O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que vai ouvir opiniões de acadêmicos e educadores sobre o parecer do Conselho Nacional da Educação, da última semana, que caracteriza como racista o conteúdo da obra Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, um dos maiores escritores de literatura infantil do país.
Em deliberação, o conselho afirmou que o livro está em desacordo com a legislação do país e que deveria deixar de ser dado aos estudantes ou que o repasse seja seguido de explicações sobre seu conteúdo. Para entrar em vigor, o parecer precisa ser homologado pelo ministro. "Não vou decidir no calor do momento", afirmou ele, ressaltando que é preciso pensar melhor sobre o tema.
A polêmica começou após Antonio da Costa Neto, servidor da Secretaria do Estado de Educação do Distrito Federal, ter encaminhado uma denúncia contra o uso do livro à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. A pasta encaminhou a crítica ao conselho, que deu parecer contra o uso da obra, numa votação unânime.
Para o denunciante, a publicação tem expressões de prática de racismo cultural, principalmente quando menciona Tia Nastácia, a empregada doméstica negra da história. Animais como urubu e macaco são citados no enredo e, para Costa Neto, reforçariam ainda mais os estereótipos relacionados ao negro.
O presidente da Afrobras, José Vicente, acha que "a literatura, qualquer que seja ela, numa escola, tem de ter finalidade didática". Para ele, se há menção a racismo, mesmo num clássico, seu conteúdo deve ser revisto.
Outras repercussões
Já existiram outras polêmicas envolvendo livros didáticos. Em 2008, um material trazia obras do pintor Jean-Baptiste Debret sobre a escravidão no Brasil sem contextualização. As figuras mostravam negros em situações de passividade.
No ano seguinte, houve a reação contra a distribuição de um material de contos com um texto erótico do escritor Ignácio de Loyola Brandão. Em Santa Catarina, o livro Aventuras Provisórias, de Cristóvão Tezza, teve sua leitura censurada por conter sexo e palavrões.
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