O Ministério da Saúde e entidades de saúde do Ceará fizeram um desagravo aos médicos estrangeiros na manhã desta terça-feira (27) e classificaram de "intolerância, racismo e xenofobia" o protesto feito na noite de ontem pelo Simec (Sindicato dos Médicos do Ceará) contra o programa Mais Médicos, do governo federal.
No protesto, os cubanos foram chamados de "escravos" pelos médicos brasileiros, que também pediam a exigência de prova para revalidação de seus diplomas.
O secretário de gestão estratégica e participativa do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro, afirmou que o protesto "foi um ato de truculência, violência, agressividade, xenofobia, preconceito e racismo".
"Fomos um país de origem colonial e vivemos durante 400 anos uma sociedade escravocrata. Entendemos que o preconceito e o racismo de alguns é porque ainda eles têm saudade da casa grande e da senzala", afirmou.
Ele exigiu uma retratação do sindicato dos médicos. "Médicos por serem trabalhadores do governo cubano, por serem negros, por estarem praticando atos de solidariedade internacional não podem ser chamados de escravos", disse.
O Conselho Estadual da Saúde divulgou uma nota, que teve apoio do representante do ministério, elogiando os cubanos e pedindo respeito aos estrangeiros. Monteiro afirmou que foi agredido por empurrões, tapas e um ovo, mas que os estrangeiros só foram agredidos verbalmente.
"Eles vieram ao Brasil como convidados, não se justifica nenhum ato como o que aconteceu ontem aqui", afirmou o secretário de Saúde do Ceará, Arruda Bastos.
O representante do Ministério da Saúde garantiu que as forças policiais brasileiras darão proteção aos médicos estrangeiros durante a estada no país.
O desagravo teve a participação de representantes do Conselho Municipal de Saúde de Fortaleza, Conselho Estadual de Saúde, prefeituras e da Câmara Municipal.
Também teve apoio do Comitê Cearense Memória, Verdade e Justiça. "O sindicato transformou o juramento de Hipócrates no juramento da hipocrisia", afirmou Silvio Mota, coordenador do comitê.
>>> Confira a íntegra da nota:
"NOTA DE DESAGRAVO AOS MÉDICOS ESTRANGEIROS
Na última segunda-feira, 26 de agosto de 2013, na Escola de Saúde Pública do Ceará, assistimos, lamentavelmente, a uma demonstração de intolerância e xenofobia do Sindicato dos Médicos do Ceará e um grupo de 40 jovens médicos para com os médicos cubanos e outros estrangeiros, que vieram ao Brasil por espírito solidário e respondendo a um chamamento do governo brasileiro. Gritavam, a plenos pulmões, nas portas da ESP, num verdadeiro "corredor polonês", grosserias injustas e xenofóbicas: "escravos, escravos", "incompetentes, incompetentes", "voltem pra senzala" e outros impropérios.
Senhor presidente, para onde você caminha e leva os jovens médicos? E agora, José? José, para onde? Para a agressão física? "Escravos", José? Um povo valoroso que resiste a um boicote econômico há 54 anos da maior potência econômica do mundo, os Estados Unidos, e não se entrega, e não se curva? Um povo que jamais agrediu outros povos e, sim, oferece sempre a sua solidariedade e os seus médicos em situações de catástrofe, como no Haiti e em 69 países que pedem sua ajuda, sempre intermediada pela OMS? Cuba não tem riqueza, José. A sua riqueza é seu povo, são seus médicos, a sua solidariedade. Incompetentes, José? Os indicadores de saúde de Cuba se pareciam com os dos países mais desenvolvidos, a mortalidade infantil é menor que nos Estados Unidos e há 30 anos desenvolvem um Programa Saúde da Família que é exemplo para o mundo inteiro.
Fazemos um apelo a todas as entidades médicas para que respeitem os médicos cubanos e outros estrangeiros, que os acolham como merecem. Pratiquem a solidariedade latino-americana, como nos ensina José Martí, líder da unidade íbero-americana: "Cultivo uma rosa branca, em julho como em janeiro, para o amigo verdadeiro que estende sua mão franca. E para o mau que me arranca o coração com que vivo, cardo ou urtiga não cultivo: cultivo uma rosa branca".
Sejam bem-vindos médicos cubanos e todos os estrangeiros que aqui vieram prestar sua solidariedade e cuidar do nosso povo."
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