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Um dos homens que denunciam a suposta tortura chegou ao IML de Curitiba com sinais de agressão pelo corpo, inclusive na cabeça. O próprio Gaeco irá investigar a conduta dos policiais | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Um dos homens que denunciam a suposta tortura chegou ao IML de Curitiba com sinais de agressão pelo corpo, inclusive na cabeça. O próprio Gaeco irá investigar a conduta dos policiais| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Gaeco pode investigar o próprio Gaeco

As atribuições do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) são combater o crime organizado e fazer o controle externo da atividade policial, ou seja, investigar a conduta de policiais. No caso da denúncia de tortura feita por dois homens e um adolescente durante a abordagem em uma chácara em Piraquara, existe a possibilidade de os promotores do Gaeco investigarem os policiais subordinados a eles, que trabalham na instituição cedidos pela Polícia Militar e pela Polícia Civil.

O promotor da cidade, José Carlos Faria de Castro Vellozo, disse que assim que o Inquérito Policial aberto na Delegacia de Piraquara sobre a denúncia de agressão por parte dos policiais fique pronto, o Gaeco tem atribuição de investigar. Por isso, ele deve encaminhar o caso para o grupo especial assim que receber os laudos dos exames de corpo de delito das três supostas vítimas de tortura.

Inicialmente, ele diz não ver problema na situação dos promotores investigarem os policiais do Gaeco que possam ter participação no episódio. "As instituições não se misturam. Não existe nenhuma suspeição em relação aos promotores", declarou Vellozo.

O procurador de Justiça e coordenador do Gaeco no Paraná, Leonir Batisti, confirmou que a instituição já está levantando informações sobre a operação para identificar todos os policiais que participaram. Ele prometeu ser rigoroso na apuração do caso e na eventual punição caso fiquem comprovadas as agressões. "Se forem policiais do Gaeco, vão ser afastados. Se forem do Gaeco de Santa Catarina, vamos encaminhar a denúncia para lá. E se forem os policiais do COE, vamos representar contra eles".

Batisti disse ser a primeira vez, em quatro anos no Gaeco, que enfrenta a acusação de agressão física por parte da equipe do grupo especial do Ministério Público.

  • Dois homens, detidos pela polícia, estiveram no último dia 19- acompanhados de seu advogado de defesa, Cleverson Greboggi Cordeiro (de frente, na foto) - para fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal, em Curitiba. Eles acusam policiais do Gaeco de tortura

O Ministério Público do Paraná abriu investigação, nesta quinta-feira (19), sobre mais um caso de tortura policial no estado. Dois homens e um adolescente acusaram policiais do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Paraná e de Santa Catarina de tortura. A suspeita também envolve integrantes da Comandos e Operações Especiais (COE), grupo de elite da Polícia Militar (PM) do Paraná.

Os três teriam sido agredidos na manhã de quarta-feira (18) em uma chácara em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. As agressões teriam continuado na sede do Gaeco, no bairro Ahú, na capital.

Uma equipe policial do Gaeco catarinense solicitou auxílio da instituição paranaense, ligada ao Ministério Público (MP), para cumprir um mandado de prisão temporária contra um homem identificado pelas inicias: R.V. Ele estaria em uma propriedade rural na Estrada das Pedreiras, em Piraquara. Os policiais de Santa Catarina disseram que o suspeito era violento. Por isso, foi requisitada ajuda do COE.

A abordagem ao local aconteceu por volta das 6 horas da manhã de quarta. Nove pessoas estavam na chácara: além dos três detidos, outras seis pessoas, sendo uma criança, que teriam presenciado as cenas de tortura.

A denúncia veio a público após o advogado dos detidos, Cleverson Greboggi Cordeiro, designado pela seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), ter requisitado providências ao promotor de Piraquara José Carlos Faria de Castro Vellozo. Ele acionou a delegacia da cidade, onde foi aberta uma investigação e, então, solicitados exames de corpo de delito, realizados no Instituto Médico-Legal (IML) no início da noite desta quinta.

O procurador de Justiça e coordenador do Gaeco no Paraná, Leonir Batisti, afirmou que uma investigação já foi aberta para descobrir se houve a agressão e quem são os policiais envolvidos. "Nós estamos levantando quem são os policiais que foram à chácara, quem esteve com o menor, quem esteve com eles aqui no Gaeco. O adolescente, que disse ter sido agredido, não identificou quem pode ter sido (o autor), mas nós vamos identificar".

A assessoria de imprensa da Polícia Militar foi procurada na noite desta quinta, mas ninguém foi localizado.

Versão das vítimas

Os dois adultos que alegam terem sofrido torturas estiveram na noite desta quinta-feira no IML para fazer os exames de corpo de delito. Ainda assustados, eles relataram os momentos de agressão e pressão psicológica.

R.V., 27 anos, que é de Blumenau (SC) e era procurado pela polícia, conta que eles ouviram barulhos vindos da entrada da chácara antes do amanhecer. Com a confusão, o menor de idade, pensando se tratar de um assalto, teria pegado uma arma. Nesse momento, as forças policiais, segundo a vítima, começaram a tortura. "Eles me bateram com uma ripa na barriga e ficavam me espancando na cabeça", conta R.V.

A outra vítima, J.S., 26, afirma que os policiais o deixaram despido na frente da família. A vítima alega que foi forçada a dizer que era o responsável pela arma que estava em posse do menor. "Eles ameaçavam bater na minha esposa e na minha mãe se eu não assumisse". J.S. alega que a arma não lhe pertence, e sim ao adolescente, e que eles mantêm essa arma na propriedade rural para se defender.

Os nomes não foram divulgados a pedido da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR.

Eles ainda contam que foram torturados na sede do Gaeco, onde ficaram presos em um banheiro, sem água e comida. A situação teria se prolongado até as 17 horas de quarta-feira, quando eles foram transferidos para o Centro de Triagem II, em Piraquara. O menor foi devolvido para a família.

Cleverson Greboggi Cordeiro, advogado das vítimas, diz que a OAB-PR recebeu a denúncia da família, que não sabia sobre o paradeiro dos rapazes. Cordeiro também questionou o fato de os policiais não terem um mandado de busca e apreensão.

Na opinião da vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR, Isabel Kugler Mendes, casos como esse não podem passar despercebidos. "Essas agressões estão se tornando rotineiras. Não importa aqui o que a vítima deve ou não à Justiça, mas a forma como foram tratados".

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