Ao adiantar o voto a favor da descriminalização da maconha, a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Rosa Weber, afirmou, nesta quinta-feira (24), que o uso de drogas para consumo próprio não causará problemas à saúde pública, divergindo de entidades de saúde que tratam sobre o tema.
“A mera conduta de trazer consigo entorpecentes para o consumo próprio, ao contrário do sustentado, não tem como bem jurídico tutelado a saúde pública, pois ela – a saúde pública – só estaria em risco potencial se partíssemos da primícia, ao meu juízo não aceitável, de que todo usuário é um traficante em potencial e que cometerá delitos para satisfação de seu uso”, afirmou Weber ao ler partes do parecer.
O ministro Alexandre de Moraes cita em seu voto, também a favor da descriminalização, que o “porte de drogas para uso próprio não afronta a chamada ‘saúde pública’ (objeto jurídico do delito de tráfico de drogas), mas apenas, e quando muito, a saúde pessoal do próprio usuário”.
Como a Gazeta do Povo já mostrou, entidades da área de saúde, como Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), são contrárias à descriminalização da droga justamente por prever riscos consideráveis não apenas aos usuários, mas também à esfera pública.
Segundo nota publicada pelas instituições, a maconha “causa dependência gravíssima, com importantíssimos danos físicos e mentais, inclusive precipitando quadros psicóticos (alguns não reversíveis) ou agravando sintomas e a evolução de padecentes de comorbidades mentais de qualquer natureza, dificultando seu tratamento, levando a prejuízos para toda a vida”.
“Além disso, o consumo de drogas também contribui para a maior incidência de acidentes de trânsito, homicídios e suicídios, com redução no mundo e aumento no brasil. Considera-se, ainda, que a descriminalização, ao aumentar o consumo, também amplia o poder do tráfico, contribuindo para maiores índices de violência.”
CFM e ABP também afirmam que existem outras estratégias com eficiência comprovada que poderiam ser adotadas. “Contra os riscos embutidos nesse debate, o Estado brasileiro deveria investir em estratégias efetivas para o combate ao tráfico de drogas, fortalecer ações preventivas e educativas, especialmente junto à população social e economicamente mais vulnerável, e ampliar e qualificar a rede de assistência médica e psicossocial aos usuários.”
Hoje, o indivíduo que é flagrado fazendo uso próprio de drogas, apesar de não cumprir pena, perde o réu primário e recebe advertências sobre os efeitos das drogas, além de ser encaminhado para prestação de serviços à comunidade e para comparecimento a programas educativos. Se o STF descriminalizar essa conduta, essas medidas serão suspensas.
No campo internacional, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) também ressalta os problemas gerados pelo uso de drogas, especialmente relacionado a saúde mental, com consequências para a coletividade.
“As consequências do uso de drogas podem ter efeitos cascata que fere famílias, potencialmente através de gerações, bem como amigos e colegas. O uso de drogas pode colocar em risco saúde e saúde mental e é especialmente prejudicial na adolescência precoce. Os mercados de drogas ilícitas estão ligados à violência e outras formas de crime. As drogas podem alimentar e prolongar o conflito, e os efeitos desestabilizadores também, pois os custos sociais e econômicos impedem o desenvolvimento”, diz o Relatório Mundial sobre Drogas de 2022.
Outro ponto considerado, dessa vez pelo Conselho Internacional de Controle de Entorpecentes, é que, após a legalização da Cannabis, há uma probabilidade de aumento dos registros de uso, principalmente entre os jovens.
“Nos Estados Unidos, foi demonstrado que adolescentes e jovens adultos consomem significativamente mais maconha em estados federais onde a maconha foi legalizada em comparação com outros estados onde o uso recreativo permanece ilegal. Também há evidências de que a disponibilidade geral de produtos de Cannabis legalizados diminui a percepção de risco e das consequências negativas envolvidas em seu uso”, apontou um documento publicado em março pelo órgão internacional, como citado pela Gazeta do Povo.
Até o momento, seis ministros se manifestaram. O placar é de 5 x 1 a favor da legalização do porte de maconha. Na tarte desta quinta (24), o ministro André Mendonça pediu vistas do processo, suspendendo temporariamente o julgamento.
- Voto de Zanin contra descriminalização das drogas enfurece militantes da esquerda
- Ministros insistem na competência do STF para descriminalizar o porte de drogas
- Maconha para uso medicinal é ilusão e ingenuidade, diz psiquiatra
- Comunidades terapêuticas alertam STF sobre riscos da descriminalização da maconha
STF decide sobre atuação da polícia de São Paulo e interfere na gestão de Tarcísio
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora