. No parklet instalado na frente da padaria artesanal Pão, na Rua Bela Cintra, na região da Paulista, os usuários podem recarregar o celular em tomadas abastecidas com energia solar, levar para casa ervas cultivadas em uma horta montada no local e ainda dar água a seus cachorros.
“É um espaço confortável. A cidade precisa de mais alternativas como essa. A gente ainda explora muito mal os espaços públicos”, afirmou o publicitário Marcelo Zampini, de 38 anos, que usa diariamente o parklet. Na última quinta-feira (21), ele e o colega Daniel Kamagusuku, de 33 anos, tomavam café no local.
Para o gerente da padaria, Caio Reis, de 27 anos, a estrutura valorizou o comércio. “Foi muito bom para os clientes, que agora podem esperar sentados, mas a ordem aqui é não servir direto lá. Quem quer café tem de pedir no caixa”, afirma, referindo-se à regra que veta a privatização do espaço público.
Perto dali, na Rua Oscar Freire, o turista Lavoisier Monney, de 37 anos, elogiava os cinco parklets montados na via. “Faz 20 anos que me mudei daqui dos Jardins para Mato Grosso do Sul. Naquela época, não tinha nada parecido. É uma ideia muito boa essa. Os espaços são convidativos e democráticos. Estaria de pé esperando minha mulher sair da loja se não fossem esses bancos”, disse, ao lado de outras sete pessoas, entre idosos, adultos e crianças.
Formatos
Os parklets de São Paulo não têm projeto padronizado. Como eles contribuem para a qualificação da paisagem urbana e do percurso de quem caminha na cidade, o indicado, segundo o arquiteto Guilherme Ortenblad, é que tenham formas e usos distintos.
“É interessante que o mobiliário básico permita o conforto e o convívio dos usuários, usando bancos com encosto, por exemplo. É possível explorar outros layouts, como mesas coletivas, espreguiçadeiras, bebedouros, palcos para manifestações artísticas e até biblioteca colaborativa”, diz o criador do grupo Zoom Arquitetura, responsável pela criação de 45 dos 55 parklets já existentes na capital. A biblioteca funciona em uma das estruturas montadas na Rua Mateus Grou, em Pinheiros. Os usuários podem aproveitar a leitura no local ou mesmo levar livros e revistas para casa.
É o que faz a estagiária Isabella Mendonça, de 21 anos. “É muito bacana essa possibilidade de sair um pouco do trabalho, ver uma revista. A cidade toda deveria ter essa opção”, afirma.
A prefeitura de São Paulo afirma que pretende levar um parklet para cada uma das 32 subprefeituras. A instalação das estruturas está prevista para ser finalizada em setembro deste ano.