Houve quem chiou – e não foram poucos – quando a prefeitura reduziu a 30 quilômetros por hora a velocidade dos carros em algumas avenidas de Curitiba e ampliou as ciclovias. Não é a primeira nem será a última vez que uma cidade se vê obrigada a restringir a circulação de veículos particulares. As vantagens não tardam, a exemplo de Buenos Aires, capital da Argentina. Com três milhões de habitantes e outros três milhões que chegando todos os dias para estudar ou trabalhar, a capital argentina começou a revolucionar há cinco anos a maneira de se locomover na cidade.
As mudanças começaram em 2010 com o Plano de Mobilidade Sustentável, levado a cabo pelo prefeito Maurício Macri. O plano tem dois eixos: 1) as políticas de transporte devem humanizar a cidade, ou seja, o homem deve estar no centro dessas políticas; 2) a cidade deve privilegiar a mobilidade dos pedestres, os meios não motorizados e o transporte público em vez dos veículos particulares. Os seis milhões de argentinos que circulam por Buenos Aires todos os dias dividem espaço com dois milhões de carros. A tensão é inevitável nas horas de pico.
“Nosso objetivo não é uma guerra para erradicar o carro, mas adaptá-lo ao melhor uso para a cidade”, diz a diretora de Transporte da Secretaria de Transporte e Trânsito de Buenos Aires, Guadalupe Rodríguez Marcaida. O caso de sucesso da capital argentina será apresentado nesta sexta-feira (10) por Guadalupe em Curitiba, no segundo dia do seminário internacional “Uso do automóvel na cidade”, promovido pela prefeitura em parceria com a Universidade Positivo, o GRPCom, a Associação Comercial do Paraná e a Renault do Brasil.
Nem alguns dos maiores símbolos da Argentina escaparam à necessidade de mudanças. A Avenida 9 de Julho, famosa por abrigar o Obelisco de Buenos Aires, já não é mais ocupada apenas por carros. A prefeitura separou as pistas e incluiu o corredor de ônibus rápido (BRT), com 17 estações ao longo da avenida. São os chamados metrobus, uma alternativa ao metrô, que fecha à noite. Pelo menos 200 mil pessoas que usam esses ônibus tiveram uma redução de meia hora no tempo de deslocamento na comparação com o sistema anterior.
Ruas antes disputadas por carros e transeuntes agora são vias apenas para pedestres. Em outras, não existem mais vagas de estacionamento e a velocidade máxima para os carros é de 10 quilômetros por hora. Outro estímulo vem sobre duas rodas. A rede de ciclovias protegidas foi iniciada em 2009 e hoje tem 135 quilômetros, podendo chegar a 155 quilômetros neste ano. Ela foi desenhada para integrar pontos estratégicos da cidade, como centros de transbordo, universidade, escolas e hospitais, permitindo conexão com outros meios de transporte.
Não se trata de uma ciclovia compartilhada com carros, motos e ônibus. A rede de ciclovia protegida é um corredor exclusivo para bicicletas, resguardado do resto do trânsito. A ciclovia geralmente está na margem esquerda da rua e tem mão dupla, e ainda conta com sinalização vertical, horizontal e tátil.
Segundo a prefeitura, algo em torno de 3% das bicicletas usadas na cidade são compartilhadas por meio do sistema Ecobici. O serviço é gratuito e funciona todos os dias. A cidade tem perto de 200 estações para cadastro do usuário e entrega das bicicletas.