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Casa em Araucária onde vivia o menino Miguel Gutbier, que morreu na quinta-feira, à espera de um transplante de coração: falta de condições adequadas para receber um paciente transplantado | Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Casa em Araucária onde vivia o menino Miguel Gutbier, que morreu na quinta-feira, à espera de um transplante de coração: falta de condições adequadas para receber um paciente transplantado| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Cuidados básicos

Confira as orientações para a boa recuperação do paciente:

Antes do transplante

X Abusos devem ser evitados. Quanto mais o organismo estiver equilibrado, maiores as chances de a cirurgia ser bem sucedida.

V Saúde dental é pré-condição para evitar complicações com a imunossupressão.

V Conversar com médicos e psicólogos para tirar dúvidas contribui para preparar família e paciente. É importante também conhecer os riscos.

Depois do transplante

V Nos meses seguintes, o paciente deve ficar em ambiente limpo, coberto, bem ventilado, livre de umidade, com água encanada e acesso à rede de esgoto.

V Medicações devem ser bem armazenadas e tomadas nos horários corretos.

X Animais domésticos como cães e gatos não podem ficar dentro de casa. O paciente deve evitar o contato com eles nos primeiros meses do pós-operatório.

V A família deve oferecer ajuda no banho, troca de curativos ou preparo dos alimentos. Também é bom ter alguém disponível para levar o paciente às consultas e buscar os remédios.

X Achar que está a salvo após a cirurgia é um erro. O pós-operatório requer cuidados e disciplina para evitar infecções.

Fonte: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos e especialistas consultados.

A espera por um órgão ou tecido faz parte da realidade de quase 70 mil brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde. No Paraná, 4,6 mil pessoas estão na fila. Mas a espera está longe de ser a única dificuldade enfrentada por esses pacientes. Para ser um receptor em potencial é preciso que a pessoa prove que tem condições psicológicas de passar pela cirurgia e de se cuidar depois dela. Além disso, é necessário local adequado para a recuperação. Uma casa limpa e arejada, com saneamento básico, eletrodomésticos como geladeira e fogão e ausência de animais e insetos são pré-requisitos para recepcionar uma pessoa transplantada.

Antes de entrar na fila por um órgão, o paciente passa pelas avaliações médicas e também é analisado por outros profissionais, como o psicólogo e o assistente social. Segundo o médico cirurgião do Hospital de Clínicas, Julio César Coelho, o objetivo das avaliações é verificar se o tratamento vai ser seguido, se o doente vai tomar os remédios necessários, ter auxílio durante a recuperação e condições de moradia adequadas. Tanto cuidado se faz necessário porque após o transplante o paciente passa a tomar medicamentos imunossupressores. Esses remédios deixam o sistema imunológico fraco para tentar impedir que o novo órgão seja rejeitado pelo corpo, com isso o risco de infecções e complicações aumentam.

"O período seguinte ao transplante é muito delicado", alerta Coelho. "Quando são tomados os cuidados devidos já aparecem infecções. Se as precauções não são tomadas, acontece a perda do órgão e até a morte."

Durante a semana passada, ganhou repercussão o caso do menino de Araucária Miguel Gutbier, que morreu aguardando um transplante de coração. Além de esperar por um doador, a família dele também enfrentava condições miseráveis na moradia. Se o transplante tivesse sido feito, Miguel não poderia voltar para casa, que não tem água encanada ou esgotamento sanitário. Além de Miguel, outros 54 milhões de pessoas vivem nessas condições no Brasil, segundo estudo realizado no ano passado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 2007, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A médica Fabiana Loss de Carvalho Contieri, que coordena a unidade de transplante renal do Hospital Evangélico, afirma que a maioria dos pacientes atendida no hospital não tem como voltar para casa após o transplante. "Alguns não têm dinheiro nem para se alimentar e já tivemos pessoas que nem ao menos conheciam um sabonete", conta.

Apoio

Em situações de pacientes que vivem na pobreza ou são de fora da região metropolitana de Curitiba e e não têm como se manter na cidade, os hospitais costumam buscar apoio para que o atendimento seja feito. No Evangélico, há hospedagem em uma casa de apoio para o acompanhante do paciente.

"Quando vemos que ele não pode voltar para casa acionamos o Serviço Social da prefeitura do município de origem", conta Fabiana. "Geralmente as prefeituras colaboram, como a de Guarapuava, que já tem uma pensão reservada e também paga a locomoção dos pacientes em Curitiba." Após o transplante, ainda é preciso ficar na cidade de três a 12 meses para as consultas e exames semanais.

De acordo com o médico Sérgio Augusto Veiga Lopes, coordenador do serviço de transplantes da Santa Casa, um dos problemas mais comuns é o paciente querer parar de tomar os remédios por conta própria. "Ele pode achar que já melhorou, ter entrado em depressão ou não entender a importância de se continuar com o tratamento", diz.

Segundo o médico, as condições socioeconômicas desfavoráveis são realmente um desafio, mas os problemas comportamentais do paciente podem ser ainda mais graves. "O médico divide a responsabilidade do transplante com o paciente", explica. "Depois da cirurgia é a vez do paciente fazer sua parte. Cuidar do asseio pessoal, da alimentação e diminuir ao máximo os riscos de uma infecção (confira no quadro o certo e o errado antes e depois do transplante)."

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